“Não é derrubando a floresta que vamos ser ricos. Seremos ricos quando tivermos uma biodiversidade valorzada e protegida e soubermos trabalhar a produção de maneira inteligente e sustentável, numa relação de equilíbrio com o meio ambiente”, observa Benki Piyãko, líder político e espiritual da comunidade ashaninka e atualmente um dos maiores representantes indígenas do país no mundo.
Piyãko está em Los Angeles, nos Estados Unidos, em busca de alianças para o desenvolvimento do Instituto Yorenka Tasorentsi (“A Sabedoria do Criador”, na língua ashaninka). No próximo sábado, ele desembarcará em Belo Horizonte, onde participará do evento “Outras Florestas”,aula-show comandada pelo cantor Gilberto Gil que unirá música e debate, no Palácio das Artes.
O líder da comunidade localizada no Acre e o artista baiano são velhos conhecidos, sempre fazendo uma ponte entre cultura e meio ambiente, dois setores fortemente abalados no país nos últimos anos. “As pessoas costumam tirar madeira e nunca colocar uma semente na terra. A luta nossa é levar essa mensagem para o Estado, para o governo, para as autoridades”, afirma.
“Nós, povos indígenas, estamos dando o maior exemplo para o mundo, porque onde há a maior biodiversidade resguardada e cuidada é dentro dos territórios indígenas. Somos os maiores guardiões de toda essa biodiversidade. Os povos indígenas do mundo inteiro carregam essa preocupação. A gente nunca morre de fome, porque só precisamos do que comemos”, afirma.
Piyãko assinala que, além da necessidade de alimentar e respirar, o ser humano necessita ter consciência de que cuidar do meio ambiente é uma prioridade. “Se reduzirem os territórios indígenas e explorarem a Amazônia, será uma catástrofe para o país e para o mundo. Com essa mudança climática, podemos ter os maiores incêndios das últimas décadas e acarretar diversos problemas para a sociedade”.
O líder ashaninka pondera que o brasileiro precisa valorizar as culturas dos povos tradicionais. “(Elas) têm suas histórias milenares que o mundo hoje precisa conhecer. Quando a cultura se perde, ela acaba levando o mundo, uma biblioteca inteira de conhecimento. Quanto mais tiram os direitos indígenas, mais a gente perde conhecimento. O Brasil tem uma riqueza tão grande e não sabe aproveitar”, lamenta.
xposição inédita de Stuckert na galeria Arlinda Corrêa Lima
Além da aula-show com Gilberto Gil e Benki Piyãko, o “Outras Florestas” recebe também a exposição “Povos Originários – Guerreiros do Tempo”, do renomado fotógrafo Ricardo Stuckert, ainda inédita para o público brasileiro, que será aberta no sábado, a partir das 14h, na Galeria Arlinda Corrêa Lima.
A mostra, que poderá ser vista até o dia 12, retrata a vivência de Stuckert com etnias indígenas na região amazônica. Ao Hoje em Dia, ele lembra que sua primeira viagem ao lugar foi em 1991, numa expedição para fotografar um eclipse solar. “A partir deste momento fiquei fascinado pela região”, afirma.
Em 1997, como fotógrafo da revista “Veja”, ele realizou uma viagem à Comunidade de Nazaré, no Amazonas, onde vivem os Yanomami. “Foi a primeira vez que tive a oportunidade de fotografar os povos originários do meu país. Lá conheci a indígena Penha Goés. Ela tinha 22 anos e uma força no olhar”.
Stuckert fez um retrato em preto e branco de Penha, com o rosto pintado e os olhos fitando diretamente a câmera. “Eu nunca esqueci essa imagem. Em 2015, decidi reencontrá-la para fazer novamente a foto de Penha. Quando a encontrei novamente, ela mantinha a mesma pureza no olhar de 17 anos atrás”.
O fotógrafo destaca que, naquele instante, teve a certeza de que carrega uma “missão”: prestar, “humildemente”, um tributo aos povos originários do país. Um dos desdobramentos foi o livro que carrega o mesmo nome da exposição, que levou sete anos para ficar pronto.
“Nesse período, uma das coisas que mais me chamou a atenção é a forma como os indígenas respeitam a Natureza. Cada aldeia que eu visitei foi um aprendizado. O modo de viver do indígena é fantástico. Eles vivem com simplicidade, com aquilo que a floresta oferece”, assinala Stuckert.
Ele afirma que os indígenas têm orgulho de manter a cultura preservada, ensinando-nos a importância de viver em comunidade, de respeitar e preservar a Natureza. “Outro ensinamento é em relação ao tempo. (Eles) Não têm essa pressa, essa ansiedade da cidade. Lá reaprendemos a arte de parar, respirar e conversar, coisa que não fazemos mais hoje porque tudo é online”, compara.
Serviço
“Outras Florestas” – No sábado, às 21h, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1537). Ingressos: entre R$ 200 e R$ 300, nas bilheterias do teatro e na plataforma Eventim
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