Jards Macalé lança seu primeiro DVD ao vivo

Raphael Vidigal - Hoje em Dia
03/08/2015 às 07:53.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:11

Não são raros os artistas cultos que utilizam a irreverência para fugir do pedantismo. De Antônio Abujamra a Paulo César Pereio, passando por Cazuza, com parada providencial em Paulo Leminski, Jards Macalé é mais um deles. Só que, como seus pares, nunca foi só mais um.

“Maldito”, o músico que tentou suicídio na década de 1980 renasce. Além ter música no próximo álbum de Ney Matogrosso, acaba de lançar CD/DVD – os primeiros ao vivo de sua carreira. Com formação erudita e goles na fonte de João Gilberto e Baden Powell, apresenta trabalho coerente à sua trajetória, subvertida pela tradição da diversidade. Há de tudo um pouco em Macalé, e seus parceiros comprovam. Dos tropicalistas Torquato Neto e Wally Salomão ao samba de breque de Moreira da Silva.

Com Macalé munido de um cacho de bananas (depois atirado à plateia), o espetáculo que serviu de base ao DVD abre com “Let’s Play That”, canção símbolo do experimentalismo de Macalé, em que o músico distorce imagens e fonemas a partir de letra de Torquato. A mistura de linguagens se dá no campo verbal, com expressões em inglês e português, e, sobretudo, pela metáfora da liberdade. “O Poema de Sete Faces” de Drummond é o ponto de partida da parábola de “Let’s Play”.

E a banda, que leva este nome, não poupa esforços. Com um naipe potente de sopros, teclado, piano, bateria, guitarra e baixo, além do inconfundível violão de Macalé e sua voz abafada que lhe serve para interpretações entre a lamúria e o histriônico, clássicos recebem arranjos que mantêm em cena a inquietação artística do carioca.

Pelo despojamento performático, a aparente despreocupação e o pleno domínio de suas ferramentas de trabalho, cada momento é único, em que a mesma música se permite a improvisos novos, mares nunca navegados.

Thaís Gulin se coloca a serviço de “Hotel das Estrelas” e “Revendo Amigos”, de difícil interpretação. Mas, com voz marcante, a convidada dá conta do recado, em momento onde Macalé se põe ao largo para aplaudir.

Músicas como “Gotham City”, com Capinam, e “Canalha”, de Walter Franco, deixam entrever outra faceta de Macalé: o ator, contador de histórias, que detém a respiração e o sotaque necessário para imprimir graça às colocações. Num momento, Jards solicita vaia para relembrar momento histórico, e recorre a uma imitação de Nelson Rodrigues, que deflagra: “Só a vaia consagra”. Atendido, debocha de episódio em que o protagonista foi Caetano Veloso: “Vocês não entendem nada, são os velhinhos de hoje!”.

Em outro, Macalé habilidosamente costura o coro da plateia para que esta, ao cantar o refrão, dê a impressão de que o chama de canalha. Ao que ele responde: “Vocês sabem de tudo”.

Ele ainda recebe Zeca Baleiro e saca uma faca, representa uma capoeira e canta, com Luiz Melodia, um reggae, e música de Sérgio Sampaio, com Renato Piau. Ao fim, todos voltam ao palco para saudar Macal com “Coração do Brasil”.

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