ENTREVISTA

Bienal Mineira do Livro, com início em maio, busca fomentar a cadeia do livro no Brasil

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
25/04/2022 às 16:14.
Atualizado em 25/04/2022 às 16:45
Marucs Ferreira é diretor presidente do grupo Asas, que está à frente do evento literário (Fernando Michel)

Marucs Ferreira é diretor presidente do grupo Asas, que está à frente do evento literário (Fernando Michel)

Previsto para receber 150 mil visitantes durante dez dias de programação, a Bienal Mineira do Livro retoma o formato presencial no BH Shopping, que receberá um dos maiores eventos literários de Minas entre 13 e 22 de maio. Realizado pelo Grupo Asas, em parceria com a Câmara Mineira do Livro, a Bienal será marcada pela democratização de acesso e temas.

Uma das novidades é a segmentação da programação, que estará dividida em 11 eixos temáticos. “A gente quis dividir a curadoria com entidades que são referência em suas respectivas áreas. Dar conta de tantos temas interessantes só mesmo com o apoio de outros parceiros”, registra Marcus Ferreira, diretor-presidente do grupo Asas.

A Bienal também franqueará o acesso a alunos e professores de escolas públicas e particulares. Serão 89 mil ingressos gratuitos, fruto de parceria com as secretarias de Educação de Minas Gerais e de Belo Horizonte. “Uma das missões da Bienal é aumentar a cadeia do livro, fazer com que seja cada vez mais importante na produção de conhecimento”.

O tema da Bienal Mineira do Livro é “O Reencontro é Real”, uma referência à retomada do evento pós-pandemia. Como está sendo esse retorno para o formato presencial?
Esse mote está fazendo <CW-17>muito sucesso, apesar de a gente tocar numa dor recente. Agora estamos celebrando a possibilidade da volta, com a Bienal encampando a ideia do reencontro – o das pessoas com os seus autores preferidos e destes com seus leitores e outros escritores, além das editoras que tanto sofreram por não poderem realizar as suas iniciativas literárias. O momento é de saudade dessa convivência, desse navegar, desse transitar pelas palavras. É óbvio que a gente irá respeitar os protocolos existentes na cidade de Belo Horizonte, mas os números estão bem melhores em relação ao que a gente já experimentou. 

Qual foi o impacto da pandemia no setor literário?
Em relação à venda, há uma questão interessante: como as pessoas tiveram mais tempo para ler com a reclusão, houve um acréscimo na circulação de livros e nas vendas. Isso a gente consegue identificar no primeiro e no segundo ano da pandemia, em que pese tudo o que sofreram e estão sofrendo as livrarias físicas, um campo que está tendo que se reinventar. Estão acontecendo algumas oportunidades de se promover o contato com o livreiro, mas as editoras em geral experimentaram uma situação de venda um pouco melhor, (com a pandemia) sendo bem absorvida pelo mercado. Ainda precisamos ler muito mais. Segundo a pesquisa “Retratos da Leitura”, realizada pelo Instituto Pró-Livro, são 2,55 livros que cada pessoa lê por ano, em média, no Brasil. É um número sofrível, muito ruim. (Como comparação), um argentino lê, em média, nove livros. O francês, 21. Precisamos fomentar a cadeia do livro, não só pelos empregos, pela produção, pelos impostos que ela gera, mas pelas externalidades que o livro é capaz de proporcionar para outros setores. Quando se quer desenvolver um processo formacional em sua empresa, você tem como referência o livro. Quando se quer estimular o conhecimento de fundo s crianças, dos jovens e também dos adultos, você tem os livros. Ele é importante em qualquer setor da economia, do ponto de vista social e espiritual. Uma das missões da Bienal é aumentar a cadeia do livro, fazer com que seja cada vez mais importante na produção de conhecimento.

A realização de uma Bienal on-line trouxe elementos novos que serão incorporados nas futuras edições?
Quando a gente assumiu a Bienal, buscamos imprimir um jeito de ser do grupo Asas. Nós trabalhamos nesse ambiente há mais de 30 anos. Em 2019, a gente já planejava dar à Bienal um valor da permanência. (Naquela época), nos parecia uma grande oportunidade, uma inovação para a área, para que, além de promover o encontro presencial, pudéssemos “itinerar”. Neste ano, vamos levar a Bienal para 20 cidades do interior. Junto às atividades virtuais, como o “Bienal na sua Casa”, em que fizemos 16 lives, conseguimos efetivar a ideia da permanência. A pandemia acabou nos dando a oportunidade de antecipar esse processo. À medida que veio o decreto em março de 2020 e o afastamento, a gente se articulou e, aquilo que era um plano, teve que se materializar de forma rápida. Naquele momento, era a opção que se tinha no mercado. As pessoas tiveram a oportunidade de receber, em casa, por meio dos canais virtuais que disponibilizamos, os autores e os especialistas. Isso foi importante para posicionar e valorizar a marca da Bienal Mineira do Livro. Outra atividade realizada durante a pandemia foi a distribuição de livros para pessoas idosas, com deficiência, microempreendedores individuais, entidades beneficentes e escolas. Na nossa plataforma, disponibilizamos vouchers, por meio de um patrocinador, e distribuímos mais de 15 mil livros já em maio de 2020, atingindo 26 estados e o Distrito Federal.

A organização dividiu a programação em 11 eixos temáticos como forma de melhor atender a todas as faixas etárias. Como isso será feito?
A gente quis dividir a curadoria com entidades que são referência em suas respectivas áreas. Acreditamos que o universo literário é muito diverso. Dar conta de tantos temas interessantes só mesmo com o apoio de outros parceiros. Essa edição terá 11 eixos temáticos e cada um deles tem uma entidade curadora. A Fundação Dom Cabral, por exemplo, vai cuidar do Espaço Negócio. A Academia Mineira de Letras vai cuidar do Café Literário. O Espaço Eu Criança, com atividades vivenciais, terá a curadoria da Câmara Mineira do Livro, que também é correalizadora, junto com o grupo Asas, da Bienal. Para o Mais Idade, Mais Livros, para essa faixa etária que está crescendo tanto no mundo e que, no Brasil, não é diferente, terá à frente a Rede Longevidade. A Biblioteca Pública de Minas Gerais vai cuidar de uma estação vivencial chamada Leitura Inclusiva. Nos enche de satisfação o fato de as entidades emprestarem os seus nomes e seu conhecimento para que o público possa ter acesso a toda essa diversidade. Não posso deixar de falar aqui do Palavras com Tempero, que terá a curadoria do Instituto Fernando Sabino, que ministrará a atividade Prosa e Cantoria na Bienal, com o contista Olavo Romano contando seus “causos” e recebendo convidados como Saulo Laranjeira, Paulinho Pedra Azul, Tino Gomes, Chico Lobo, dentre outros. Esses eixos reunidos ofertam mais de 160 horas de programação para os alunos em geral e os alunos das escolas públicas. Com a parceria com a Secretaria de Estado da Educação e a Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte levaremos 89.100 participantes, entre educadores e alunos, para a Bienal, que poderão desfrutar da programação e da Feira Literária, podendo adquirir livros por meio de um Vale-Livro. 

Qual é o volume de vendas durante a Bienal? Ela será maior ou menor em relação à última edição?
A gente tem o Vale-Livro, que chega a quase R$ 6 milhões, que é um número bastante expressivo, além do consumo das pessoas que visitarão a feira no BH Shopping. É um local que recebe 50, 60 mil pessoas todos os dias. Com isso, nós estamos estimando vendas de R$ 8 milhões a R$ 10 milhões durante os dez dias. Há todo um impacto da geração de negócio, como contratação de recepcionistas, seguranças e gente de limpeza. A última edição presencial foi em 2016, uma diferença temporal grande. (Em termos comparativos) Posso dizer que, em Vale-Livro, hoje o volume é 20 vezes maior. De modo geral, esperamos números bem maiores, até porque está sendo realizado num lugar que tem uma frequência muito grande. É importante deixar um agradecimento ao BH Shopping, que é um dos nossos principais patrocinadores e está cedendo o espaço, o que está nos permitindo distribuir gratuitamente cerca de 90 mil ingressos.

Qual é o perfil do público da Bienal? É o mesmo de quem frequenta uma livraria?
A literatura atende a diversas faixas etárias, desde os livros infantis comprados pelas famílias, que possivelmente será o público que mais frequentará a Bienal, depois dos alunos de escolas públicas e particulares. O que as pessoas vão encontrar nesta edição são distribuidoras, livrarias e editoras que ofertam toda a gama da produção delas. Eu arrisco dizer que será uma oportunidade de degustar vários gêneros literários. Muitas editoras virão pela primeira vez em Minas Gerais.

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