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Peça usa um fictício cenário político nas eleições para reafirmar a necessidade do debate

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
11/02/2022 às 08:53.
Atualizado em 11/02/2022 às 08:53
ESTREIA – Baseada em texto de Guel Arraes e Jorge Furtado (foto no alto), “O Debate” tem no elenco Eduardo Moreira (acima) e Ângela Mourão (FERNANDO LARA/DIVULGAÇÃO)

ESTREIA – Baseada em texto de Guel Arraes e Jorge Furtado (foto no alto), “O Debate” tem no elenco Eduardo Moreira (acima) e Ângela Mourão (FERNANDO LARA/DIVULGAÇÃO)

Dois dos principais nomes do cinema brasileiro atual, responsáveis por títulos como “O Auto da Compadecida” e “O Homem que Copiava”, Guel Arraes e Jorge Furtado não quiseram esperar o lançamento oficial dos candidatos à Presidência da República para criar o cenário do livro-peça “O Debate”, colocando em lados opostos, no segundo turno, o atual ocupante do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro, e Luiz Inácio Lula da Silva, dirigente do país de 2003 a 2010.


Em outubro do ano passado, a dupla se debruçou sobre esse embate de poloarização ciente de que corria riscos em sua previsão. Furtado, que não esconde a filiação política, voltada para a esquerda, torce por um “equívoco”, com a resolução da eleição ainda no primeiro turno, em favor de Lula. Na verdade, apesar de esse duelo mover paixões e humores, o que o texto busca ressaltar é simplesmente o direito de poder discutir.
“É inacreditável que a gente viva num país em que o presidente não dá entrevista. É um retrocesso, com os debates sendo interditados e cada um vivendo em sua bolha”, registra Furtado. Com a mesma rapidez com que a publicação chegou às livrarias, o texto recebeu a sua primeira montagem, comandada pelo mineiro Adyr Assumpção. A estreia acontece neste fim de semana, de sexta a domingo, no Galpão Cine Horto.


Eduardo Moreira e Ângela Mourão interpretam o casal de protagonistas, dois jornalistas que, em meio a um processo de divórcio, acompanham dos bastidores da TV um acalorado debate entre Bolsonaro e Lula, passando a limpo os rumos tomados pelo país nos últimos anos. “A dramaturgia sempre teve esse função de nos fazer entender as coisas sem ser impositiva ou didática, sem querer provar nada”, registra o realizador gaúcho.
Para ele, é função da democracia pôr em debate temas essenciais ao melhor funcionamento do país, como a questão da vacina. “A dialética, formada por tese, antítese e síntese, é isso: você conversa, o outro acrescenta e, com isso, avançamos. A sociedade precisa desse debate para saber se é uma boa ideia liberar o uso de armas, se vai diminuir ou aumentar o número de mortes, ou se a cadeirinha de bebê do carro protege ou não as crianças de ferimentos”, analisa.


A discussão sobre o uso da vacina evitaria, por exemplo, o grande número de mortes decorrentes de Covid-19 no Brasil, país que sempre foi considerado um exemplo mundial em campanhas de imunização, chegando a aplicar doses em milhões de pessoas num mesmo dia. “Você pode conversar sobre a ideia de fechar as escolas ou se o isolamento social está sendo bem feito, mas defender a vacina é um avanço civilizatório”.


Pela estrutura como o texto do livro-peça foi montado, Furtado não teme que, após as eleições de 2022, “O Debate” possa perder a atualidade. “Apesar de ter sido escrito no calor da hora, estamos atualizando diariamente. É uma história que pode sobreviver ao momento, já que lidamos com questões meio cíclicas, se pensarmos que tivemos três presidentes (Jânio Quadros, Fernando Collor e Bolsonaro), que se elegeram com discurso anticorrupção e antipolíticos”, assinala.

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