Sarug Dagir: ‘O cliente vem aqui também para conversar’

Elemara Duarte - Hoje em Dia
04/02/2015 às 08:25.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:54
 (Hoje em Dia)

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Sarug Dagir, de 37 anos, é uma das fotografadas na série “Hotel Esplêndido”. A transexual baiana veio a Belo Horizonte para estudar e aqui conheceu o trabalho na prostituição. Ela tem curso superior, mestrado e vai começar um doutorado sobre “O valor terapêutico nas relações prostitutivas”. O nome Sarug, esclarece, é o de batismo, tem origem árabe e cabe aos dois gêneros: “a” Sarug ou “o” Sarug. Na entrevista a seguir, ela falou de agressão, filosofia e amor.

Você se lembra da primeira vez que pisou na rua Guaicurus?
Lembro. Eu tinha 20 e poucos anos e experiência de prostituição na rua, aqui em Belo Horizonte. Vim para estudar psicologia, na UFMG, aos 19 anos. Eu terminei o curso, depois fiz mestrado em Teoria da Literatura. Mas por causa da minha condição transexual, tive dificuldade de me inserir no mercado de trabalho. Por uma questão de sobrevivência, assim que me formei, passei pelo processo transexualizador, com tratamento hormonal. Na rua, fazia ponto na Pampulha, mas apanhei das outras travestis, pois não sabia como funcionavam essas questões. Depois disso que vim trabalhar nos hoteis.

Você escreve também?
Eu tenho um romance no prelo. Chama-se “Hermafrodições Literárias: Confissões Eróticas de Uma Hermafrodita”. É um romance escrito por meio de cartas que falam de uma transexual de BH que se apaixona por um rapaz do Rio Grande do Sul. Eles se conheceram pela internet. Sobre a prostituição, hoje escrevo sobre meus clientes. Mas ainda não publiquei. Cada capítulo desse outro livro é a história de um cliente: um de 80 anos, um militar, um jovem...

Oitenta anos?
A minha ideia é de que nas relações prostitutivas encontramos o valor terapêutico. O cliente não procura a profissional do sexo somente para fazer sexo, mas também para conversar. E nisso há a relação do “dizer verdadeiro”, que é a prática da “parrésia” ou o “dizer franco”. Esse é um termo trabalhado por Foucault (Michel, filósofo que viveu entre 1926-1984), que abordou essa questão nos últimos estudos que fez sobre a estética da existência e da vida.

Você deve ser a menina mais intelectualizada aqui.
Tem muitas aqui com curso superior. Mas acho que sou a única que tem mestrado. (Risos)

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