
Para quem afirmou, ainda nos anos 60, que em um futuro próximo todos teriam seu quinhão de fama (15 minutos, para ser exato), antecipando muito da lógica de celebrização instantânea do mundo contemporâneo, é possível que Andy Warhol, se estivesse vivo para celebrar, hoje, 90 anos, desse uma risadinha irônica confirmando a própria profecia.
Se bem que, quando da morte dele, em 1988, já vivíamos um mundo warholiano, sem dúvidas. Não apenas no que se refere à fama como uma meta central, mas também na absorção quase total pela sociedade de muito do que inspirou a carreira dele: a lógica do consumo, a força da mídia, a arte como dinheiro, o dinheiro como arte.
E talvez tudo isso reforce sua permanência no mundo das artes: Warhol é valioso no mercado e atrativo para o público que roda as catracas de museus. “Sua permanência tem explicações que não se relacionam diretamente com suas obras de arte, temos a ‘persona midiática’ que criou, o contexto no qual trabalhou, suas relações com artistas de vários tipos – inclusive da música– um toque de polêmica, certas ações que aparentemente foram boas jogadas comerciais. Enfim, uma série de fatores periféricos ligados mais ao artista e menos às obras. Mas existe a potência da própria produção dele, que é grande”, diz o artista plástico, músico e professor Max Henrique. “Me parece que a produção de Andy Warhol conseguiu uma espécie de jogo duplo – o double coding, segundo Umberto Eco – por ser capaz de instigar diferentes camadas de público. Do ponto de vista visual são atraentes para o público mais leigo e conceitualmente são instigantes para a crítica e o campo da arte em geral. Acho que essa característica merece muita consideração em relação ao sucesso dele”.
Outra questão importante é o caráter multimídia de Warhol, que talvez tenha “sublimado” a questão das artes plásticas e atravessa experiências com sua assinatura em cinema, TV, imprensa, o que de alguma forma amplifica seu legado em uma época onde este gesto não era comum. “Tenho dúvidas sobre ele ultrapassar as artes plásticas, porque um artista como Warhol, tão conhecido e importante, acaba sofrendo uma espécie de ‘maldição’ desse campo: praticamente tudo o que faz pode ser considerado obra de arte”, diz Henrique. “Gosto da ideia de que o artista usa o que está disponível no seu tempo. No Renascimento, por exemplo, se usava a câmara escura como ferramenta na pintura. Quando a fotografia surgiu, passamos a usá-la na arte, e assim sucessivamente. Na contemporaneidade essa liberdade em relação à tecnologia utilizada é evidente e vasta. Ainda que a pintura e a escultura sejam referências de mídia artística, já se aceita qualquer coisa. O Warhol tem essa característica”.
De menino silencioso à artista que soube fazer barulho