(UNIVERSAL/DIVULGAÇÃO)
A poucas horas da cerimônia de entrega do Oscar (é amanhã!) e com o principal prêmio da indústria do cinema dos Estados Unidos já figurando entre os trending topics nas redes sociais, surgem três tipos de espectadores: os que assistiram a tudo, aqueles que se garantiram com os favoritos nas bolsas de apostas e quem não conseguiu ver nada. Apesar de os filmes serem a razão de ser da premiação, independentemente de qual categoria o espectador estiver, o que estará sendo dito e mostrado durante a cerimônia o Kodak Theatre, em Los Angeles, poderá se tornar muito mais importante do que aquela famosa frase “and the Oscar goes to...”. Se as questões políticas já marcaram o Globo de Ouro – onde vários nomes de Hollywood se posicionaram contra o assédio – a situação não deve ser diferente a cerimônia do Oscar. “Esse ano, a premiação vem muito atenta às questões da época, os indicados estão com uma verve política, em temáticas como a homoafetividade, a questão feminina, o racismo. A tendência é que cada vez mais o Oscar seja cada vez mais uma marca do momento”, ressalta Ana Lúcia Andrade, professora de cinema da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Não por acaso, a tão cobrada diversidade dá mais as caras entre os indicados – como no filme “Corra”, que concorre a quatro estatuetas, dentre elas a de melhor filme e melhor diretor para Jordan Peele ou nas indicações femininas com Greta Gerwig, pela direção de “Lady Bird – A Hora de Voar”. “É um avanço tardio e ainda pequeno, mas que é importante”, pontua Andrade. PresidenteA questão política não se limita somente às discussões de representatividade, embora elas sejam parte fundamental destas expectativas. É notável que a “Era Trump” deve reverberar nas decisões da academia. “Ela está refletida nesses indicados. Por isso acredito que o vencedor será o ‘A Forma Da Água’, porque ele tem essa questão política do imigrante, do negro, o homossexual representado no monstro. É uma fábula lúdica em um momento de cinismo”, opina a professora. O jornalista Renato Silveira observa que a manifestação contrária ao atual presidente norte-americano deve ser ainda mais presente na cerimônia do Oscar. “A Academia, como um todo, tem um posicionamento mais democrata. A Michele Obama já anunciou uma premiação. Só isso, diz muito sobre como a academia se afirma politicamente”, afirma. “Temos filmes que contestam esse autoritarismo característico da administração do Donald Trump, da intolerância”. Assim, Silveira aposta também na força de “A Forma Da Água”. “É um filme político, que tem no seu pano de fundo um manifesto contra a intolerância em relação ao estranho. Se pensarmos no monstro do filme como uma criatura que vem da América Latina e é levada para os Estados Unidos para ser estudada, é muito simbólico”, destaca. DISNEY/DIVULGAÇÃO / N/A
“Viva – A Vida é uma Festa” enaltece a cultura mexicana, alvo de ameaças de Trump Em diversas categorias, filmes amplificam questões contemporâneas Durante muito tempo encarado como uma solenidade cafona e demorada, o Oscar ganhou um viés político nos últimos anos– que deverá ser multiplicado neste domingo, com críticas à administração do republicano Donald Trump e manifestações contra o assédio sexual na indústria, que vem pautando várias premiações. Neste sentido, a escolha dos filmes reflete algumas dessas manifestações. Mulheres em luta contra a opressão machista ganham destaque a partir da categoria principal, com “A Forma da Água” e “Três Anúncios para um Crime” aparecendo entre os possíveis vencedores. O primeiro, de Guillermo del Toro, traz outras importantes bandeiras, como o amor interracial num momento em que Trump tenta fechar as portas para a imigração. O que também pode ser estampado em del Toro, um mexicano bem-sucedido em Hollywood. Frances McDormand, protagonista de “Três Anúncios”, caminha para ficar com a estatueta de atriz num filme que critica a cultura da violência americana, hoje em franca discussão devido à liberação do porte de armas, defendida por Trump. GeopolíticaSe Gary Oldman vencer por seu papel em “O Destino de uma Nação”, como o primeiro-ministro Winston Churchill, terá quem veja um aceno para um maior protagonismo inglês no jogo geopolítico, em contraposição a Trump e o premiê russo Vladimir Putin. “Dunkirk”, que está entre os candidatos a melhor filme, retrata o mesmo momento histórico de “O Destino de uma Nação”, mas com história voltada para o front, sobre a retirada de milhares de soldados cercados por nazistas, durante a Segunda Guerra. Com Christopher Nolan correndo por fora na categoria de direção, o filme traz uma leitura interessante: vitória ou derrota é uma questão de ponto de vista. No quesito fotografia, a indicação de Rachel Morrison, por “Mudbound – Lágrimas do Mississipi” é um marco, com ela sendo a primeira mulher a concorrer na categoria. Por sinal, é a mais democrática de todas, reunindo cinco fotógrafos de diferentes países. Outra expectativa é sobre um troféu de melhor longa de animação para “Viva – A Vida é uma Festa”, que enaltece a cultura mexicana e aborda a necessidade de perdão. Tema também presente em obras como “Três Anúncios para um Crime”, “Ladybird” e “Mudbound”. (PHS) N/A / N/A