'Raízes' reúne jovens autoras negras em publicação

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
05/11/2018 às 19:58.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:37
 (AGNES ALESSANDRA/DIVULGAÇÃO)

(AGNES ALESSANDRA/DIVULGAÇÃO)

 Maior escritora negra da atualidade, Conceição Evaristo nunca escondeu a receita para furar o bloqueio num mercado literário em que 93% dos autores são brancos. Ela só conseguiu começar a publicar seus textos em obras coletivas organizadas por movimentos sociais, dividindo os créditos com outros autores negros. Mesmo caminho trilhado pelo livro “Raízes”, que será lançado quinta-feira, no Memorial Minas Gerais Vale. Apesar de nomes como Djamila Ribeiro representarem ótimas vendas, assim como na década de 80 o cenário não é muito diferente para os jovens, como atesta Karine Bassi, escritora, organizadora da publicação e dona da editora Venas Abiertas. “Sentimos a necessidade de, mais uma vez, as nossas vozes serem ouvidas. Querendo ou não, a materialização do que você escreve acaba gerando um sentido, para quem lê ou para quem escreve”, analisa. A organizadora ressalta que ações como essa podem representar o acesso à leitura a quem antes resistia a comprar um livro. “Temos relatos de pessoas que não liam e que mudaram essa condição após se enxergarem nos personagens, nas histórias que são narradas”, observa. No caso de “Raízes”, que já teve uma primeira tiragem praticamente esgotada, ela espera criar o mesmo efeito em mulheres negras, tema principal da publicação. Com 20 autoras, a maior parte de Minas Gerais, o livro abraça vários estilos, do conto e da crônica à poesia. Em quase todos, percebe-se uma atenção especial à voz da mulher negra na sociedade, como narradora e como personagem. “Não estipulamos um tema, mas essa questão acabou permeando o livro, independentemente do estilo literário”, registra Karine, que participa da coletânea com dois poemas.  O chamamento se deu por redes sociais e o resultado surpreendeu a editora, que já pensa num segundo volume. O desejo da organizadora é lançar um livro por ano direcionado às jovens autoras negras. A primeira publicação foi feita num modelo de cooperativismo, com cada autor contribuindo com um valor. “A gente espera que, com a venda dos exemplares, as autoras possam receber recursos que permitam investir em novos livros”. O lançamento de “Raízes” faz parte da programação do “Sarau das Pretas”, projeto de diversidade periférica do Memorial Minas Gerais Vale. As sete autoras mineiras (além de Karine, participam Regiane Martins, Julia Gomes, Dalva Maria, Thabata Cristina, Laura Oliveira, Negra Julie e Giovanna Heliodoro) farão o sarau, com diversas intervenções artísticas. Um segundo lançamento acontecerá na sexta, em São Paulo. SERVIÇOSarau das Pretas – Lançamento do livro “Raízes”. Nesta quinta, às 19h30, no auditório do Memorial Minas Gerais Vale (Praça da Liberdade, 640). Entrada franca.

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