Um pé na realidade resume 86ª cerimônia do Oscar

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
02/03/2014 às 08:21.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:22
 (Divulgação)

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Baseado em fatos reais. A frase presente nos créditos iniciais de vários filmes resume a 86ª cerimônia de entrega do Oscar, que será realizada neste domingo (2) no Teatro Dolby, em Los Angeles (EUA), com transmissão pela TV. Desde a década de 80, quando a Academia tinha em alta conta os dramas biográficos, nunca se viu tantos indicados inspirados na realidade como agora. Dos nove concorrentes na categoria principal, seis deles buscaram suas histórias na realidade.

O tratamento agora é bem diferente do que se viu há 30 anos, em que o mais importante era a mensagem de superação, além de focarem mais na cronologia de seus personagens. Cada ato se tornava grandioso pelo olhar dos diretores da época.

Foi assim que Bernardo Bertolucci venceu o prêmio em 1988, com o “Último Imperador”, sobre Aisin-Gioro Puyi, último ocupante do trono na China Imperial. A fase dos personagens históricos e famosos teve ainda “Gandhi” (1983) e “Amadeus” (1985).

Trinta anos depois

A retomada agora é marcada por personagens ambíguos, sarcásticos e que não são propriamente heróis. É o caso de Jordan Belfort, interpretado por Leonardo Di Caprio em “O Lobo de Wall Street”.

Por mais que cheire pó, minta e se satisfaça tirando dinheiro dos outros, ele encanta porque engana o próprio sistema financeiro que o criou. Na busca de seus anseios individuais, acaba se tornando um exemplo de coragem.
É como se Hollywood afirmasse que é preciso uma boa dose de rebeldia e egoísmo para mostrar as rachaduras da sociedade organizada. Com seu jeito bronco e teimoso, Ron Woodroof expõe as falhas do sistema de saúde em
 
“Clube de Compras Dallas”.
O caubói homofóbico contrai o vírus da Aids e, além de sofrer o preconceito que alimentou seu ódio aos homossexuais, se vê na posição de joguete da indústria farmacêutica, que tem o apoio irrestrito da FDA (Food & Drugs Administration).

Tom crítico

Os outros indicados que têm um pé na realidade são “12 Anos de Escravidão”, “Capitão Phillips”, “Philomena” e “Trapaça”. Em praticamente todos eles há uma crítica às organizações, às leis que beneficiam os poderosos e às precárias relações de trabalho.

Olhar que pode ser percebido até mesmo na história de um capitão isento de máculas como o Phillips de Tom Hanks. Ele é um sobrevivente, atravessando mares perigosos que se transformam numa interessante metáfora de nossa existência.
 
Indicação não garante bilheteria


Apesar de deter os direitos de transmissão do Oscar, a Rede Globo não irá mostrar a festa de entrega do troféu. Por causa dos desfiles das escolas de samba, a emissora exibirá apenas alguns flashes da cerimônia realizada no palco do teatro Dolby, em Los Angeles.

Mas a pouca atenção dada ao prêmio não se resume à Globo (o canal apresentará resumo comandado por Fernanda Lima, que irá ao ar na tarde de amanhã). O desinteresse é geral, inclusive nos cinemas onde os principais candidatos estão sendo exibidos.

Para a indústria de cinema, o Oscar sempre foi sinônimo de um plus nas bilheterias, especialmente no caso de filmes independentes sem muito dinheiro para investir em publicidade. “Há um sentimento subjacente de que os consumidores pouco importam”, observou um executivo ao jornal “New York Times”.

Baixo rendimento

A reportagem de Brooks Barnes transforma esse desapontamento dos estúdios em números: o favorito ao Oscar, “12 Anos de Escravidão”, tinha faturado apenas US$ 48,5 milhões nas bilheterias americanas. O valor pode aumentar se receber a principal estatueta, mas não mudará substancialmente o seu baixo rendimento.

Usando como comparação produções de arte com atores conhecidos, Barnes lembra que “Cisne Negro” já tinha ultrapassado a casa dos US$ 100 milhões antes da festa começar, em 2011. No mesmo ano, “O Vencedor” computou, na mesma época, razoáveis US$ 88 milhões.

Os valores despencam quando foca a ala mais independente, formada por “Ela”, “Nebraska”, “Philomena” e “Clube de Compras Dallas”. O primeiro estacionou nos US$ 25 mil e o último, mesmo contando com uma excelente performance de Matthew McConaughey, teve desempenho semelhante.

Tirando os filmes comerciais (“Gravidade” e “Capitão Phillips”), o Oscar pouco fez para movimentar a caixa registradora dos demais. Hollywood culpa os temas, mais pesados do que nos anos anteriores.

E também o novo perfil de público, “que estaria se movendo mais rapidamente agora”. No lugar do Oscar, o interesse deles estão voltados para os lançamentos da temporada de verão

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