
Filmes assinados por diretoras deixaram de ser raridade no cinema brasileiro. Apesar da importante conquista, a cineasta mineira Juliana Antunes enxerga ainda um obstáculo a ser vencido, já que os filmes que entram em cartaz narrativas que geralmente não fogem de padrões majoritários, dirigidos, em sua maioria, por brancas de classe média.

Cenas têm aparência natural, mas foram todos muitas ensaiadas
Sofrimento
A narrativa, que transita na fronteira da ficção com o documentário, acompanha duas mulheres da comunidade Vila Mariquinhas, região Norte de BH. Uma delas, que foi estuprada pelo tio e praticou delitos, anseia mudar-se para outra favela (a que dá título ao filme), para fugir da guerra do tráfico de drogas.
“Dediquei um tempo que vai dos meus 20 a 30 anos nele, sem nunca ser remunerada. Foi um trabalho insano, de extrema dedicação, minha e de toda a equipe, e estava muito consciente do que queria fazer”, salienta a diretora, que tirou inspiração das linhas de ônibus que tinham como destino bairros da periferia da capital.
“Vim do interior e me chamava a atenção o fato de as placas mostrarem nomes de mulheres. Com exceção de Lourdes, não há nenhum bairro da zona Sul com nome feminino. Minha intenção era entrar nos ônibus e, chegando lá, conhecer a realidade das mulheres”, lembra.
Durante as pesquisas, o contato com elas nas ruas era difícil, já que prevalecia “a lógica machista que também está presente na periferia, em que devem ficar dentro de casa”. Por muito tempo, frequentou salões de beleza até encontrar as personagens Leidiane e Andreia.
Abertura
Diferentemente de outros filmes que têm esse recorte, o objetivo nunca foi enaltecer a miséria. “Discute-se tudo, trabalho, moradia, maternidade, violência, mas não de forma sensacionalista”, sublinha.
Apesar de ser ficção, os diálogos são muito naturais, em que se fala abertamente sobre masturbação e sexo. “A mulher transa, goza, usa drogas. Faz tudo o que lhe é negado”.
No próximo filme, Juliana Antunes focará em jovens lésbicas que saem da periferia de BH para verem o mar pela primeira vez, no Rio de Janeiro. “Ao contrário do ‘Baronesa’, em que elas estão entrincheiradas, a relação é com o espaço público, sobre o estar no mundo”, adianta.
Juliana quer ser a primeira diretora brasileira a focar lésbicas – e, como frisa, sem sofrerem por esta opção. “Estarão juntas e divertindo-se”.