Livro traz a música "A Linha e o Linho", de Gilberto Gil, em bordados

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
Publicado em 01/07/2013 às 07:28.Atualizado em 20/11/2021 às 19:37.

Marcela Fernandes de Carvalho, 28 anos, começou a bordar para desenhar cantigas. Foi em 2006, e o objetivo era ilustrar a Festa de São João em tecido. "Era meu projeto de conclusão do curso de Design na PUC-Rio, e experimentava criar imagens dos gestos das crianças dançando quatro canções diferentes".

Como os desenhos precisavam "dançar" e "vestir" os festejos, ela foi investigar o caminho da construção de imagens narrativas no tecido. Não por outro motivo, foi com franca alegria que recebeu o convite para ilustrar o livreto "A Linha e o Linho" (Escrita Fina, 24 páginas, R$ 15). "Um presente", define.

A ideia veio da editora Laura Van Boekel, apaixonada confessa pela música de Gilberto Gil que, para ela, sempre representou o desejo de encontrar uma relação afetiva de cumplicidade e intenso amor. Firmada a parceria, veio o processo de feitura.

Não que no meio do caminho não houvesse pedras. "Foi muito difícil. Mas, quando ficava cansada e pensava em simplificar o ponto, pensava: ‘Mas é para o Gil...’. E aí caprichava mais e mais", lembra Marcela.

"Quando, em uma reunião, definimos o formato e o número de páginas da obra, o tempo de criação era vago. Fiz algumas primeiras imagens que, depois da definição do formato (menor), foram descartadas", prossegue.

Assim, para realizar as 11 imagens reunidas no livro, foram apenas 20 dias. "O bordado, no geral, é uma arte muito demorada, as longas colchas de cama, aquelas tradicionais toalhas de mesa são feitas a muitas mãos. Mas acho que o que mais demorou foi escolher quais desenhos levar para o pano", confidencia.

Exemplo: Marcela desenhou mais de 20 rosas. "Comprei uma bem bonita, vermelha, e desenhei várias vezes até encontrar um que fosse digno de ser levado ao pano. Desenhei umas 15 mulheres deitadas no pano, até que a última me pareceu a mais aconchegante, a que estava mesmo entregue ao toque do lençol. Além disso, assisti a filmes e imagens do Gil e alguns desenhos saíram de lá, de cenas do próprio autor da música".

"A letra da música fala de um amor genuíno, um amor do cotidiano"

A exemplo da editora Laura Van Boekel, que chegou a inserir a música "A Linha e o Linho" para ser cantada à capela na cerimônia de bênção da união com o marido, a bordadeira Marcela Carvalho é fã de carteirinha de Gilberto Passos Gil Moreira. "Sou fã há muitos anos, é claro, do compositor e do (ex) ministro", diz, citando a criação da rede de Pontos de Cultura.

"Quando adolescente, aprendi a tocar, no violão, "Não Chore Mais" ("No Woman No Cry"), "Vamos Fugir" e "Procissão" – essa última, a minha preferida até hoje. Ainda criança, amava a abertura do ‘Sítio do Pica-Pau Amarelo’ e gostava de ouvir, em vinil, ‘Chororô’ na rede, no colo do meu pai... Ano passado fui assisti-lo na praia, é uma inspiração".

A música "A Linha e o Linho", Marcela conheceu recentemente, quando começou a bordar, no citado ano de 2006, e ao investigar narrativas de tecido. "Esta letra une perfeitamente o fazer do texto com o fazer do têxtil, palavras unidas pelo radical e pela prática. A música fala de um amor genuíno, um amor do cotidiano, do vai e vem costumeiro e costureiro, que tece o ‘ninho da beleza’ (último trecho da música), tem um clima de ‘paninho’, de bordado tradicional, do qual temos lembranças da casa, da mesa e da cama das avós", conclui.

"A Linha e o Linho", o livro, é o primeiro da coleção "Letras Ilustradas", da Editora. O projeto gráfico é assinado por Suiá Taulois. O lançamento, no Rio, contou com a presença do homenageado.

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