O teólogo Leonardo Boff é o convidado de hoje à noite do “Sempre Um Papo”. A conversa comandada pelo jornalista Afonso Borges abordará a região da floresta amazônica às vésperas do Sínodo para a Amazônia, evento convocado pelo papa Francisco e que debaterá a importância e os desafios para a região de 6 a 27 de outubro, no Vaticano. Com foco na preservação ambiental da floresta, o encontro entre indígenas, atores sociais e religiosos com bispos da Igreja Católica também se debruçará sobre sua relação com os povos locais.
“Há três razões para o papa Francisco evocar o Sínodo. Primeiro porque ele quer outro tipo de igreja para a Amazônia, com rosto indígena. Não meramente evangelizar, mas ordenar homens indígenas. Os bispos também aventam a possibilidade de ordenar mulheres indígenas para o sacerdócio; elas já fazem tudo que os sacerdotes fazem, só falta consagrar”, explica Leonardo Boff.
“O segundo é que o mundo se dê conta do que significa a Amazônia para a humanidade. Não é o pulmão do mundo, mas é a grande reserva de água doce, filtro responsável pelo equilíbrio climático e que garante as chuvas na área que vai desde o Centro-Oeste até o norte da Argentina”, diz Boff, que chama a atenção para o compartilhamento da região amazônica entre nove países e a necessidade de medidas além das fronteiras. “Há um projeto dos indígenas para tornar aquela área intangível, um bem comum da humanidade. O Brasil pode ter a gestão, que aliás é muito ruim, mas não é dono da Amazônia. Como existem muitas regiões tombadas, por que não acrescentar essa região também?”, aponta o teólogo, que advoga pela questão ambiental desde a década de 80, quando co-redigiu a Carta da Terra.
Ainda de acordo com Leonardo Boff, a discussão é potencializada em um momento de desmonte promovido pelo governo federal das instâncias que cuidavam da Amazônia, como a Funai e o Inpe. Segundo ele, a atividade mineradora é uma das ameaças à biodiversidade, invadindo inclusive áreas de preservação em territórios indígenas. “O terceiro ponto é que o papa propôs que o Sínodo ocorra em Roma para toda a humanidade acompanhar. (A Amazônia) é uma região vital. Se for derrubada, pode virar um novo deserto do Saara”.
Boff recorre ao sociólogo polonês Zygmunt Bauman para clamar uma mudança de mentalidade e enfatizar a necessidade de questionarmos nosso estilo de civilização, “ou vamos engrossar o cortejo daqueles que rumam em direção à própria sepultura”.
Com quase 30 participações nos quase 33 anos do “Sempre um Papo”, Leonardo Boff é um dos convidados mais assíduos do projeto. “A encíclica sobre a natureza do papa Francisco praticamente copiou trechos de trabalhos do Leonardo Boff. Muitas das questões debatidas hoje ele já antecipou há pelo menos 15 anos”, ressalta o anfitrião Afonso Borges.
Sempre Um Papo com Leonardo Boff - Amazônia, Salvaguarda da Terra Hoje, 19h30 Local: Auditório da Faculdade de Direito da UFMG ( Av. João Pinheiro, 100 - Centro) Entrada gratuita