ENTREVISTA

‘Eu trabalho com a indústria de cosmético, não com a da beleza’, afirma empresária do ramo

Janaína Fonseca
jmaria@hojeemdia.com.br
13/06/2022 às 08:05.
Atualizado em 13/06/2022 às 08:29
 (Fernando Michel)

(Fernando Michel)

O mercado da estética é um setor frenético que, na contramão da crise econômica e da pandemia, não para de crescer, faturar e lançar produtos e procedimentos inovadores que vêm atender uma demanda cada vez maior pela beleza, bem-estar e saúde. Segundo a pesquisa da Euromonitor International, o Brasil é o quarto maior mercado de beleza e cuidados pessoais do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China e Japão. O setor faturou quase R$ 30 bilhões em 2019 e registrou expansão de 4,7% em 2020 e de 4,6% em 2021.

Para acompanhar toda essa efervescência, empresas e profissionais precisam estar atentos às novidades, pesquisas e novas tecnologias que possam oferecer aos clientes – homens e mulheres – aquilo que eles desejam. E a vaidade desse público exige investimentos e muita responsabilidade na elaboração de ativos, procedimentos e produtos, pois a segurança ao se trabalhar com vidas, sonhos e anseios é de extrema importância.

“Essa é uma área da saúde muito expansiva, que não adianta acreditar que é só aplicar o creme. Exige muita responsabilidade. É um ser humano que está diante do profissional, ele tem uma disfunção estética, algo que o está desagradando. Você tem que entregar um resultado efetivo. Estética é responsabilidade 100%”, afirma Renata Tavares, esteticista, biomédica, bioquímica, cosmetólogoa e CEO da Biodermis Cosméticos, marca genuinamente mineira.

Mas ela ressalta que, acima de tudo, estética é saúde e não deve cultuar padrões de beleza impostos. É preciso se cuidar, estar bem consigo mesmo, mas respeitando sua essência.

Para acompanhar e se destacar nesse mercado tão acelerado e forte, Renata conduz a empresa com o olhar sempre voltado para pesquisa, para a ciência, e agora, com a pandemia, conquistando espaço no mundo digital. “Esse é um caminho sem volta”, garante. Confira nosso bate-papo:

Nesse mercado tão efervescente, como é estar à frente de uma empresa de dermocosméticos e conseguir acompanhar toda essa celeridade?
Não é uma tarefa fácil. Tem muito amor envolvido, até porque trabalhamos com vidas. O mercado da estética é altamente inovador, toda hora é um produto novo, uma técnica nova. Nós que trabalhamos na parte de produção, desenvolvimento de fórmulas, pesquisas e atendendo faculdades, alunos, para ajudar na formação profissional, estamos em constante pesquisa para que nossos clientes estejam à frente nesse mercado. Mas sempre com comprovação científica, porque o mais importante no mercado da beleza é entregar o que o cliente busca, que é a solução de um problema.

O país é um desenvolvedor de produtos ou temos que buscar lá fora?
Hoje o Brasil é um dos maiores pesquisadores de produtos, princípios ativos, tecnologias na área de estética. Temos empresas e laboratórios que trabalham na produção de ativos efetivos, vários laboratórios biotec-nológicos, pesquisadores dentro das empresas que trabalham 24 horas estudando os ativos.

Hoje temos marcas “made in Brasil” muito fortes?
Temos marcas fortíssimas, porque as pessoas que têm espírito empreendedor entenderam que a área da beleza tem o mínimo de crise possível. Mas precisa estar preparado para pegar um sonho e transformar em realidade. Se for um bom empreendedor, se estiver antenado com as novidades do mercado, se estiver envolvido com a ciência e com a responsabilidade com a sociedade, é uma empresa que vem para ficar. Até porque o consumidor brasileiro não mede esforços para comprar nossos produtos cosméticos.

O Brasil é o 3º país em lançamentos de produtos de beleza. E Minas, segue esse ritmo também?
Minas não fica atrás de nenhum outro Estado. Os profissionais mineiros são muito antenados, têm muito a agregar. Em março nós tivemos a segunda maior feira da beleza da América Latina no Expominas. Tivemos o encontro de todo o setor da beleza – capilar, cílios, maquiagem, estética. Conseguimos fazer um evento gigantesco. Tudo que os outros estados entregam em feiras e congressos, nós entregamos também aqui. E, muitas vezes, a gente entrega antes deles.

E com relação à mão de obra: como é essa formação em Minas? O setor tem dificuldade de contratação?
As pessoas que trabalham no setor da beleza estão constantemente estudando. Na minha empresa, toda a equipe tem que andar em conjunto. Quando tenho um treinamento, não deixo ninguém de fora, para que todos possam falar a mesma língua. Treinamento e estudo contínuo, sempre. Não abro mão disso.

As empresas de dermocosméticos não têm se limitado à venda de produtos. Há um movimento de capacitação do cliente, do profissional, para que ele saiba aplicar o cosmético cheio de tecnologias. Isso é uma tendência?
Não é só vender o produto: eu preciso dar assessoria e orientar quem está comprando. Muitas vezes, o profissional chega sem saber uma técnica específica que é essencial para o procedimento dar certo. Eu montei uma equipe de assessoria para dar o suporte aos profissionais que compram nossos produtos. Se ele não sabe a funcionalidade, as indicações, contra-indicações, até onde o produto pode ter resultado, me bloqueia, pode interferir no desempenho do meu produto e das vendas.

A estética tem buscado valorizar o atendimento personalizado, derrubando a ideia de seguir protocolos. Como você vê esse movimento?
Eu fico muito feliz de isso estar acontecendo. Era uma casca que tinha na nossa profissão: a ideia de que um protocolo servia para todos. Mas o erro partiu das empresas. Elas lançavam produto com um único protocolo, ensinavam isso para o profissional e o profissional aprendeu dessa forma. A gente sempre orienta que o cliente que chega em cabine é único – ele tem um tipo de pele, uma perspectiva de resultado, uma condição financeira específica – e é fundamental que o profissional esteja preparado para personalizar o tratamento.

A formação do profissional é essencial para que ele tenha capacidade de fazer essa personalização. Como você percebe essa formação em Minas?
Pelo fato de ser uma área que está crescendo, que não tem crise, muita gente quer ir para a estética achando que é fácil. Não é fácil. Trabalhar com pele é trabalhar com o ser humano. As faculdades têm montado conteúdos programáticos mais elaborados, mais científicos. Mas tem que ser pesado, porque se eu não entendo anatomia, fisiologia, citologia, se eu não entendo cosmetologia, mecanismo de ação, não vou conseguir ter resultado. A estética nunca foi uma profissão que você só pega um produto e aplica. Nós somos profissionais da saúde e temos essa responsabilidade.

O mundo vive uma ditadura da beleza. Como você vê esse comportamento de pessoas buscando a “perfeição” a qualquer custo, expondo a vida a riscos até de morte?
Nós trabalhamos com a beleza, não com a fábrica da beleza. Porque a fábrica da beleza impõe padrões, e isso pode levar a uma morte psicológica e até física. A pressão é tão grande que a pessoa não sabe o que fazer. Ela quer tanto aquele padrão que se submete a qualquer coisa, a tratamentos com qualquer profissional, e se arrisca. Não podemos ficar presos a essa ditadura. Cada um tem sua essência. Você precisa estar bem consigo mesmo. A nossa saúde é uma tríade – alimentação, atividade física e cuidado estético. Eu trabalho com a indústria do cosmético, mas não com a indústria da beleza. Acima de tudo, é saúde.

Com a pandemia, a estética caiu no mundo das redes sociais e do e-commerce. Como foi esse processo para a Biodermis?
Foi um processo de transformação, uma metamorfose, tanto para mim como para a empresa, funcionários e clientes. Antes da pandemia, tudo era presencial: atendimento, consultas, cursos. Com a pandemia, precisamos nos adequar. Então fomos aprender a trabalhar na internet. A gente conseguiu fazer isso rapidamente. Fomos fazer lives, consultas personalizadas e treinamentos on-line. O cliente estava em casa, se resguardando, mas recebia o atendimento. E muitas pessoas se descobriram nesse atendimento on-line – pode ser uma personal skincare, dar mentorias, consultorias a distância – , e aí a estética cresceu ainda mais.

É um movimento sem volta?
É um movimento sem volta. E acho extremamente interessante, porque você consegue chegar em todos os lugares, atender várias pessoas. Não há um limite. Enquanto estou ministrando curso, palestra, consigo atender meu cliente que está aqui, em São Paulo, Rio, Japão, qualquer lugar do mundo, de uma forma rápida, prática e prazerosa. Eu me encontrei na internet. Eu gosto muito das redes sociais, de entregar conteúdo e agregar na vida dos profissionais por esse canal.

Quais são os planos de expansão da Biodermis?
Hoje nós temos pontos de venda de produtos em 12 estados brasileiros e temos sete países onde nossos produtos chegam por meio de profissionais que se reciclaram ou se capacitaram com a Biodermis. Temos planos de implantar lojas físicas em outros países, mas queremos implantar mais lojas no restante do Brasil. Quero ganhar o Brasil todo.

O que é a tendência no mundo da estética?
Uma das maiores tendências do mercado hoje é a harmonização – os injetáveis e os minimamente invasivos. Mas o nosso cliente e os profissionais conseguiram entender que não é só harmonização. Nós não conseguimos harmonizar um rosto com botox, preenchimentos, fios, se o paciente está com melasma, com acne, com pele flácida. O cliente já percebeu que se ele não tem um bom dermocosmético, ele não chegará a um resultado positivo. A harmoni-zação tem um tempo de vida útil – você injeta algo e, com o passar do tempo, você perde. Isso é fato. Já o dermocosmético é um ativo que você aplica na pele e estimula sua célula, que está envelhecendo, a retomar o funcionamento dela. É mais interessante do que ficar injetando e injetando. Então, a maior tendência hoje são os cosméticos nanotecnológicos minimalistas.

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