Maior colecionador de quadrinhos do Brasil é roubado em SP

Guilherme Genestreti - Folhapress
24/10/2013 às 18:06.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:37

SÃO PAULO - Quatro assaltantes levaram cerca de sete mil revistas de histórias em quadrinhos do acervo de Antônio José da Silva, 63, tido como o maior colecionador do gênero no Brasil. Tom Zé, como ele é conhecido, teve seu escritório na zona sul de São Paulo invadido na tarde do último dia 16.

O aposentado e dois de seus funcionários foram amarrados enquanto os ladrões vasculharam o seu escritório à procura de edições raras de gibis como os primeiros números de "O Lobinho" e de "A Gazetinha", almanaques das décadas de 1930 e 1940 que introduziram no Brasil personagens como Batman e Super-Homem.

"Parte do que foi roubado não se encontra em lugar nenhum", diz Tom Zé, cuja coleção, iniciada há mais de 40 anos, somava cerca de 200 mil exemplares antes do assalto.

"Pegaram o que tinha de mais valor. Desconfio que um colecionador tenha encomendado isso."

Uma única edição dos anos 1940 da revista "O Lobinho", como as que foram saqueadas, chega a ser vendida por até R$ 400 em sites de compras. O colecionador tinha 159 delas.

Os ladrões também levaram exemplares das décadas de 1930 a 1950 dos quadrinhos "O Globo Juvenil Mensal", "O Gibi" e "O Correio Universal". Revistas mais recentes foram poupadas, "tirando uma ou outra, que levaram só para disfarçar".

Segundo Tom Zé, no dia anterior ao assalto, uma estudante de nome Juliana se apresentou como interessada em escrever um trabalho sobre os quadrinhos e vasculhou o escritório. "No dia seguinte ela voltou. Quando fomos atender a porta, os quatro assaltantes invadiram. Encheram uma Kombi com tudo o que levaram."
Mercado de originais

"Poucas pessoas têm uma coleção tão completa de quadrinhos antigos. Devia ser praticamente tudo o que foi produzido", diz Jal, que preside a Associação dos Cartunistas do Brasil. "O mercado de quadrinhos originais está crescendo. Tem até galeria surgindo para vender esse tipo de coisa."

"São poucos os quadrinhos raros no Brasil. Antigamente, as mães costumavam queimar as revistas dos filhos porque achavam que incitavam o crime e a prostituição", diz Gonçalo Júnior, também colecionador e autor de "A Guerra dos Gibis" (Companhia das Letras, R$ 57). "Hoje tem gente que destrói duplicatas só para que um exemplar único custe mais caro."

Gonçalo estima que apenas a coleção completa das revistas "O Lobinho" possa valer cerca de R$ 100 mil.

"Esse crime parece coisa de gibi", diz Sidney Gusman, editor do site Universo HQ. "É alguém que roubou para si mesmo, porque se for posto à venda, a comunidade de colecionadores vai descobrir."

Em maio de 2012, a casa do cartunista da Folha Laerte também foi invadida. Dois computadores e um disco rígido contendo desenhos do artista foram furtados.

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