"Holocausto Brasileiro" resgata atrocidades em hospício de Barbacena

Elemara Duarte - Hoje em Dia
17/06/2013 às 07:43.
Atualizado em 20/11/2021 às 19:11

O Brasil também teve o seu holocausto. No entanto, esse passado, nada saudoso, não aconteceu entre judeus e alemães, mas com pessoas que eram consideradas – com diagnóstico confiável ou não – portadoras de sofrimento mental, nome que, na época não era tão resguardado como hoje. Tudo aconteceu em Minas, no Hospital Colônia de Barbacena.

Para resgatar essa história, o livro "Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil Mortos no Maior Hospício do Brasil" (Geração Editorial) será lançado na próxima quinta-feira (20), às 19 horas, na Livraria Saraiva, do Independência Shopping, em Juiz de Fora.

O livro-reportagem da jornalista Daniela Arbex veio depois de uma série de reportagens no jornal Tribuna de Minas sobre o tema. "Por meio das fotos do local, de 1961, do fotógrafo Luiz Alfredo, da revista 'O Cruzeiro' fiquei impactada em como minha geração não conhecia aquela história", diz Daniela.

A matéria foi sobre os sobreviventes da Colônia, 50 anos depois, desde a publicação daquelas fotos. "Achei 17 sobreviventes e também aqueles que nasceram lá. Dois são adultos", lembra.

A maioria dos mortos havia sido internada à força. Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, meninas grávidas violentadas por seus patrões, gente que se rebelava ou que se tornara incômoda para alguém com mais poder. Pelo menos 33 eram crianças.

Psiquiatras e demais profissionais da instituição, que ainda funciona, mas com moldes mais humanizados, também foram entrevistados. "Alguns denunciaram. Outros pensavam: 'Mas o que eu podia fazer?'".

Documentário de Helvécio Ratton deu grito de alerta, em 1979

Hoje, a "Colônia" mudou de nome e se chama Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB). Depois das fotos da revista "O Cruzeiro", um dos gritos de alerta para as atrocidades que aconteciam no local veio em 1979, com o documentário "Em Nome da Razão", do cineasta Helvécio Ratton.
 
"Entre 1961 e 1979, por causa daquela reportagem, a Colônia foi blindada", afirma Daniela. Ela explica que em 1961, era um outro momento histórico e que o "Brasil parou" com a matéria. Porém, a partir de 1979, já com a discussão sobre o modelo mais humanizado de tratamento das pessoas portadoras de sofrimento mental, o respaldo foi maior por parte da comunidade da área de saúde.

Do interior ao mundo

Daniela Arbex, de 40 anos, tem no currículo mais de 20 prêmios nacionais e internacionais, entre eles, três Esso, sendo o mais recente recebido em 2012 com a série "Holocausto brasileiro", e dois Vladimir Herzog (menção honrosa). Em 2002, foi premiada na Europa com o Natali Prize. Todas as condecorações foram conquistadas como repórter no jornal de Juiz de Fora.


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