'O Silêncio dos Inocentes' chega aos 30 anos e continua apavorante

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 06/02/2021 às 18:22.Atualizado em 05/12/2021 às 04:07.
 (PARAMOUNT/DIVULGAÇÃO)
(PARAMOUNT/DIVULGAÇÃO)

Dez em cada dez críticos de cinema não têm dúvidas de que uma das principais razões do sucesso de “O Silêncio dos Inocentes” – filme ganhador do Oscar lançado há 30 anos nos cinemas, em 14 de fevereiro de 1991 – está na escolha da dupla central,  formada por Anthony Hopkins e Jodie Foster.

“Nada seria possível sem as presenças deles. A dupla tomou para si os personagens criados por Thomas Harris (autor do livro que inspirou o filme) e entregou um resultado realmente marcante”, observa o crítico Lucas Salgado, fundador do site Confraria de Cinema.

O mais curioso é que, passadas três décadas de um filme que inaugurou o ciclo dos serial killers inteligentes que desafiam os mais argutos investigadores, vêm à tona detalhes de bastidores que poderiam ter impresso outro resultado para este clássico do suspense.

Em live recente que reuniu Hopkins e Jodie, por ocasião do aniversário do filme, Hopkins ressaltou que, após a primeira leitura do roteiro, imaginava se tratar de algo infantil. Já o diretor Jonathan Demme revelou anos atrás  que queria Michelle Pfeiffer para o papel da investigadora novata do FBI.

“Jodie se firma como grande atriz no filme, se impondo no papel. Ali ela precisou se expor duplamente, como mulher que era agente num mundo muito masculino  e ao enfrentar um homem que era canibal e o oposto dela”, afirma o crítico João Nunes.

Ele salienta que, a partir da personagem de Jodie, o filme serviu para chamar a atenção para o trabalho das mulheres no cinema. “Esse debate hoje é efervescente, mas no início dos anos 90 era absolutamente incipiente. Naquela época, o papel mais importante era sempre masculino”, analisa Nunes.

O crítico cita as cenas iniciais, em que fica claro o machismo na profissão dela. “Lança-se a dúvida sobre se ela conseguiria cumprir a missão, além de vermos um psicopata que tenta seduzi-la, sempre a fragilizando. E ela vence estas duas formas de machismo”.

Essa situação, segundo le, pode ser usada na própria escalação, em que Jodie se estabelece como protagonista apesar d o filme estar calcado no vilão. “Ela consegue muito bem desviar a atenção dele e trazer para ele”, destaca. Jodie e Hopkins ganharam o Oscar da categoria no ano seguinte.

Salgado assinala que o trabalho de Hopkins é, sem dúvida, uma das mais enigmáticas atuações da história. “Por meio  de um tom de voz bem particular e com uma postura corporal que aponta para um autocontrole, o ator cria um Dr. Lecter que é sempre ameaçador, mas também muito charmoso, carismático e cativante”.

O crítico pontua que a figura de Hopkins se torna tão presente que a minutagem em cena parece fazer pouca diferença. “São apenas 16 minutos. Lecter nem é o principal antagonista, e mesmo assim, recebeu um Oscar  e tem seu personagem no panteão dos maiores vilões do cinema”, assevera Salgado.

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