
Um pouco do culto a Bruce Lee pode ser explicado pela “síndrome de James Dean”. É quando uma celebridade morre cedo, no auge do sucesso. Em 1976, ele começava a ser descoberto pelo mundo, mas morreu– aos33 anos, após tomar um analgésico – dias depois da estreia de “Operação Dragão”, um dos filmes mais icônicos do gênero.
A história tinha um tratamento melhor. E a qualidade da fotografia estava anos-luz dos primeiros trabalhos realizados em Hong Kong. “Naquela época, eles não tinham muito cuidado com o som e com a imagem. Muitas delas eras desfocadas. Mas era uma coisa da época”, observa Francisco Ucha, organizador do “Festival Bruce Lee”.
Montado para celebrar os 75 anos do lutador, o festival exibirá, pela primeira vez, a voz original do Pequeno Dragão. Parece uma coisa maluca num tempo em que a dublagem vem tomando conta dos cinemas, mas há 40 anos as cópias vinham
Outra boa notícia é que os quatro filmes da seleção serão apresentados em sua íntegra. “Era comum os distribuidores cortarem algumas cenas, por acharem-nas ruins ou que não acrescentavam muito”, registra Ucha, destacando uma sequência de “O Voo do Dragão”, em que uma personagem surge nua atrás de Lee, vista pelo espelho.
Senna do Kung Fu
Filmes como “O Dragão Chinês” (1971), “A Fúria do Dragão” (1972), “O Voo do Dragão” (1972) e “O Jogo da Morte” (1978) podem ter ficado datados, mas a técnica de Bruce Lee dificilmente terá um similar. “Ele era um lutador altamente diferenciado, obcecado pela luta perfeita. Amava o que fazia. Era o Ayrton Senna do kung fu”, compara.
Ucha ressalta que as lutas mostradas nos filmes eram pensadas para as ruas. “Apesar de ser filho de pais importantes, ele se envolvia em muita briga de rua quando era jovem. Campeão de dança, depois de muito apanhar, foi aprender arte marcial. Foi mestre em todas, mas achava o kung fu ético e formal demais”.
Bruce criou um estilo, o Jeet Kune Do, e os entendidos afirmam que ele é completamente diferente do que é mostrado nos filmes. “Gosto deles, mas não refletem a realidade. Bruce tinha que diminuir a velocidade do golpe para a câmera registrar. E a maioria dos filmes era fantasioso. O Jeet Kune Do é mais agressivo”, analisa o instrutor Alexander Terra.
O coordenador do festival pondera que Lee não era um ator e que os filmes eram usados por ele para ensinar a técnica de luta e a filosofia de vida. “Se estivesse vivo, provavelmente seria uma pessoa ecologicamente correta. No cinema, ele também aproveitava para denunciar os problemas da China na época”, sublinha Ucha.