Obra de Rachel de Queiroz mostra-se bem atual 85 anos após seu lançamento

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
Publicado em 02/08/2015 às 09:10.Atualizado em 17/11/2021 às 01:11.
 (Arquivo Hoje em Dia)
(Arquivo Hoje em Dia)
A editora José Olympio, que hoje integra o Grupo Record, colocou no mercado brasileiro a centésima edição do livro “O Quinze”, de Rachel de Queiroz. Um fato bem relevante em um país com índice de leitura bem abaixo das nações mais desenvolvidas e que nem sempre dá o devido valor aos seus principais escritores. 
 
De acordo com Laile Ribeiro de Abreu, doutoranda em Literatura pela UFMG e pesquisadora sobre a obra de Rachel de Queiroz, o principal fator que faz com que “O Quinze” permaneça um sucesso editorial, mesmo 85 anos após seu primeiro lançamento, é a construção da personagem Conceição, uma mulher que destoava em meio a uma sociedade conservadora e patriarcal.
 
“Conceição é mulher que na década de 1915 não queria se casar, ser mãe, e se interessava por leituras socialistas, bem opostas àquelas procuradas pelas mulheres de seu tempo cujo tema eram os romances adocicados que faziam com que as mocinhas casamenteiras suspirassem”, explica a pesquisadora. “Associar o drama dos flagelados à busca da mulher por conquistar um espaço que a levasse da privação do lar ao espaço público, acredito, é o que faz com que essa obra tenha chegado à centésima edição”.
 
Ela explica que outras mulheres escreviam no Brasil antes de Rachel, mas a autora conquistou reconhecimento – sendo a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras – ao apresentar um novo olhar sobre as personagens femininas. “A escrita de Rachel se difere por trabalhar personagens femininas totalmente envolvidas com as questões sociais e contestadoras dos estereótipos criados para a mulher”, explica. 
 
Nélida Piñon
 
Além do universo feminino, também bem explorado em “Memorial de Maria Moura” (1992) e outros romances, Rachel conquistou atenção pela linguagem usada para retratar as dificuldades vivenciadas pelos moradores do sertão. “Rachel ainda buscou uma escrita seca tanto quanto é o ambiente e a vida dos personagens ali descritos, assolados pelos flagelos da seca terrível de 1915, considerada uma das piores já vivenciadas pelo povo nordestino”, afirma Laile. 
 
A centésima edição de “O Quinze” conta com texto de apresentação desenvolvido pela escritora Nélida Piñon em abril deste ano sobre Rachel. “Ao publicar o romance em 1930, com a idade de 20 anos, a autora revelou raro vigor narrativo. Uma maturidade estética e ética que brotou de uma família da burguesia rural que, comprometida com a cultura, herdada do ancestral José de Alencar o espírito nacionalista, a vocação política, o severo código de honra”, escreve Nélida. 
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