"Laura", de Fellipe Barbosa, documenta a vida de uma brasileira-argentina no high society de NY

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
08/11/2013 às 09:43.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:01
 (Vitrine)

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Fellipe Barbosa alimentava um "desejo messiânico de salvação" ao documentar com sua câmera, por dois anos, o cotidiano de Laura em Nova York, imigrante brasileira-argentina que frequenta a high society da cidade americana e mora num conjugado em que mal cabem as coisas que coleciona, sem lugar para dormir.

"Queria esvaziar aquele quarto e, finalmente, oferecer uma cama para ela dormir", revela o diretor de "Laura", estreia desta sexta-feira (8) no Cine 104. Barbosa, porém, se viu na posição daqueles detetives de filmes noir em que o personagem desvenda o caso mas acaba em maus lençóis, "sentindo-se banal em meio às descobertas".

Interrogações

A personagem não só surpreendeu o diretor, não oferecendo as respostas que ele ansiava, como também acabou dando-lhe uma aula de cinema. "Mais do que apontar meu erro, Laura me ensinou que o mais interessante é fazer as perguntas certas, provocando certas questões do que dar as respostas", registra.

O espectador fica sem saber, por exemplo, como a imigrante se mantém na Big Apple, recebendo um misterioso dinheiro do Brasil (de quem?). Seu passado se torna um grande ponto de interrogação, com o filme não destrinchando as razões de um marido argentino ter-lhe "jogado na rua, sem nada".

Mistérios que contaminaram a proposta narrativa de "Laura", que permite até mesmo se aproximar da ficção para estabelecer uma estrutura narrativa em que o próprio diretor surge, em alguns momentos, como antagonista, vivendo diversos conflitos com o seu objeto de estudo.

Ameaças e paixões

"Não forçamos situações além daqueles que aparecem no filme, como aquela em que chega na casa de um amigo no exato momento em que Penélope Cruz discursa no Oscar. A sensação de ficção aparece mais na montagem, ao não obedecer a ordem cronológica", explica Barbosa.

A intenção não é exagerar, mas sim "revelar a sensacional personagem que ela é", citando Blanche DuBois de "Um Bonde Chamada Desejo", da peça de Tennessee Williams, e a femme fatale de Otto Preminger em "Laura". A relação não foi nada fácil, com Laura ameaçando sair do filme várias vezes em nome do que considerava mais importante para o longa.

"Sou obstinado, persistente. Não desisto de jeito nenhum. O que o filme mostra é o encontro de duas paixões pelo cinema, expressas de maneiras diferentes. Eu queria fazer o meu filme, levando até às últimas consequências. E Laura queria fazer o dela, também da melhor maneira", compara.

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