‘O retorno do público leitor é o que faz me sentir viva como autora’

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
26/07/2015 às 10:53.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:05
 (Divulgação)

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O pseudônimo foi a maneira que a dublê de escritora e dentista F. encontrou para dissipar dúvidas de seu crescente público leitor. “Eles procuravam informações sobre a autora e, de repente, surgiam artigos de odontologia. Então, decidi que tinha de ‘divorciar’ a Odontologia da Literatura”, diz a autora de “Não Pare!, um dos cem livros mais vendidos da Amazon Brasil, que agora ganha edição impressa chancelada pela Editora Valentina.
 
A escolha do nome artístico não foi tarefa das mais hercúleas. “Meu primeiro emprego, adolescente, foi dando aulas de inglês para crianças. Meu chefe me chamava de Miss Pepper, por causa do meu sobrenome, Pimentel, e eu brincava, dizendo que um dia ainda o utilizaria.
 
Consta que começou a escrever na gravidez, que teve que passar em casa. Mas sua veia de escritora já pulsava antes?
Por incrível que pareça, não! Venho de uma família muito humilde, não tive acesso a livros de ficção na infância. Comecei a trabalhar cedo para ajudar em casa e isso prosseguiu enquanto estudava Odontologia. Quando o dinheiro passou a sobrar, tornei-me uma leitora voraz sim, mas de livros de Odontologia! Nunca rascunhei absolutamente nada até o instante que me vi naquela cama por meses a fio. As histórias me arrancaram do drama que estava vivendo e se transformaram em meu milagre particular. Hoje não sou mais capaz de conceber minha vida sem livros de ficção por perto.
 
Que escritores citaria como os de sua cabeceira?
Ernest Hemingway, Margareth Mitchell, Jane Austen, J.K. Rowling e Hugh Howey, entre tantos outros maravilhosos.
 
Acha que vai conseguir conciliar as duas carreiras (e mais a de mãe)?
Certeza absoluta! Meu filho é a minha prioridade, mas não me vejo abrindo mão das outras faces, seria arrancar um pedaço de mim. E, apesar de ficar exausta para dar conta de tudo, sinto-me realizada por meio de cada uma delas. Adoro a intensidade, viver com profundidade cada faceta de uma vida que é tão breve... e isto talvez se reflita no sucesso das minhas histórias. Podem não ter a beleza da literatura clássica – porque, honestamente, ainda não me considero uma escritora –, mas são histórias criadas com paixão, pura e simplesmente. Talvez o público perceba isso.
 
Como a história de “Não Pare!” foi se delineando?
Ainda de repouso, na gravidez, li “A Menina que Roubava Livros” de Makus Zusak, cuja história é narrada pela morte. Comecei a imaginar como seria se a própria ceifeira tivesse sentimentos e acabasse se apaixonando pela pessoa que teria que matar. E surgia o embrião de ‘Não Pare!’. Como não podia nem ficar sentada, na gestação, fiz um punhado de rabiscos e guardei. Meses após o nascimento do meu filho, escrevi o esqueleto da trilogia e, daí, fui preenchendo com artérias, veias, músculos, pele. É como se já tivesse a alma, o espírito da história – mas ainda faltava dar um corpo. Este “corpo”, por sua vez, foi o mais trabalhoso para uma pessoa que nunca havia escrito nada do tipo.
 
Como foi percebendo que sua escrita estava conquistando leitores?
Com o primeiro livro da trilogia, minha caixa de e-mails e minha página do Facebook começaram a lotar com mensagens de leitores pedindo a continuação da história. Emocionada, ali vi que não poderia escrever apenas nos meus horários livres (praticamente inexistentes à medida que o meu filhinho crescia) e me obriguei a separar duas tardes da semana (e algumas madrugadas!) para me dedicar ao processo produtivo. A arte da escrita, assim como qualquer ofício, precisa de dedicação e conhecimento e eu era (e ainda me considero) uma novata. Ter paixão pelo que faz, ler muito, aprender a escrever e não ter preguiça para reescrever, reescrever e reescrever...
 
Como avalia o feedback dos leitores?
Tudo de bom! É exatamente esse feedback emocionado o meu combustível diário para escrever e me reinventar mesmo com tão pouco tempo disponível. Por sinal, acho que estou ficando mal-acostumada, pois não passo um dia sequer sem receber algum comentário sobre os livros ou uma mensagem de algum leitor que quer se abrir comigo, elogiar a obra, fazer graça de alguma passagem ou simplesmente me dar um puxão de orelha porque matei um ou outro personagem! (risos) O importante é que estão sempre presentes, diariamente, e isso me faz respirar, me sentir viva como autora.

Acha que sua escrita pode transformar a vida de alguém?
Já recebi muitos feedbacks incríveis, mas um deles me tocou profundamente. Foi o caso de uma mãe e sua filha adolescente, antes distantes, e que voltaram a ficar unidas enquanto liam a trilogia juntas. Saber que minha história se transformou no caminho para fortalecer o elo mãe-filho, o mais lindo que existe para mim, foi o maior presente que poderia ter recebido. Ah! E essa mãe - que é uma professora- conseguiu me presentear novamente. Ela é de Santos e viajou até São Paulo com a filha para prestigiar a minha 1ª tarde de autógrafos! Poder abraçá-las e conhecê-las pessoalmente foi uma emoção tão grande que ainda não consigo descrever.

A que elementos da trama creditaria o sucesso de sua empreitada?
Acredito que o sucesso de "Não Pare!" seja devido à originalidade da obra – na trama o protagonista é o vilão (a “Morte”)  que se apaixona pela mocinha (quem ele terá de matar!), mas diferentemente do que o público juvenil está acostumado, ele não fica bonzinho só porque se apaixona pela protagonista. Seu caráter duvidoso e instável permanece até o fim da história e é o responsável pelas mais absurdas reviravoltas. Isso simplesmente arranca o chão dos leitores (em especial das garotas!) fazendo-os amá-lo e odiá-lo intensamente.

Consegue visualizar um perfil de público?
Sim! Apesar de possuir leitores entre os 12 e 90 anos de idade, minha escrita é voltada, sem sombra de dúvida, para o público jovem e, apesar de ter muita ação e aventura envolvida, a história de "Não Pare!" tem uma pegada feminina predominante.


O lançamento de Não Pare!, primeiro da trilogia de Pepper, marca um momento novo no mercado editorial do país: trata-se do primeiro contrato híbrido entre uma editora de obras físicas e outra de digitais

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