CINEMA

Minas Tênis desvenda lado diretor de Paul Newman, um dos grandes atores da história do cinema

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
04/11/2022 às 14:46.
Atualizado em 04/11/2022 às 15:10
“Meu Pai, Eterno Amigo” é um dos filmes presentes na mostra (Orion/Divulgação)

“Meu Pai, Eterno Amigo” é um dos filmes presentes na mostra (Orion/Divulgação)

Paul Newman é uma das maiores estrelas do cinema, dono de papéis marcantes em filmes como “Gata em Teto de Zinco Quente”, “Golpe de Mestre”, “Butch Cassidy” e “Cortina Rasgada”. O que pouca gente sabe é que seu talento também se estendeu para trás das câmeras, em seis longas-metragens como diretor.

Esse lado pouco conhecido do astro falecido em 2008, aos 83 anos, é o carro-chefe de mostra em exibição no Minas Tênis Clube.Samuel Marotta, responsável pela seleção, lembra que, quando viu “A Influência dos Raios Gama no Comportamento das Margaridas” (1972) pela primeira vez, teve a sensação de estar diante de um gênio.

“O que impressiona, primeiramente, é como uma pessoa totalmente inserida num contexto de produção hollywoodiana dirige trabalhos muito experimentais incríveis. Ele faz filmes pequenos, no sentido de uma produção mais barata. A sensação é que há uma tentativa de desintoxicação da grande indústria”, analisa Marotta.

Nessa tentativa, destaca o curador, que também é coordenador de programação das salas do Minas, o roteiro se torna o elemento menos importante. Em “A Influência dos Raios Gama”, por exemplo, Marotta destaca que o texto é “bem armado”, mas que o principal é a mise en scène, em especial a direção de atores.

“O que acontece diante da câmera é o elemento mais potente. Há uma cena em que mãe e filhas olham pela janela e veem uma senhora sentada há dois dias numa mesma posição. Elas discutem se teria morrido ou não quando, de repente, a senhora se mexe um pouquinho. ‘É, não morreu’, diz a mãe. E a vida continua”, registra.

Uma cena assim, defende Marotta, seria muito difícil de se ver dentro de uma lógica do sistema hollywoodiano de grande produção. Uma direção menos atrelada à narrativa clássica que se repetiu em “Rachel, Rachel” (1968), que marca a estreia de Newman como cineasta, “Uma Lição para Não Esquecer” (1970) e “Meu Pai, Eterno Amigo” (1984).

O ator dirigiu outros dois longas, “A Caixa de Surpresas” (1980) e “Algemas de Cristal” (1987), que ficaram fora da mostra minastenista devido à questão de direitos de exibição. “A pegada experimental foi cedendo, com filmes mais sisudos, posados, mas ainda assim ele não perde a radicalidade, saindo de uma certa norma”.

Também serão exibidos “Wanda” (1970), de Barbara Loden, e “Mar de rosas” (1979), de Ana Carolina, que, na visão de Marotta, dialogam com a obra de Newman. “Gosto de fazer relações que, às vezes, soam estranhas, entre cinemas que são completamente distantes, geográfica e esteticamente. Mas também há coisas que os aproximam”.

Diálogo com o longa brasileiro "Mar de Rosas"

A cineasta Ana Carolina não conhecia “A Influência dos Raios Gama no Comportamento das Margaridas” e ficou intrigada com o que o filme teria em comum com a sua estreia na direção de longas-metragens, “Mar de Rosas”, lançado há 45 anos.

A questão do papel submisso da mulher dentro de uma família, que, de acordo com a curadoria da mostra, é um dos pontos em comum, não é fruto de uma posição feminista, segundo a cineasta. “Minha militância é o cinema. Não é o feminino”, avisa.

“O que me motivou a fazer ‘Mar de Rosas’ e os dois filmes seguintes (‘Das Tripas, Coração’ e ‘Sonho de Valsa’), que formam uma trilogia, é uma reflexão sobre o poder na família”, analisa a diretora, que ainda tem muito vivo na mente os esforços para a realização do longa.

Com Norma Bengell, Hugo Carvana e Cristina Pereira no elenco, “Mar de Rosas” acompanha uma viagem de carro de um casal e sua filha ao Rio de Janeiro. Após uma briga, a mulher fere o marido com uma navalha e foge com a garota para não ser incriminada.

“A grande dificuldade foi o som. Tínhamos uma câmera Arriflex que não era blimpada”, recorda Ana Carolina, referindo-se aos ruídos da câmeras que vazavam nas gravações de áudio. “Nem o som guia do plano a gente tinha”, assinala. Apesar da dificuldade extra, a dublagem feita pelos próprios atores amenizou esse problema.

Por suas características mais reflexivas, o filme não teve, na época, um bom desempenho nas salas. “Foi uma grande luta para pôr na tela. Aquilo me ensinou muito e hoje vejo que a situação pouco mudou. Fazer cinema no Brasil é uma luta igual ou maior”.

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