No fim da década de 1980, os songbooks eram uma sensação, trazendo CDs com a discografia completa de determinados artistas, acompanhados de partituras instrumentais. O primeiro que Vitor Santana recebeu foi o de Caetano Veloso, marcando o seu contato com a música e com a trajetória do cantor baiano.
“Foram as primeiras músicas que eu aprendi a tocar. Foram elas que me fizeram ser o que sou hoje”, assinala o artista, nome de frente da cena artística mineira. Quis o destino que, 30 anos depois, os caminhos de ídolo e fã se cruzassem, com Santana sendo convidado para abrir o show de Veloso no Expominas, em 29 de outubro.
Integrante do Coladera, uma das grandes revelações da música nacional na última década, ele conta que Caetano também foi importante para definir os seus rumos profissionais. “Logo que comecei eu era mais do rock e do blues, só que aí eu descobri o tropicalismo, que se tornou mais interessante que o rock psicodélico para mim”.
Resultado: Santana sabe tocar praticamente todo o repertório de Veloso, sem precisar recorrer a partituras. Algo que surpreendeu o astro quando esteve em BH para apresentar “Meu Coco” pela primeira vez, em abril. No jantar ocorrido após o show, o cantor ouviu 40 minutos de suas composições na voz de Santana.
“Foi um golpe de sorte. Era aniversário da Paula Lavigne (ex-esposa de Caetano) e o chef Felipe Rameh pediu para usar a minha casa. Eu consegui me aproximar dele e mostrar um pouco das minhas armas. Acho que os produtores viram ali que, de Caetano Veloso, eu entendo. Toquei coisas que já não estão mais no repertório dele”, destaca.
Ele poderá cantar qualquer música de Caetano, com exceção daquelas que estarão no setlist do show. Ele tocará outros clássicos da MPB, além de repertório próprio e do Coladera. Para o cantor mineiro, o convite marca um processo de retomada. Antes da pandemia, em 2019, o Coladera estava em ascensão no cenário internacional.
“A gente estava numa situação muito boa, tendo tocado no festival de Montreux, na Suíça, além de outros oito países, em eventos importantes. A pandemia cortou esse crescendo. Agora é o ano da retomada. Já fizemos uma turnê pela Europa no final de abril, passando por Alemanha, Itália, Holanda e Portugal”, analisa.
O duo formado por Santana e o português João Pires prepara lançamento do terceiro álbum para o início de 2023. “Não temos o nome ainda, mas o conceito dele será o de vídeo-álbum, com a participação de grandes parceiros”, adianta. Entre eles estão Chico César, Pedro Luís, Luedji Luna e o angolano Paulo Flores.
América Latina
O novo trabalho continuará com um pé no intercâmbio com a música de outros países de língua portuguesa, uma característica que Santana desenvolveu desde o início da carreira, após visitar Cuba. “Eu tive uma formação muito voltada para a América Latina. Tive a oportunidade de morar fora, na Inglaterra, e isso me abriu bastante os campos”.
O músico é um grande conhecedor do cancioneiro do continente e criou uma obra universalista. Essa relação se tornou ainda mais forte quando estabeleceu parceria com Pires, no início da década passada, encantando-se pela música de Cabo Verde. A mistura de línguas e culturas norteou os discos “Coladera” (2013) e “Lo Dôtu Lado” (2016).
Santana também prepara um novo trabalho solo, ainda em fase de pré-produção. A ideia é lançar músicas que nunca foram gravadas, voltadas principalmente para o samba. “Minha composição passa mais pela comunicação com o público, trabalhando muito a questão rítmica, que também aprendi com a música africana”.
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