Palco e coxia: Entrevista com a bailarina Paula Cançado

Altino Filho - Do Hoje em Dia
06/01/2013 às 14:54.
Atualizado em 21/11/2021 às 20:20
 (BAM/Divulgação)

(BAM/Divulgação)

Depois de tantas turnês pelos quatro cantos do mundo, a bailarina Paula Cançado, uma das mais longevas do Grupo Corpo (dezessete anos como bailarina e mais três como assistente de coreografia) acumulou não só experiência, mas também muita história pra contar. E uma das mais saborosas aconteceu na Finlândia, em Kuopio, 14 anos atrás, durante um Festival de Verão.

É bom que se entenda que festival de verão na Finlândia significa 24 horas de sol ininterrupto. Noite? Só quando acaba o verão, e olhe lá! "Toda a companhia de dança lutava para colocar cobertores nas janelas", conta Paula, mas mesmo assim o sol teimava em invadir o quarto, glorioso e perene.

O Corpo apresentaria – como apresentou - os espetáculos "Parabelo" e "Nazareth", só que o container do Grupo, onde estavam todos os cenários e figurinos (inclusive as sapatilhas dos bailarinos!) se extraviou, Deus sabe lá aonde.

No melhor espírito "o show não pode parar", o Grupo resolveu dançar assim mesmo. As roupas usadas para ensaios e aulas de balé foram a solução e, como não havia sapatilha pra todo mundo, o jeito foi compartilhar os poucos pares com toda a companhia.

Aventura

"Foi uma loucura! Quando a gente saía de cena durante o espetáculo entregava a sapatilha para uma colega que iria entrar em seguida e vice-versa. Mas o Corpo estava tão unido, tão empenhado em superar aquela adversidade, que acabamos fazendo um espetáculo emocionante e cheio de energia. O público foi ao delírio e aplaudiu infinitas cortinas, foi lindo demais!" relembra Paula.

Começo

O Grupo Corpo começou em 1975, com uma família mineira de seis irmãos. Hoje, quatro deles ainda trabalham na companhia. Paulo Pederneiras é o diretor artístico. Rodrigo, o coreógrafo. A irmã Mirinha é a ensaiadora e José Luiz, fotógrafo.

Desde sempre, as coreografias se dão em torno de trilhas sonoras que privilegiam uma música próxima e de qualidade. Foi assim com "Maria, Maria" e o "Último Trem", os dois primeiros espetáculos do Grupo com música de Milton Nascimento – e que foram seguidos por diversos outros.

Trilhas exclusivas

A partir de 1992, já renomado por aqui e bastante conhecido lá fora, o Grupo Corpo começa as parcerias com os mais variados músicos para uma composição exclusiva de suas trilhas sonoras.

Entre os que já compuseram obras especialmente dedicados à companhia, estão nomes do quilate do Uakti, José Miguel Wisnik, Tom Zé, Arnaldo Antunes, João Bosco, Caetano Veloso, Moreno +2 (Kassin e Domenico) e Lenine.

Antes do Corpo

"Desde que me conheço por gente, adoro dançar. Quando eu era pequena, tipo 8, 9 anos, todo fim de ano fazia um espetáculo na casa dos meus pais. Escolhia um tema, fabricava os figurinos, chamava minhas vizinhas e ensaiava elas. Escolhia as músicas, fazia os programas que seriam distribuídos aos convidados sentados na rua, que pagavam ingresso mas ganhavam um lanche da minha mãe depois do ‘show’", conta Paula, divertida.

Depois veio o balé da escola Zilah Frota, com a professora Victória Faria. "Quando Victória abriu o Compasso Academia de Dança, ela me convidou para entrar na escola. Minha mãe me matriculou e depois ameaçou me retirar dizendo que papai estava meio apertado financeiramente. Victória não deixou e nem a Lúcia Vieira, sua sócia. Acho que, se sou uma profissional hoje, devo muito àquele gesto das duas..." diz Paula Cançado.

Medo e expectativa

A primeira vez que Paula Cançado viu um espetáculo do Grupo Corpo foi em 1989: "Missa do Orfanato". "Fiquei tão impressionada e maravilhada que tive só a certeza que era naquele lugar que queria dançar pelo resto da minha vida".

No ano seguinte, o Corpo abriu uma audição para duas vagas de bailarinas. "Eu fui fazer cheia de medo e expectativa e fiquei em terceiro lugar." diz Paula, que acabou sendo convidada para fazer aulas na escola da Cia e ir convivendo com eles.

"Fiz aulas por um bom tempo até ser contratada em setembro de 1992. Fiquei realizada e é bacana lembrar como fui bem recebida desde o primeiro momento", enfatiza Paula, grata pelo reconhecimento do Grupo.

O público, por sua vez, agradece a cada corpo que faz da dança um exercício de encantamento.

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