Nova novela das sete da Globo surfa no sucesso atual dos anos 90

Flávia Ivo
28/01/2019 às 07:00.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:15
 (Rede Globo/Divulgação)

(Rede Globo/Divulgação)

Difícil encontrar alguém que já passou dos 30 e até dos 40 e que não se levanta da cadeira para dançar quando o DJ toca “Rhythm of The Night”, da cantora Corona. Ou mesmo “Step By Step”, do New Kids On The Block. Músicas dançantes como estas dão tom à trilha sonora da nova novela das sete da Globo, “Verão 90”, que estreia nesta terça-feira (29).

Passado em duas fases, o folhetim contará a história dos integrantes da banda infantil “Patotinha Mágica”, que vão do sucesso ao esquecimento nos anos 80 e planejam um retorno na década seguinte em meio a sentimentos não resolvidos.

Para quem curtiu a infância na época, uma relação com Balão Mágico ou Trem da Alegria pode não ser uma mera coincidência, já que as autoras Izabel de Oliveira e Paula Amaral revelaram que a novela foi inspirada em fatos e situações que aconteceram há 30 anos ou mais.

Público

Com grande elenco que inclui Cláudia Raia e Dira Paes, as mães dos jovens artistas, a ambientação da comédia romântica, gênero definido pela Globo, fica por conta da trilha, especialmente pensada para ser um passeio por toda a década de 1990, incluindo Rosana, Paralamas do Sucesso, Marina Lima e Marisa Monte, do lado nacional, e Double You, Marky Mark e EMF, do internacional.

De acordo com Aldo Clécius, trend hunter e professor do Centro Universitário UNA, todo o trabalho de pesquisa feito pela emissora mostra sensibilidade ao momento atual. 

“A TV aberta está com dificuldade de público, então, a Globo precisa oferecer um conteúdo no qual as pessoas estão interessadas. É perceptível que essa novela já nasceu com mais burburinho do que as outras, porque diz respeito a um período da História em que as pessoas estão de olho”, explica.Rede Globo/Divulgação

Grupo infantil “Patotinha Mágica” faz sucesso nos anos 80

Consolidação

Há pelo menos dois anos, as repaginações dos anos 90 têm sido percebidas em várias áreas como música, artes e também na moda.

“A Globo coloca como uma grande novidade e fica na nossa cabeça que a emissora lançou tendência, mas, na verdade, agora é o mergulho mais profundo nas tendências que começaram a aparecer lá em 2017”, afirma Clécius.

Ele lembra do fenômeno da novela “Dancin’ Days” (1978), lançada já na decadência da disco music nos Estados Unidos e que acabou tornando-se referência na música e, principalmente, na moda do final dos anos 70 e início da década de 1980.

Professora de moda da Universidade Fumec, Carla Mendonça segue o mesmo pensamento do colega. “Estamos revendo os anos 90 há um bom tempo. A novela pega uma tendência consolidada, popularizada, para aí ela conversar com todo mundo, atingindo mais pessoas”.Rede Globo/Divulgação

O visual mais básico de Janaína (Dira Paes) se contrapõe ao de Lidiane (Claudia Raia), em “Verão 90”; elas interpretam as mães dos componentes da “Patotinha Mágica”

Consumo geracional explica o fascínio por este período da História, da música e da moda

Parcela considerável dos adultos que hoje estão no mercado de trabalho brasileiros era criança ou adolescente nos anos 90. No entanto, naquela época, não tinha potencial de consumo, uma vez que dependia da vontade dos pais para conquistar os objetos de desejo. Esse padrão de comportamento explica o chamado consumo geracional.

“Essas pessoas olham para os anos 90 como se neles tudo tivesse sido maravilhoso, com uma falsa memória de consumo. Estão saudosos de uma época em que não podiam comprar. Por isso, hoje, estão ávidos para consumir essas memórias”, destaca o trend hunter Aldo Clécius, que terminou a adolescência e entrou na fase adulta nessa década.

“Precisamos fazer comparativos com a história vivida, isso de certa forma nos ajuda a construir a história do futuro”Aldo Clécius

O especialista exemplifica com os que viveram os anos 80 e os nostálgicos desse período. “Quem era consumidor na época tem pânico das ombreiras, acham aquilo um horror. Mas, quem era criança acabou se tornando entusiasta. Tanto que as ombreiras continuam ganhando, ano a ano, releituras pelas marcas de moda”, explica.

A professora Carla Mendonça expõe que mesmo a Geração Z, formada pelos que nasceram nos anos 2000, poderá ser atraída pela novela. 

“Eles têm uma nostalgia do que não foi vivido e acabam idealizando um passado que os pais deles curtiram. Acham que cropped e cabelo colorido foram inventados no Coachella (festival de música). Não têm memória do que veio antes”, brinca.

Repeteco

Especialistas em comportamento em todo o mundo apontam que, de 20 em 20 anos, há uma repetição de tendências e padrões adotados, com muita similaridade. Basta rever a história do final de uma década para duas seguintes.

“Se olharmos para a década de 1990, veremos um momento depressivo após os anos 80, que foram loucos. Estávamos nos aproximando do fim de um século. Agora, voltamos a um momento parecido, meio noir. Uma onda de conservadorismo como tínhamos lá atrás”, detalha Clécius.

Esse mood “deprê” pode ser percebido em parte da música produzida no período. O início dos anos 90 foi marcado pela agitada dance music, que continuou a traçar seu caminho até a entrada do trance nos anos 2000. Porém, por outro lado, o grunge surgia como um movimento muito forte e marcado pelas letras e melodias tristes e reflexivas que, até hoje, fazem todo mundo cantar junto.

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