Por uma vida com mais chás

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
29/11/2014 às 09:04.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:12
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

Porto das mais variadas tribos, Belo Horizonte conta com um número considerável de apaixonados por chá – bebida que está entre as três mais consumidas do mundo, juntamente à água e ao café. Mas se na Europa encontrar uma casa especializada em chá é tarefa fácil, por aqui a missão é, de certa forma, hercúlea. Mais ainda: na capital nacional dos bares, encontrar espaços com cardápios variados de chá é um verdadeiro achado.   Entre eles está a recém-inaugurada Chá Comigo, no bairro Santo Antônio, zona sul de BH – um lugar super charmoso e aconchegante que oferece opções variadas de chás quentes e gelados (dez, para sermos mais precisos). Todos eles vêm da Alemanha e são servidos a granel. Além disso, as ervas são apresentadas nas latas, para que o cliente possa sentir o aroma.   “Mas, sinceramente, acredito que o diferencial está no permitir que esse lugar seja a casa dos meus clientes: seja pela boa internet que ofereço, pelo fato de não ter garçom – é preciso ir ao balcão fazer o pedido – ou pelo filtro que tenho na parede (as pessoas podem beber água de graça)”, afirma a proprietária da casa, a belo-horizontina Laura Damasceno, de 28 anos.   “Muitas vezes, estamos desalojados na cidade e precisamos usar o banheiro, carregar o celular, tomar uma água... e não temos lugar. A Chá Comigo é uma soma de aconchegos dos quais eu sentia falta, e que hoje posso proporcionar”, comemora.   Chá de verdade   “Equivocadamente chamamos tudo de chá, mas só uma árvore no mundo produz a folha do chá, a Camellia sinensis. Se a base da infusão não for essa folha, não é chá. Ou seja, o capim-limão, a erva cidreira, a camomila e o mate são infusões de flores, frutas e ervas”, ensina Laura, frisando que isso não torna essas bebidas mais ou menos nobres. “Simplesmente não são chás porque não têm a folha do chá”, resume.   O cardápio foi montado a partir de uma extensa pesquisa e dos cursos de chá – e também de café – que a moça fez em São Paulo. “Achei que seria legal oferecer opções de chá verde, preto e branco. A diferença entre eles é só o tempo de oxidação. No caso do chá preto, por exemplo, ele é 100% oxidado, enquanto a folha do chá verde tem 0% oxidação. Outra opção que fiz questão de trazer foi o rooibos, uma raiz da África do Sul muito legal e leve que o cliente pode beber sem medo de perder o sono”.   Por uma vida mais saudável   Também fã de carteirinha dos chás em BH, a chef Marlice Rocha, 45 anos, diz que uma das infusões que mais vêm fazendo sucesso no momento é a de hibisco (a partir das flores do Hibiscus sabdariffa, ou, no Brasil, a vinagreira). “De cor vermelha, esteticamente é muito bonito. Tem um sabor ácido e adocicado. É bem gostoso”. Para ela, numa época na qual as pessoas estão cada vez mais preocupadas com a saúde, ser um consumidor de chá é uma resposta aos produtos com grandes escala de químicos. “Hoje, vamos ao supermercado e encontramos o chá gelado na mesma prateleira do refrigerante e dos sucos enlatados. A tendência é que essa bebida seja a preferida daqui por diante”.     A proprietária da Chá Comigo, Laura Damasceno faz coro com a chef. “Acredito que BH tem tudo para abraçar as casas de chá. Em São Paulo, esses espaços estão se multiplicando e até virando franquias. Muito disso se deve à essa preocupação – que atinge todo o mundo. As pessoas estão cada vez mais atentas ao que consomem”, assegura Laura:   Ela entende que, a partir do momento que o consumidor começa a ler atentamente a fórmula de refrigerantes e sucos de caixinha, vai acabar optando pelo chá. “Além de ser uma bebida muito gostosa e que pode ser refrescante, ela é 100% natural e, para mim, nem precisa ser adoçada”.   Para ter em casa   Segundo Laura, a melhor forma de conservar o chá é guardando-o numa lata. “Dessa forma, não entra em contato nem com o calor nem com luminosidade”. Para quem quer fazer em casa, a moça disponibiliza um kit com todos os utensílios necessários – até um caixinha com 32 gramas de chá, com a qual é possível preparar entre oito e dez infusões.   “Os chás que ofereço chegam até aqui partir de uma importadora localizada no interior de São Paulo, que há mais de 20 anos importa chás da Alemanha, mas distribui principalmente para hoteis do Brasil”, revela.   Entre os chás oferecidos estão o English Breakfast (a mais tradicional mescla de chás pretos), Le Touareg (chá verde gunpowder com menta), Green Hopper (chá verde e chá oolong, flores de chá e pétalas de girassol) e Night in Paris (chá branco, flores de lavanda e pedaços de baunilha).   Por lá, a apresentação do chá quente é feita em uma chaleira e xícara de vidro transparente – “porque a cor do chá é muito bonita”. Já o chá gelado, Laura serve no pote de conserva. Tipo pote de geleia. Tudo para conferir o charme ao espaço. “Toda louça foi garimpada em venda de garagem. Tem até um prato no qual se lê ‘bodas de prata’. Sei lá de quem eram as bodas, mas ele é lindo”, ri. Aliás, por lá, é possível deixar o café do próximo cliente pago. “Daí você chega aqui e, ao pagar a bebida, alguém já pagou para você. Não é uma surpresa deliciosa?”.   A origem sob os pés de uma Caméllia   Entre as lendas que narram o nascimento do chá, a mais célebre relata o tempo em que o imperador chinês Sheng Nong, na tentativa de solucionar a constante incidência de surtos epidêmicos em seu reino, criou uma lei que obrigava o povo a ferver a água antes de ingeri-la.   Um dia, repousando sob uma árvore, a Caméllia Sinensis, cultivada no Himalaia, o soberano deixou sua xícara de água esfriando um pouco, e logo percebeu que algumas folhas haviam caído sobre o líquido, conferindo-lhe um tom castanho.   Ao experimentar a bebida, descobriu que ela possuía um sabor aprazível, difundindo, assim, o cultivo desta bebida entre seus súditos.

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