Peça escancara violência sofrida por pessoas trans

“BR-Trans” chega a BH após turnê de sucesso

César Augusto Alves
cpaulo@hojeemdia.com.br
17/08/2016 às 18:05.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:25
 (Caique Cunha/Divulgação)

(Caique Cunha/Divulgação)

O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais, segundo pesquisa da ONG Transgender Europe, realizada em 2015. O estudo aponta ainda que são poucas as que conseguem passar dos 35 anos. Por dez anos, o ator Silvero Pereira percorreu seis estados brasileiros para conhecer de perto esta realidade de preconceito, violência e margi-nalização. O resultado é o espetáculo “BR-Trans”, que chega nesta quinta-feira (18) a BH.

No início, conta Pereira, o espetáculo se traveste de apenas mais uma caricatura do personagem trans. Logo depois, o primeiro “tapa na cara”. O público é confrontado com as histórias reais que Silvero recolheu nesta década de pesquisa, que se concentram em uma única personagem no palco a desfilar estes relatos. Com tantos retalhos doloridos, a peça se resolve ao focar a narrativa em quatro pontos centrais: morte, suicídio, afeto e superação.

Para o ator, é um momento onde, além de representar, ele revisita cada emoção vivida durante o período de pesquisa e laboratório. Assim, o texto se apresenta de forma quase documental, não apenas uma dramaturgia ficcional. “Tudo é muito verdadeiro, as emoções que eu sinto ainda são viscerais. Incomodam bastante. Ainda me sinto espectador da minha própria obra”, relata.

As verdadeiras protagonistas da produção também a assistem – e se comovem, garantiu Silvero. Em uma sessão no Rio, uma travesti ativista levou cerca de 20 trans e travestis para assistir, algumas acompanhadas de suas mães. Todas saíram de lá chorando, garante. Se viram no palco além do estereótipo.


“BR-Trans” é a segunda peça do artista a abordar o tema. Em 2005, Silvero estreou “Uma Flor de Dama”, que discutia as amarguras e desejos de uma travesti. Foi quando fundou o coletivo “As Travestidas”. A partir daí que o projeto atual se fez possível. Com o trabalho no coletivo, conseguiu mudar um pouco a realidade no Ceará. 

No Brasil, a estrada ainda é longa. “Estamos caminhando para um bom lugar há passos muito curtos. Não é um modismo falar disso. A arte é um reflexo da sociedade que a gente vive. Se o artista fala é porque incomoda a sociedade. É esse o lugar da arte”.

O ator (que diz transitar entre os gêneros masculino e feminino, ao encarnar em sua rotina a personagem Gisele Almodóvar) é enfático ao dizer que “As Travestidas” é o projeto da vida dele. “São vários artistas que tentam mostrar, para além do corpo, da roupa, a essência do ser humano. Esse é meu projeto de vida. Todo mundo que é excluído se identifica”. 

Serviço: “BR Trans” – De 18/8 a 19/9, de quinta a segunda, às 19h, no Teatro II do CCBB BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia). Informações: (31) 4341-9400.

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