'Os desastres irão acontecer novamente e cabe aos bombeiros estarem preparados', afirma capitão

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
11/01/2022 às 14:11.
Atualizado em 18/01/2022 às 00:52
 (LETRAMENTO/DIVULGAÇÃO)

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Uma das grandes lições deixadas pela tragédia de Mariana, em relação à atuação do Corpo de Bombeiros no rompimento da barragem de Brumadinho, três anos depois, em janeiro de 2019, foi a separação dos militares que realizariam as buscas de sobreviventes e corpos no local daqueles que ficariam responsáveis pela comunicação diária com os familiares das vítimas.

“É importante haver essa separação para não haver mistura de sentimentos. Eu fiz esse papel duplo em Mariana, tendo contato direto com a dor de pais e mães, o que acaba sendo um fardo muito pesado”, registra o capitão Leo Farah, especialista em Gestão de Desastres Naturais que esteve à frente das operações de resgate dos bombeiros nas duas cidades mineiras.

Uma experiência que o militar reproduz em detalhes no livro “Sobre Bombeiros e Heróis”, recém-lançado pela editora Letramento. Os heróis do título, frisa ele, não são os mais de 400 profissionais que atuaram (e continuam atuando, em busca dos últimos corpos) em Brumadinho. Mas sim pessoas comuns que serviram como voluntários em diversas atividades durante os primeiros dias pós-rompimento.

“Diferentemente de nós, essas pessoas não tiveram nenhum treinamento especial, mas dedicaram um momento de suas vidas a ajudar os bombeiros na operação. São heróis porque, com pequenas atitudes, é possível grandes feitos e mudar o curso de uma operação”, destaca Farah, que cita desde a mulher que lavava a farda até um grupo de pessoas que arrumaram os colchões de dormir dos militares.

O autor prefere não romantizar a figura do bombeiro, destacando a importância do treinamento para atuação em desastres como aconteceram em Mariana e Brumadinho. Ele lembra que, 40 dias antes, estava na coordenação de um curso de especialização para atuação em desastres como enchentes, inundações e soterramentos de estruturas colapsadas. No grupo, estavam 30 militares mineiros.

“Não sabíamos o que iria acontecer, mas conseguimos entregar mais de 30 profissionais capacitados para a operação e colocar em prática o que aprenderam”, assinala. No curso, eles anteciparam muitas das circunstâncias vivenciadas durante o resgaste. “Ficaram sujos da cabeça aos pés, horas sem dormir e se alimentar, chegando o mais próximo possível de uma situação de desastre”.

Consciência

Leo Farah vê um grande esforço para dar uma solução às pessoas e famílias atingidas pelo desastre em Brumadinho, mas tem consciência que esse tipo de tragédia não será o último no Estado.

“Minas Gerais tem essa característica, de ser um estado de extração de minério. Os desastres irão acontecer novamente e cabe ao Corpo de Bombeiros estar preparado”, afirma.

O que vale, inclusive, abandonar as férias e se esquecer que estava com um pé quebrado. Farah não pensou duas vezes antes de atender ao chamado de seu comandante, em 25 de janeiro de 2019.

“O helicóptero foi me buscar em casa, em Nova Lima, e aproveitei para fazer os primeiros sobrevoos para entender a extensão da tragédia”, recorda o capitão.

A partir da entrada da aeronave, Farah viveu dias intensos, a ponto de esquecer que se recuperava de uma fratura. “Só fui lembrar três dias depois, quando tirei o coturno e vi meu pé inchado”.

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