Saída de cena de Petrobras e BNDES impactará produção audiovisual mineira

Paulo Henrique Silva
18/02/2019 às 17:46.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:36
 (UNIVERSO PRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO)

(UNIVERSO PRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO)

 “Para nós, cultura também é energia. Uma energia poderosa que movimenta a sociedade através da criatividade e da inspiração e que promove crescimento e mudanças”. Apesar de o texto ainda estar presente no site da Petrobras, na seção que fala da atuação da estatal na cultura, o governo federal resolveu “revisar todos os patrocínios” para a cultura, focando os recursos na educação infantil e na orquestra mantida pela empresa. Junto à notícia de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também deverá “zerar os patrocínios culturais”, o cinema brasileira perde os seus dois maiores investidores nas últimas duas décadas, responsáveis pelo fortalecimento do setor. Em Minas, esta perspectiva sombria também terá forte impacto, não só na produção como na realização de festivais importantes. O caso do BNDES chama a atenção porque, no ano passado, o banco lançou edital para apoiar até 22 filmes com R$ 15 milhões. Foram inscritos cerca de 500 projetos. Seis meses após o o final do prazo, nenhum recurso foi liberado e nada foi comunicado aos realizadores.  “A única informação que recebi foi de que o projeto estava habilitado”, registra o diretor mineiro Helvécio Ratton, que teve alguns de seus trabalhos produzidos com o importante auxílio financeiro da das estatais. “Será um baque enorme. A retirada destes dois players do mercado será uma grande perda para o cinema como um todo, praticamente inviabilizando o uso das leis, já que elas estão concentradas na Petrobras e no BNDES”, lamenta Ratton. A despeito da nova política do governo, o diretor questiona o fato de um compromisso ter sido assumido e paralisado sem maiores explicações. Um dos últimos filmes mineiros a receberam recursos do BNDES foi “As Vozes do Silêncio”, de Renata Libanio, em fase de finalização. O documentário, da T’AI Criação e Produção, recebeu R$ 500 mil, “um aporte significativo, correspondente à metade do orçamento”, de acordo com o produtor Adyr Assumpção.  “É um prêmio disputadíssimo e muito legal. Chegamos com pontuação máxima antes do pitching e nos tornamos o primeiro filme mineiro a ganhar depois de muitos anos”, registra Assumpção. Bom negócioOutro setor ameaçado é o dos festivais de cinema. Em Minas, o BNDES é o patrocinador master da Mostra de Cinema de Ouro Preto, responsável por 40% do orçamento. “O banco é o nosso patrocinador desde a primeira edição, em 2006. Estamos começando (a produção da mostra) do zero, que acontecerá de 5 a 10 de junho, e estamos mantendo a esperança. Vamos lutar até o fim”, salienta a coordenadora Raquel Hallak. “Temos que entender que acabar com a política pública de patrocínio afetará diretamente o mercado. Investir em cultura gera empregabilidade e renda”, observa. Ela cita pesquisa da Fundação Getúlio Vargas em que, a cada R$ 1 aplicado em cultura via lei de incentivo, R$ 1,59 retornam para o mercado. “A indústria da cultura e do entretenimento é que mais cresce no mundo”, frisa. Raquel assinala que, por ser um banco de desenvolvimento social, o BNDES tem por natureza incentivar o microempreendedor, apoiando aqueles que estão pondo novos produtos no mercado. “Além do entendimento da cultura como um bom negócio, ela é importante para minimizar a violência, integrar comunidades e projetar a nossa identidade”. O BNDES não encaminhou, a tempo do fechamento desta edição, as respostas referentes à descontinuidade dos investimentos no setor cultural. 

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