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Terça-Feira,30 de Abril

Urban Sketchers chamam adeptos de todo planeta para desenharem no dia 25

Elemara Duarte - Hoje em Dia
05/07/2015 às 11:54.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:46

(Ricardo Bastos)

Está marcado para daqui a exatos 20 dias um encontro de proporções mundiais. Gente de tudo quanto é canto: Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, São Luiz, Goiânia, da Argentina, Chile, Europa, Indonésia, Israel, Nova Zelândia... E o que o povo desta mobilização multi-idiomática vai fazer? Eles vão desenhar na rua.

Desenhar? Exatamente. A maratona será feita pelos “croquizeiros urbanos” ou “desenhistas de rua” adeptos do movimento Urban Sketchers (USK). Em tradução, “sketch” é “esboço”.

O resultado da data poderá ser visto nos grupos destes desenhistas nas redes sociais. Entre estes resultados podem aparecer uma montanha em Minas ou um prédio histórico na Espanha vistos por vários olhares de desenhistas, profissionais ou não.

O mais interessante é que a maioria dos integrantes do grupo não é “da área”, conforme indica a coordenadora do grupo de USK de BH, aberto há dois anos, a professora da Escola Guignard Márcia Franco. Em breve, o grupo mineiro vai anunciar na página do Facebook o local do encontro em BH.

Uma forma de lazer

Ou seja, assim como ir ao pagode ou ao teatro, sair para desenhar também pode ser uma forma de lazer. “São médicos, funcionários públicos, professores, aposentados. Com as redes sociais nos entrosamos mais. Saímos como se fosse uma excursão”.

Os desenhos rápidos, mas bem personalizados, vêm da observação de ambientes externos ou internos, urbanos ou de paisagens. E que ninguém fique tentado a sacar o celular para captar a cena. “O clique tem que ser do olho, não da câmera”, diz Márcia. “Aí, é só não ter medo de errar. Cada um desenha com o que quiser: lápis de cor, grafite, tinta, esferográfica".

Esta é a essência do movimento que tem integrantes como a médica psiquiatra francesa Héloïse Delavenne Garcia, há quatro anos radicada em BH, como o sotaque dela frisa: “porrr amorrr”.

Casada com um mineiro que conheceu na França, Héloïse já fez até exposição com os desenhos que faz e prepara outra, mas para o ano que vem, assim que o bebê franco-brasileiro dela nascer. Atualmente, ela exibe seus flagras do “quotidiano” na internet: desenhosdoquotidiano.blogspot.com.br.

Héloïse encontrou os grupos do movimento quando veio para o Brasil. Mas a francesa de 34 anos também sai sozinha para desenhar. “Desde que cheguei aqui estou desenhando mais. A imigração faz com que a gente enxergue coisas mais diferentes. Gosto do ‘mar de montanhas’ daqui, das cores delas”.

O talento de ‘Cartiê Bressão’ com um ‘mísero’ celular

O francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004) foi um dos bambambãs da fotografia da segunda metade do século 20 e considerado um dos pais do fotojornalismo. Já Cartiê Bressão é um carioca de 30 e poucos anos que também tem sido considerado um bambambã da fotografia, mas por retratar com um “mísero” celular, as mais curiosas cenas do cotidiano, tal como os “croquizeiros urbanos” do Urban Sketchers.

Este é o personagem criado por Pedro Garcia de Moura. “Bresson praticamente foi o precursor dessa prática de fotografar gente na rua. Fotografia não era considerada uma arte como hoje”, explica.

Há cerca de um ano, Pedro lançou o livro – custeado por financiamento coletivo – “Bressão: Liberté, Egalité et Brasilité”, com os cliques fantásticos, como os que podem ser vistos nesta página. Alguns de cidades mineiras que conhece juntamente com a esposa, que nasceu nas Gerais.

Quero te usar, cotidiano!

Mas que encantamento pode ter o cotidiano, por vezes entediante e banal, sobre este artista? “Eu trabalhava com direção de arte e nunca tinha saído para fotografar o cotidiano”. Mas bastaram oito anos fora do Rio, viajando por Londres, Buenos Aires e pronto.

E eis que apareceu a sensibilidade para tirar foto dessa maneira – assim como o encantamento pelo olhar estrangeiro que atingiu a médica francesa Héloïse Delavenne Garcia, ao migrar para o Brasil. A diferença é que Pedro não sai exclusivamente para fotografar. “No Brasil, cada estado tem uma característica diferente. O meu fotografar é onde eu estou”. Outra semelhança de Pedro com os Urban Sketchers é que focar e retratar o cotidiano ainda é um “passatempo”.

Perdendo a vergonha

Quando voltou “para casa”, em 2011, Pedro se fantasiou do personagem de novela, o fotógrafo sedutor “Jorge Tadeu”, de Fábio Júnior, na novela global “Pedra Sobre Pedra” (1992). Com uma câmera antiga de filme, entre confetes e marchinhas, ele perdeu o pudor de abordar as pessoas.

“Então, logo depois do Carnaval comecei a ficar ligado e comecei a fotografar e subir as imagens no Instagram, mas com meu nome”. Depois, veio a paródia com o nome do fotojornalista francês.

Para Pedro há um único dogma: “Faço porque me dá prazer. Fotografo passeando. É o olhar, não é a máquina. É a ideia, é o momento”. O fotógrafo do cotidiano é casado com uma mineira e diz que depois do Rio de Janeiro, a terra natal dele, Minas Gerais é o estado de onde em tem mais fotos.

‘Artes irmãs’ pedem olhar sensível para o corriqueiro

“O olho é a máquina fotográfica”, diz a professora Márcia Franco. “Ainda mais hoje, que todo mundo tira foto de qualquer coisa! É aí que a gente vai na contramão”, acrescenta sobre a “educação do olhar”. E é neste sentido que a preciosa série de celular de Cartiê Bressão se encontra com os não menos preciosos croquis dos adeptos do Urban Sketchers (USK). “É uma arte irmã do que fazemos”, avalia a professora.

Para ela, não existe desenho errado ou certo. A questão “é o momento”. “A sua mão que vai te ensinar o que fazer”. Mas para engrenar em um grupo de USK, além do olhar sensível, é preciso conquistar a prática no hábito de desenhar e traduzir o cotidiano. “Um croqui pode ser um desenho maravilhoso, mesmo que não seja perfeito”, diz.

O calendário mundial das maratonas pode ser conferido no sketchcrawl.com. Já os posts de desenhos de brasileiros feitos no dia 25, poderão ser publicados com as tags: #uskbrasil e #sketchcrawluskbrasil. Agora, se você estiver em qualquer lugar do mundo e bater aquela vontade de desenhar juntinho, basta procurar algum grupo próximo no urbansketchers.org.

 

Pedro Garcia de Moura, o "Cartiê Bressão" - mas no reflexo, com a ferramenta de trabalho em punho

 

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