Pedro Cardoso traz a peça “Autofalante” pela primeira vez a Belo Horizonte

Thais Oliveira
taoliveira@hojeemdia.com.br
01/09/2016 às 16:44.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:39
 (Guga Melga/Divulgação)

(Guga Melga/Divulgação)

Sem emprego, sem mulher, sem mobília, sem poder de comunicação. Uma linha tênue entre solidão e esquizofrenia é demarcada. O fim é o desespero – ou o começo, não temos certeza. “O enredo, deixo para quem vier assistir”, aguça Pedro Cardoso. O ator se refere ao espetáculo “Autofalante”, escrito e encenado por ele, em cartaz pela primeira vez em Belo Horizonte, amanhã e domingo, no Grande Teatro do Palácio das Artes. 

Apesar de estabelecer-se sobre o drama de um homem em meio a um surto de identidade, o monólogo é uma comédia. “A reflexão é sempre prazerosa porque é libertadora. Mesmo do assunto mais angustiante, encontramos alívio quando nos dispomos a enfrentá-lo. Só creio num teatro que seja o tempo todo agradável como uma roda de samba”, diz Cardoso. 

A reflexão, explica o artista, está no modo de produção de riquezas, a qual produz a solidão. Mesmo a peça tendo sido criada em 1993, na visão de Cardoso, tal fórmula econômica é atual. “Não haver trabalho para alguém é, em minha opinião, prova de que a economia, como se encontra organizada no nosso tempo, favorece o surgimento de milionários e de pobres quando deveria promover o bem de todos”. 

"Artisticamente, há sempre bom teatro e mal teatro. Vejo com alegria o surgimento de excelentes jovens atores, como Rodrigo Santana, para citar apenas um. Me inquietam as imperfeições dos mecanismos de incentivo à produção e a nossa timidez em defender o país do avanço da indústria cultural estrangeira. Não acho que nenhum governo recente tenha tido uma boa política cultural ou sequer, alguma" Pedro Cardoso, ator, redator, roteirista e escritor

Falta de comunicação
No caso do personagem, o desemprego culmina na desagregação de sua personalidade. Sem poder compartilhar o drama, pois não há meios pelos quais possa se comunicar com outrem, ele se afunda. “Pareceu-me oportuno voltar a refletir sobre a falta de comunicação efetiva entre as pessoas e o poder. Ninguém tem voz ativa, apesar de vivermos em um tempo de muitas tecnologias destinadas a informar”, considera Cardoso, ao explicar o motivo de retornar com a peça feita 23 anos atrás.

Sem retoques
A atemporalidade da trama preservou o texto na íntegra. Não houve adaptação, a não ser os vídeos aos quais o personagem assiste em cena. “Quis introduzir o espetáculo patético que foi a votação da admissão do processo de impedimento de Dilma (afastada da presidência da República na última quarta-feira) pelo Congresso”, justifica. 

No mais, Pedro Cardoso deverá encarnar a mesma graça de Agostinho Carrara, da série “A Grande Família”, papel que desempenhou por 14 anos na TV Globo e pelo qual sempre será lembrado.

Serviço: “O Autofalante”, de Pedro Cardoso, sábado (3), às 21h, e domingo (4), às 19h, no Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1537). Plateia I: R$ 100 e R$50 (meia). Plateia II: R$ 90 e R$ 45 (meia). Plateia Superior: R$ 80 e R$ 40 (meia). Na compra de uma entrada inteira, na bilheteria, a segunda terá 50% de desconto.

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