Livro mostra Belo Horizonte sob o olhar de 120 escritores

Elemara Duarte
26/09/2015 às 11:24.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:51

O jornalista e professor Fabrício Marques comprova a vocação da capital mineira para ser musa – mesmo que imperfeita. Para isso, hoje, ele apresenta aos nativos de berço e de coração o livro “Uma Cidade se Inventa – Belo Horizonte na Visão de Seus Escritores”.   Na bem feita pesquisa para o livro ele buscou autores desde antes da fundação da cidade, em 1897, até os dias atuais e encontrou cerca de 120 nomes. O “marco zero” deste processo é dividido entre dois escritores: o português Alfredo Camarate, que chegou em BH em 1894 para trabalhar em um jornal e é considerado por historiadores como o “fundador da crítica musical no Brasil”; e o romancista Avelino Fóscolo, que escreveu “A Capital”.   A partir dos anos 1920, a cidade recebeu escritores como Drummond (1902-1987), que encabeçou, entre os modernistas, a geração desta década.   Já em meados dos anos 1940, vem a geração da “Revista Edifício”, com nomes como do escritor Autran Dourado (1926-2012). E, a partir de 1956, com a “Revista Complemento”, BH abriga autores como Silviano Santiago e Ivan Ângelo.   Suplemento literário   Na década seguinte é a vez da geração “Suplemento Literário” – jornal criado em 1966, por Murilo Rubião (1916-1991). Esta geração, marcada pelo “experimentalismo com a linguagem” mostrou nomes como Sebastião Nunes e Sérgio Sant’Anna.   Entre os anos 1970 e 80, a cidade cresce e a crítica em relação à ela também. “Temos Luiz Giffoni e Marcelo Dolabela. A cidade se torna uma metrópole com todos os problemas sociais”. E, recentemente, a cena traz autores como a poetisa Ana Martins Marques.   Mas será que “Uma Cidade se Inventa” achou algo em comum entre Camarate e Ana Martins – o primeiro e a mais recente? “Ambos moraram em BH, mas são diferentes. Ela tem esta carga histórica para falar sobre a cidade. Enquanto que o Camarate tinha um cotidiano bem mais limitado”, compara o jornalista.   E se há um sentimento de “belo-horizontinidade” entre estes autores é algo que se assemelha a uma angústia de “estar um pouco deslocado”. Nisto, Marques aponta o poema “Belo Horizonte”, de Ana Martins (leia abaixo). O mesmo sentimento aparece na geração dos anos 1940, que também teve Fernando Sabino. “O Sabino usa a expressão ‘puxar a angústia’. E essa angústia da existência é algo de que a literatura também se ocupa”, avalia o professor.   Lançamento do livro “Uma Cidade se Inventa”, de Fabrício Marques, neste sábado (26), às 11h, na Livraria e Editora Scriptum (rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi)   O que alguns escritores pensam - ou pensavam - sobre BH:   "Ele não está não senhor, ele viajou ontem". "Viajou ontem? Para onde?" "Belo Horizontem". (Irônico, o escritor Rubem Braga (1913-1990) reproduz diálogo da empregada de um amigo seu, com alguém que o procurava.)

"eu-menino-do-campo, te faço conviva e digo que a palavra que escrevo é origem (...) verto o amálgama da pampulha veleiro arco-íris que choram de solidão". (Wilmar Silva, em "Arranjos de Pássaros e Flores")

"A cidade é maldita em seus ritos,/ em propagar sua triste cultura,/ de fazer o pobre sempre proscrito". (Marcelo Dolabela, em "Acre Ácido Azedo")

"Belo Horizonte, que lindo nome! Fiquei a repeti-lo e a enroscar-me na sua sonoridade. Continha fáceis ascensões e aladas evasões". (Pedro Nava, no livro "Beira-Mar")

"[1] Um dia vou aprender a partir/ vou partir/ como quem fica [2] Um dia vou aprender a ficar/ vou ficar/ como quem parte". (Poema "Belo Horizonte", por Ana Martins Marques)

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por