Indicado ao Oscar, filme canadense leva luto para dentro de sala de aula

Cesar Soto - Folhapress
09/05/2013 às 14:44.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:32

SÃO PAULO - Comunicação é o tema central em "O Que Traz Boas Novas", que estreia na sexta-feira (10) em São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Florianópolis. "O filme é sobre como o poder das palavras pode ajudar no processo de luto", conta o diretor franco-canadense Philippe Falardeau, 45.

A obra, que concorreu ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira em 2012, conta a história de Bachir Lazhar, imigrante argelino que é contratado para substituir uma professora do ensino fundamental que havia cometido suicídio.

"Há dois lados em luto que se espelham entre si: Lazhar, que deixou a família em circunstâncias dramáticas, e as crianças, que perderam a professora", diz Falardeau.

Segundo o diretor, a única saída para ambos os lados é falar a respeito do tema. "Eu queria mostrar como apenas palavras podem nos ajudar aceitar e como a educação é mais do que aprender a ler e escrever, é também aprender a se tornar um ser humano".

O roteiro, escrito por Falardeau, se baseia em "Bachir Lazhar", um monólogo escrito por Evelyne de la Chenelière. A autora, a quem ajudava em outro projeto, o chamou para assistir à peça. "Conforme eu via, ia imaginando a história no cinema. Soube imediatamente que queria adaptá-la", conta.

Argelino

O diretor queria um argelino de verdade para o papel principal, então foi à França para uma série de testes com atores. "Chenelière tinha assistido um show de (Mohamed) Fellag e me falou dele. Fui ao YouTube para vê-lo, e ele era muito diferente do que eu queria", diz Falardeau.

Mesmo assim, marcou uma reunião com o ator, que tem diversas apresentações de "stand-up" no site. "Eu gostei de sua aparência e postura, mesmo sendo mais de teatro. No final, tenho certeza de que fiz a escolha certa", afirma.

Para o diretor, morte se tornou um tabu na América do Norte e na Europa. "Não falamos sobre a morte, principalmente sobre o suicídio. Queria mostrar como nos tornamos puritanos na forma como nos comportamos a esse respeito. Tudo é sigiloso e tem protocolo", conta.

O protagonista, então, aparece como um agente desestabilizador. "Ele vem de uma cultura que está familiarizada com violência, morte e tem uma postura diferente em relação a essas coisas", diz Falardeau.

Em sua pesquisa para o filme, o diretor ficou surpreso ao ver como as escolas estão repletas de regras e regulamentos. "Me fez querer falar sobre essa questão, da relação entre professores e alunos. As pessoas estão paranóicas com isso", afirma o diretor.

Assim, a cena final é o maior ato de rebeldia do filme, repleto de choques culturais entre o argelino e a cultura canadense. "Uma coisa interessante em Lazhar é que se trata de uma pessoa real, com sentimentos reais, mas o público também pode vê-lo como um anjo" declara. "Ele aparece do nada e, no fim, apenas subimos os créditos. Então, dá para dizer que foi um anjo que passou pela escola."

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