‘Sucessor’ de Chico Xavier tem biografia de sucesso

Elemara Duarte - Hoje em Dia
15/03/2015 às 14:07.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:21
 (Arquivo Ana Landi/Divulgação)

(Arquivo Ana Landi/Divulgação)

Já viraram best-sellers as biografias de Chico Xavier (2003, de Marcel Souto Maior), de Allan Kardec (2013, mesmo autor) e, agora, a de Divaldo Franco, da jornalista Ana Landi. Mas, quem é Divaldo Franco? A resposta mais rápida à pergunta provavelmente vinda de quem não segue a doutrina espírita seria: “Médium considerado o sucessor de Chico Xavier”. Porém, a resposta mais detalhada pode ser conferida mesmo é em “Divaldo Franco – A Trajetória de Um dos Maiores Médiuns de Todos os Tempos” (Bella Editora).   Na primeira semana de lançamento, 40 mil exemplares foram vendidos, conforme levantamento da autora. Esta é a primeira biografia com um “perfil jornalístico” sobre a vida de Divaldo Franco, hoje, com 87 anos.   Mas o que realmente aproxima este personagem dos outros “vultos” da doutrina espírita é a vida de abnegação e de provações que enfrentaram e, no caso de Divaldo, ainda enfrenta em um mundo onde o olhar para o etéreo ainda não é plenamente compreendido. Divaldo comunica-se e interage com espíritos desde os quatro anos. Chegou a ser acusado de louco, charlatão e plagiador.    Pai de centenas de órfãos   Assim como Chico Xavier (1910-2002), em quem se inspirava, era amigo e se aconselhava, Divaldo também tem trajetória dedicada às grandes obras de auxílio. Ele adotou 685 órfãos e criou a Mansão do Caminho, na periferia de Salvador (BA), obra de assistência educacional criada com o amigo Nilson Pereira, que em cerca de 60 anos de atividades tirou pelo menos 160 mil pessoas da miséria.   Outra semelhança com o médium mineiro é o volumoso trabalho psicografado, com 300 livros - Chico, mais de 400 - e mais de 10 milhões de exemplares vendidos. E os direitos? Foram doados integralmente à Mansão. Tal como fez Chico, que também doou os direitos dos livros que psicografou às obras assistenciais.   Mesmo com este fato já conhecido pela comunidade baiana e, mais particularmente, pela comunidade espírita, Ana Landi não arredou o pé da vontade de conhecer tudo de perto, minuciosamente e confirmar, vasculhar e fazer um livro com apuração “bem cercada”, como manda o bom jornalismo.   Confiança da "fonte"   Durante meses, a jornalista tentou aproximar-se do orador com o projeto. Mas, segundo ela, “educadamente” ele se esquivava. “Não tinha ideia que seria tão difícil assim”, diz a biógrafa.   Enfim, Ana passou a fazer parte da rotina de Divaldo, a ganhar a confiança do médium e a colher relatos bem íntimos que ele confidenciava para ela nas entrevistas, como os sentimentos de solidão e as memórias sobre a rigidez na criação familiar.    Neste segundo processo, que durou dois anos, ficou claro para a jornalista que Divaldo não queria “fugir da raia”. Ele queria "fugir do foco". “É o tipo de vida que tem um preço muito alto. E eu só queria contar bem essa história. Não pensei nisso de ser best-seller”, afirma Ana.     TRECHOS DE "DIVALDO FRANCO - A TRAJETÓRIA DE UM DOS MAIORES MÉDIUNS DE TODOS OS TEMPOS"   "— Dona Ana: como é que a senhora deixou que isso acontecesse, na sua idade, e ainda por cima mãe de 12 filhos? Ele lembrou-lhe as dificuldades financeiras que a família atravessava e sugeriu a possibilidade de um aborto. — Que é isso, doutor? Imagina! Francisco está trabalhando bastante, nada vai nos faltar. O médico insistiu: — Além de vocês não poderem criar essa criança, a chance de que ela nasça com um defeito congênito é muito alta. — Matar meu filho? Nunca! Não acho certo, doutor. Antes morrer do que matar. E o menino vingou. Meses depois, em 5 de maio de 1927, Divaldo Pereira Franco nascia em casa – não anormal, como previra o médico, mas paranormal, como se veria em poucos anos".   "— Você acredita no Espiritismo, Nilson? O jovem negou: ele e toda a família eram católicos. — Eu acredito. Sou médium, falo com os Espíritos. Se você quiser, posso ir com você até a sua casa depois das aulas e tentar ajudar. Nilson aceitou. Moravam no bairro Palmeira. O pai, José Leocádio Pereira, marinheiro mercantil, estava afastado do trabalho por problemas de saúde. Ao entrar na casa, Divaldo sentiu que o caso era grave: uma entidade terrível acompanhava o doente. Um Espírito nobre – um médico, que somente se identificaria mais tarde – apareceu a Divaldo recomendando passes e um medicamento homeopático, indicado para o fígado. Enquanto Nilson corria à farmácia para comprar o remédio receitado pelo guia, Divaldo iniciou os passes. Fez assim naquele e nos três dias seguintes. Pouco a pouco, o senhor melhorou e recuperou-se".   "Os conflitos com o pai só foram superados muitos anos depois. Francisco morreu em seus braços, em 1966, na Mansão do Caminho, que já reunia as obras assistenciais do filho, em Salvador (BA). Havia sido levado para lá após adoecer. Começara a apresentar os primeiros sinais da doença de Alzheimer. Costumava fugir e caminhar por quilômetros até a antiga residência no centro da cidade. Um dia o coração parou de funcionar".   "Quando em casa, sem a ajuda dos colegas do Centro, Divaldo buscava dialogar com elas. Sempre dizia brincando que a educação católica e as dramáticas experiências religiosas de outras vidas despertaram a antipatia de seres muito ligados às indumentárias, aos ritos e aos dogmas da Igreja. Muitos se apresentavam como demônios. O médium aprenderia com Chico Xavier, anos depois, que a saída era sempre conversar".   "Decidiu que estes últimos anos seriam dedicados a menos palestras e mais eventos do Movimento Você e a Paz. A intenção é fazer do evento uma ação cada vez mais ecumênica. A aposta tem sido na direção de detectar segmentos, entre as várias religiões e doutrinas, que tenham em comum o forte desejo de contribuir para a redução da violência e da desigualdade social. Não à toa, nutre uma simpatia especial pelo novo papa, Francisco. O nome do líder da maior comunidade religiosa do mundo, escolhido em homenagem ao Santo de Assis, patrono da Mansão do Caminho e grande parceiro de Joanna (Joanna de Ângelis, que foi "Clara de Assis", entre 1194-1253), não seria em vão. Para Divaldo, o papa seria a reencarnação de um dos grandes parceiros de São Francisco na Úmbria".

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