‘Mujica é um fenômeno político muito interessante e de grande influência’, diz autor de biografia

Elemara Duarte - Hoje em Dia
17/05/2015 às 09:45.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:03
 (Hoje em Dia)

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Um dos assuntos que mais reverberaram nesses primeiros dias de maio foi o lançamento da biografia autorizada do presidente do Uruguai José Mujica, “Una Oveja Negra al Poder”, ou “Uma Ovelha Negra no Poder”, assinada pelos jornalistas Andrés Danza e Ernesto Tulbovitza. No Brasil, particularmente, a obra suscitou polêmica, já que trechos divulgados à imprensa indicariam que, em conversa ocorrida em 2010, Luiz Inácio Lula da Silva teria dido que precisava “lidar com muitas coisas imorais, chantagens”, referindo-se ao Mensalão. Dias depois, Mujica desmentiu o teor.   Polêmicas à parte, a figura de Mujica, é sabido, vem despertando interesse de todo o mundo. Motivo pelo qual, se o Brasil ainda não recebeu o livro em questão, outro título aportou recentemente nas livrarias tendo o estadista como foco. “Mujica – A Revolução Tranquila” traz a chancela da Editora Leya e a assinatura do jornalista uruguaio Mauricio Rabuffetti, 39 anos. A obra virou best-seller no Uruguai, Argentina, Chile e Colômbia.
Logo no prefácio, Mauricio avisa que a história de Mujica pode ser escrita de mil maneiras. “Esta é apenas uma possível”, pontua. Enfatiza, também, que o texto não é uma biografia. “No máximo, um perfil biográfico, que busca explicar a aceitação que sua mensagem alcança fora das fronteiras e algumas derrotas que teve como governante. Também não é uma entrevista com o presidente uruguaio, com quem conversei ao apurar reportagens para veículos internacionais, e não com o objetivo de escrever esse livro”. Nesse contexto, assinala, visitou sua casa, conheceu seu famoso carro velho, sua cadela de três patas e sua forma de vida austera, “o que, até certo ponto, me permite falar desses traços, talvez os mais conhecidos de sua existência agora tão midiática”. Confira, a seguir, trechos da entrevista concedida por Rabuffetti ao Hoje em Dia.

Papa Francisco, Mujica... Nos dias atuais, não são poucas as personalidades que defendem o “desapego” material e que fazem sucesso com esta filosofia. Por que este comportamento é tão admirado?
No meu livro, “Mujica – A Revolução Tranquila”, faço um paralelismo entre essas duas personalidades por causa desse “desapego” do material. Vivemos num mundo muito consumista. Muitas pessoas estão perdendo a referência do que é verdadeiramente importante na vida: a família, os amigos, as relações humanas, a relação com a natureza. Tudo isso por não se dar o tempo para viver. As lideranças – presidentes, chefes de Estado, ministros e outros – vivem, em muitos casos, uma vida de luxo paga pelos povos que os elegeram. O contraste com a vida das pessoas comuns é tão forte que assusta. Nesse mundo, quando há líderes que chegam com mensagens de sentido comum, simplesmente propondo um retorno aos hábitos mais normais da vida humana, eles se convertem em referência para quem procura algum guia, para quem está desapontado com as instituições pois já não acredita nelas. Enfim, vira uma referência importante para quem quer voltar a acreditar. Essa é a chave do sucesso do Mujica: uma mensagem simples num tempo histórico de desilusão.

O que seu livro traz de novidade sobre o presidente Mujica?
O meu livro explica por que ele virou uma celebridade no mundo da política rompendo com as regras do protocolo estabelecido. Mas o mais importante é que explica, para quem não é uruguaio, quem é de verdade o José “Pepe” Mujica: como foi que ele passou de guerrilheiro a político é por que conquistou primeiro a presidência do Uruguai e depois saiu fora para conquistar audiências internacionais massivas. Não é um livro escrito por um admirador nem por um crítico. É simplesmente uma análise de um jornalista que tenta ser neutral sobre um personagem que tem muitos sucessos e que aprende com as suas derrotas ao longo da vida. De como ele aprende com as derrotas eu falo muito no livro. É importante, pois, hoje, na sociedade ocidental, derrota (erro ou fracasso) é sinônimo de pecado, quando teria que ser sinônimo de oportunidade para aprender.   Qual é a sua relação com Mujica? Com que constância fala com ele?   Minha relação com Mujica foi profissional, como qualquer repórter que faz uma cobertura. O livro é um análise totalmente independente.   Mujica leu “A Revolução Tranquila”? Ele lhe deu algum retorno sobre este livro?
Enviei o livro a ele junto com uma carta pessoal, mais não procurei retorno, até porque, quando enviei, ele estava na parte final da Presidência, muito ocupado. Não escrevi o livro para o Mujica nem para os eleitores dele nem para o pessoal do partido dele. Tampouco para os opositores. O livro foi escrito para que os leitores da América Latina toda (e fora da América Latina também) consigam compreender um fenômeno político muito interessante e de grande influencia na região e em muitos países do mundo.   “Mujica – A Revolução Tranquila”. Tradução Patrícia Álvares. LeYa. 288 páginas. R$ 39,90. Prefácio de Ricardo Boechat.

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