(SONY/DIVULGAÇÃO)
Há um incômodo em “Inferno”, terceiro filme da franquia “Código Da Vinci”, com estreia hoje nos cinemas, e não estamos falando de teorias conspiratórias relacionadas a instituições conhecidas, uma das razões do sucesso do primeiro longa, baseado no polêmico livro de Dan Brown.
Como se trata novamente de um enredo que se apóia na História, além do fato de as duas produções anteriores falarem muito de raças e grupos religiosos, é discutível a maneira como “Inferno” insere a dúvida sobre a confiabilidade de alguns personagens, todos eles negros e mulheres.
No caso do sexo feminino, nos vemos, desde os primeiros minutos do filme, entre duas opções: mesmo que exista troca de posições, sempre uma mulher estará sob suspeita. Surge ainda uma terceira, capanga de um grupo internacional, sobre a qual não temos a menor hesitação de seus objetivos.
Em relação ao personagem negro, a dúvida também persiste até o final. Em se tratando de um trailer, faz parte das regras do gênero estabelecer esse suspense, brincando com a ideia de descobrir os verdadeiros antagonistas. No que diz respeito aos homens brancos, não paira qualquer dúvida.
O simbologista Rodbert Langdon (Tom Hanks) é o mocinho e em quem nos projetamos. Suas alucinações refletem nossas incertezas, principalmente em torno de duas mulheres que convivem ou conviveram com ele. O outro branco é o líder de uma seita que defende o extermínio de metade da população.
Ele morre logo no início e suas ideias, quando reiteradas por outros personagens, parecem sempre lineares e organizadas, carregando uma certa ingenuidade na maneira como deseja levar suas intenções, deixando-se envolver com organizações que só querem lhe passar para trás.
Num filme que progride a partir de elementos históricos e reais, como museus e personalidades famosas (o poeta Dante Alighieri fundamentalmente), o grande perigo é cristalizar certos preconceitos, ainda mais que a sustentação da trama está nas verdadeiras funções de cada personagem.
Se retirarmos essa dúvida, restará pouco a “Inferno”, que proporciona soluções simplistas ao responder as principais questões. Diferentemente de “O Código Da Vinci”, nunca sentimos que aquela trama conspiratória seja próxima, com o terrorista Zobrist lembrando os vilões megalômanos de 007.