
Será lançado nesta quarta-feira (20) um site que reúne textos que analisam, sob diferentes óticas, a trajetória e a contribuição de Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu, nas áreas do teatro, história da arte, política e psicanálise. O público ainda poderá conferir um bate-papo com os autores e o lançamento de um curta-metragem.
Quem está à frente do trabalho é a jornalista, atriz e gestora cultural Ana Gusmão, que comandou o desenvolvimetno de uma vasta pesquisa, além da criação e produção de textos sobre Pagu. Alguns pensadores foram convidados para discorrer acerca de temas ainda pouco explorados no campo científico, nas biografias lançadas e nas pesquisas disponibilizadas na internet.
São, ao todo, quatro temas e cada articulador foi convidado a produzir um texto estabelecendo uma temática a partir de suas vivências e áreas de atuação. "Pagu na história política do Brasil" é assinado pelo professor de História: Carlos de Freitas; "Pagu e a psicanálise", da enfermeria e psicalista Juliana Motta; "Pagu e o teatro", do diretor teatral, dramaturgo e professor Luiz Paixão; "Pagu e a história da arte". de Luiz Flávio, professor de História da Arte;
“A vontade inicial foi provocar esses quatros pesquisadores, que são reconhecidos em seus campos de atuação, para desenvolverem os trabalhos a partir da coleta de dados e do diálogo com outros autores já trabalhados por eles. Dessa forma, temos um conjunto de textos bem distintos, com conexões e abertura de campos para reflexão a partir da obra paguniana”, ressalta Ana Gusmão.
Cada um desses autores também foi convidado a participar de um bate-papo com a atriz e produtora, Ana Gusmão, gravados no Teatro Feluma, onde tiveram a oportunidade de apresentar detalhes sobre os estudos. O projeto contou ainda com a produção do curta-metragem “Tanto me foi negado, por justa causa, eu diria”, em parceria com o diretor e videomaker Israel Menezes, da Moca Filmes. O filme tem roteiro e atuação de Ana Gusmão e reúne um depoimento escrito à partir do encontro da artista com Pagu.
O contato de Ana Gusmão com a vida e obra de Pagu foi se intensificando nos últimos anos, em função de um espetáculo que ela produziu sobre a referida artista. Durante o processo, ela acabou se encantando pelo universo desta mulher e decidiu continuar seguindo seus estudos.
A base deste projeto está justamente na relação entre a pesquisa e a troca de conhecimentos com a premissa de criar documentos e registros desenvolvidos a partir de uma linguagem simples e direta, sem perder a conexão com a informação, disseminando os conhecimentos e a trajetória de Pagu, além de trazer uma reflexão sobre a contribuição de sua atuação e militância para os tempos atuais e a conexão com as causas políticas e sociais que estamos discutimos hoje. Todo o material estará disponível no site da Caligari Produções a partir de 20 de outubro.
Sobre Pagu
Embora não tenha participado da Semana de Arte Moderna, foi alçada ao título de musa do modernismo com apenas 12 anos. Desde então, teve uma vida bastante agitada. O apelido Pagu foi dado pelo poeta Raul Bopp, ao dedicar a ela o poema “Coco de Pagu”. Bopp inclusive foi quem a apresentou a Oswald de Andrade. Anos mais tarde, Pagu e Oswald chegaram a se casar.
Apesar de ter crescido dentro de uma família de classe média, em São João da Boa Vista, no interior de São Paulo, Pagu já demonstrava desde cedo ser uma mulher avançada para os padrões da época. Aos 15 anos, trabalhava como redatora em um jornal na capital paulista, onde também assinava, sob o pseudônimo de Patsy, críticas contra o governo e injustiças sociais. Aos 18, sob a influência de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, ela se integra ao Movimento Antropofágico.
Militante ativa do comunismo, Pagu foi a primeira mulher presa por motivos políticos no Brasil, totalizando 23 detenções. Além do forte histórico de lutas políticas e causas feministas, sua biografia é preenchida por diversas obras artísticas. Ela escrevia, desenhava, traduzia textos e ainda atuava na direção de peças teatrais.
É autora de "Parque Industrial"(1933), considerado o primeiro romance proletário da literatura brasileira. Na época, o livro foi lançado sob o pseudônimo de Mara Lobo. Por conta de toda essa trajetória, Pagu é uma personagem intrigante e muito inspiradora, se destacando por várias épocas. Seus ideais continuam atuais, mais atuais do que nunca. Entre as suas bandeiras constavam temas como justiça social e a transformação da pessoa por meio do acesso à cultura.