Imagem em bronze de Santa Dulce dos Pobres, na Bahia, é obra de artista mineira

Juliana Baeta
22/10/2019 às 18:26.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:21
 (Divulgação )

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A mulher Maria Rita, que pegou emprestado o nome da mãe para se tornar Irmã Dulce, era bem humorada, apaixonada por futebol, ligada à causa operária e extremamente empática com os menos favorecidos. Este último traço de sua personalidade, destacado em seu nome de santa, foi o que tocou a artista plástica mineira Vânia Braga, de 54 anos, responsável por imortalizar a baiana recém santificada em uma imagem esculpida em bronze.

A escultura foi instalada na praça Irmã Dulce, em Candeias, na Bahia, durante a reinauguração do espaço no último sábado (19), e foi recebida como um presente para a população. Em tamanho real, a santa de bronze abraça com as mãos duas crianças. "Mas na verdade ela abraçava todas as pessoas, adultos e crianças, o mundo", comenta a artista autora da obra. DivulgaçãoImagem, que mede cerca de 1,70m e pesa 250 quilos, foi recebida como um presente para a população  

Em meio a outros artistas brasileiros, Vânia foi escolhida pela prefeitura de Candeias, na Bahia, para retratar a Santa Dulce dos Pobres. A artista, conhecida por monumentos como a escultura "Maternidade", instalada no Aeroporto Internacional de Confins, a obra "Imigrante Libanês", em Teófilo Otoni, o projeto "Eterna Modernidade", na Lagoa da Pampulha, e a imagem de Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, cidade natal da artista e do médium, se diz honrada com a escolha.

"Eles [responsáveis pela escolha do artista] fizeram uma pesquisa antes de decidirem quem iria retratar a santa e se emocionaram muito com a minha imagem de Chico Xavier. Embora sejam religiões diferentes, tanto ele como Irmã Dulce pregaram a doação, a bondade, a caridade. Retratar a Santa Dulce me deu um calor na alma, uma inspiração. Para fazer a imagem eu estudei muito sobre a vida dela e o traço mais marcante, para mim, é este olhar de candura, a bondade que ela transparecia, a doação", explica. 

Por isso o trabalho de esculpir, especialmente, os olhos da Irmã Dulce foi extremamente cuidadoso e delicado. A obra demorou 60 dias para ficar pronta, tendo início antes mesmo da santificação, que aconteceu no dia 13 de outubro. Em tamanho real, a imagem em bronze tem cerca de 1.70m e pesa 250 quilos. 

Para Vânia, a passagem mais marcante da trajetória de Irmã Dulce foi quando ela transformou um galinheiro em hospital. O episódio aconteceu na década de 40, quando ela ocupou o espaço destinado à criação de galinhas ao lado do Convento Santo Antônio de Salvador, para acolher 70 doentes. O espaço existe até hoje, sendo, atualmente, o maior hospital público da Bahia, servindo, portanto, aos mesmos ideias que Irmã Dulce pregava em vida. 

Encontro

A conexão da artista mineira com a santa baiana surgiu de forma cronometrada, uma coincidência quase sobrenatural. No ano passado, Vânia teve um aneurisma cerebral e passou dias no hospital, entre a vida e a morte. 

"Quase faleci no ano passado, mas sobrevivi sem sequelas. No dia em que estava completando um ano que eu tive o aneurisma, eu recebi a ligação da Prefeitura de Candeias, me convidando a esculpir Irmã Dulce. Eu senti algo inexplicável, e me veio à cabeça, naquela noite, uma frase dela que diz 'As pessoas que espalham amor, não têm tempo nem disposição para jogar pedras'", lembra. 

Com a confecção da obra Chico Xavier e, agora, a escultura de Santa Dulce dos Pobres, o sincretismo religioso acaba encontrando identidade nas mãos da artista mineira. Ela, confessa, entretanto, que não tende nem para um lado, nem para outro. 

De família católica e criada em Pedro Leopoldo, terra natal do médium Chico Xavier, Vânia não se reconhece em nenhuma religião. "Acho que eu tenho uma religião própria. Acredito que a fé, na verdade, tem que estar no coração de cada um, assim como a bondade e a doação. Como estiveram em Chico Xavier e em Irmã Dulce. Este momento em que esculpi a imagem da santa é especial para mim e de reflexão porque o Brasil e o mundo estão precisando muito de pessoas como eles. Precisamos de mais 'irmãs Dulces' ", conclui. 

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