(Divulgação)
Mon petit coeur,/ Qui bat de joie,/ A chaque fois,/ Que je te voit”. Estes versos em francês foram adaptados do início da letra do clássico “Carinhoso” (Pixinguinha e João de Barro) e fez parte do set list do show que levou a mineira Flavia Nascimento a faturar o prêmio “Stingray Rising Stars Award”, no final do ano passado. A condecoração foi conquistada na 6ª edição do festival “Mundial Montréal”, no Canadá.
Radicada naquele país há 15 anos, hoje, aos 39 de idade, a belo-horizontina mostra a música brasileira popular de um jeito bem próprio, como nos versos da canção citada acima: adaptando parte ou o todo de letras próprias e de outros compositores para o francês. “Fiquei dez anos cantando aqui sem o povo entender”, justifica Flavia, sobre a solução a que chegou.
Outra canção incluída no show no festival do Canadá foi “Estrela Natal”, do conterrâneo Sérgio Pererê, cujo título virou “La Bonne Étoile”. “A gente (Flavia e a banda) ganhou como melhor espetáculo e como melhor artista”, diz.
Quem é ela?
Flavia é formada no Teatro Universitário (TU), da UFMG. E por que foi para o frio Canadá? “Ah, é o amor... O amor dá asas. Conheci um canadense no Brasil fazendo um projeto social de circo”, suspira.
O prêmio que recebeu dá apoio aos artistas com trajetória musical diferente. “No meu caso, é a música brasileira”, diz. Desde a criação do prêmio, em 2000, mais de 900 artistas já se beneficiaram do programa.
Neste ano, o prêmio contou com mais de 80 grupos participantes. Na seleção foi escolhido o “grupo estrela”, que recebeu 2 mil dólares e apoio de divulgação neste ano. No evento, é feito um intercâmbio entre produtores de festivais e músicos do Canadá.
E o francês tupiniquim?
A primeira letra adaptada foi “Xote das Meninas” (trecho ao lado), sucesso de Luiz Gonzaga. “Foi uma brincadeira. Uma amiga canadense, que é poeta me chamou para adaptar esta música”. E Flavia topou.
“Desde que cheguei aqui, não falava francês. Interpretava palhaços na rua, com muita mímica. Trabalhava o tocar, que é muito da gente (do brasileiro), abraçar. Com o tempo, fui aprendendo, fui tentando entrar em teatros, mas é muito difícil. É o sotaque. A saída foi a música”.
No Brasil, a artista lembra de ser sempre elogiada por cantar “bem”. Ela inclusive chegou a participar de uma das montagens do musical “Mulheres de Hollanda”, no Teatro da Cidade. No Canadá, após uma década já vivendo no país, é que as adaptações começaram a ser criadas. Flavia e a banda formada por brasileiros e um português formam o “Flavia Nascimento et Son Plus Petit Big Band”.
“Meu francês agora é ótimo. Adaptei minhas músicas, depois, uma música do Sérgio Pererê, que é um artista que respeito muito”.
Agora, a cantora de timbre doce calcula que pelo menos 30% do repertório dela são de adaptações. Nestas, tem ainda canções de Lenine e Rita Lee. E musicalmente? “Tem maracatu com um ritmo mais moderno, forró, afoxé, ijexá misturado com um rock. Além disso, a pulsação do congado vai estar sempre presente na minha musicalidade”, avisa a mineira.
Mistura feliz
Flavia acredita que esta mistura está dando certo porque “tem Brasil, mas também tem Quebec junto”. “Eles gostam da felicidade do Brasil. É uma felicidade que é minha, mas que vem daí. Isso dá um tempero, um mexido. E eu nem cozinho bem...”, brinca.
E não é que os canadenses são curiosos? “O ouvido aqui está aberto a descobrir o que é isso. Não é samba, não é bossa. É o som do novo mundo”, define ela. O novo disco de Flavia Nascimento deve sair em maio deste ano, com composições dela e duas adaptações de Pererê.
Música popular brasileira com as adaptações de Flavia Nascimento: “Desculpe o Auê”
“Xote das Meninas” e outras canções
Outras adaptações em: www.flavianascimento.com/music