Acostumado a destilar sons sujos, poesias meio desconexas e muita atitude, foi com um grande silêncio que Kurt Donald Cobain, ou simplesmente Kurt Cobain, saiu de cena, aos 27 anos. O líder, compositor e vocalista do Nirvana, uma das principais bandas de rock dos anos 90 e, sem dúvida, da história do rock, se despedia do mundo há exatos 20 anos.
Por que o silêncio? Porque, apesar de estar acostumado a encantar e embalar grandes plateias com acordes simples, mas poderosos, ninguém ouviu o tiro de espingarda disparado contra o próprio queixo. Prova é que ele só foi encontrado três dias após a sua morte, por um eletricista que tinha ido à sua casa instalar um sistema de segurança e, em um primeiro momento, o confundiu com um manequim jogado no chão.
O fato é que, apesar de trágica e até mesmo mal explicada – uma vez que foi encontrada uma quantidade enorme de heroína em seu sangue, o que dificultaria o manejo da espingarda –, a data merece toda a deferência e memória.
Considerado por muitos um gênio, por alguns um louco e por outros tantos “dos dois um pouco”, Cobain deixou sua página escrita na história da música ao, involuntariamente, conduzir uma revolução no mercado fonográfico norte-americano que se espalhou pelo resto do mundo, com milhões de discos vendidos e um estilo – o grunge (que não tem seu nome bem aceito por aqueles que dele dizem fazer parte) – levado aos mais altos lugares dos rankings de singles, álbuns e vídeos por uma série de bandas que, de um jeito ou de outro, contaram com a ajuda fundamental do Nirvana.
Um garoto simples – tímido até – nascido em Aberdeen, no frio e chuvoso estado de Washington, e que, após ganhar uma guitarra do tio, foi ganhando força e alguma densidade (convenhamos que “Polly” não é uma obra prima em termos de poesia) para derrubar o glam rock e o hard rock do topo das paradas. Aliás, foi Cobain que deu o mais fiel retrato de sua infância e juventude, no interessantíssimo documentário “About a Son”.
Legado do artista continua vivo
“About a Son” compila entrevistas extremamente sinceras do líder do Nirvana ao jornalista Michael Azerrad, utilizadas no livro “Come as you are: A História do Nirvana”. Kurt fala de sua família desestruturada, da ausência paterna e de sua complicada vida escolar, o que permeou toda a adolescência. E, ainda, do momento em que sua vida mudou de rumo, ao ganhar a primeira guitarra, o que o fez escolher a música mesmo com talento para as artes plásticas.