‘Falar em um possível Carnaval, agora, é prematuro’, afirma Gilberto Castro, presidente da Belotur

Maria Amélia Ávila
mvarginha@hojeemdia.com.br
22/05/2021 às 11:55.
Atualizado em 02/02/2022 às 18:35
 (Qu4rto Studio/ Acervo Belotur)

(Qu4rto Studio/ Acervo Belotur)

Os milhares de foliões que aguardam para saber se haverá ou não o Carnaval em Belo Horizonte, em 2022, vão ter que esperar mais um pouco. O presidente da Empresa Municipal de Turismo da capital (Belotur), Gilberto Castro, acredita que ainda é cedo para definir se a festa do Momo vai abrir ala e dar passagem para o maior evento turístico da cidade.

Segundo ele, a decisão depende do ritmo da vacinação contra a Covid-19 e dos números da doença na capital. Nesta entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Gilberto Castro fez uma análise detalhada dos impactos da pandemia no setor de turismo na capital, um dos mais impactados pela grave crise sanitária e suas consequências econômicas.

Shows foram cancelados, as pessoas deixaram de viajar, de frequentar restaurantes com medo de contrair a doença. Como está sendo enfrentar a pandemia em Belo Horizonte?
Vem sendo um desafio diário, não só em Belo Horizonte, mas no mundo inteiro, o impacto para o setor de turismo, um setor tão importante para todas as economias. Não é à toa que Nova York lançou agora o turismo do Covid-19, atraindo as pessoas para se vacinarem lá. A gente vem discutindo junto ao trade e participantes desse universo para trilhar um caminho para quando puder ter o retorno das atividades ou para aproveitar o que hoje é possível fazer. É o maior desafio do setor, algo ímpar.

Com o retorno das atividades não essenciais, já é possível perceber se há um retorno dos turistas?
Não existe uma pesquisa ainda porque tudo é muito recente. O que percebemos, obviamente, é que dentro de todo o setor, os segmentos de eventos, bares e restaurantes e o consumo da cultura fora do domicílio vêm tendo que se adaptar. Muitas modelagens foram criadas e recriadas para esse momento. O que a gente percebe é que as pessoas estão tendendo a aproveitar os ambientes mais abertos, os restaurantes que têm ambientes mais abertos têm a preferência do público. Com o decorrer do tempo, as pessoas sabendo lidar melhor com os protocolos e com tudo que é necessário para que haja uma segurança sanitária, a cada dia mais pessoas vêm se permitindo consumir nesse s locais, como os restaurantes. Os eventos têm uma dificuldade maior para retornar. A forma como a capital está lidando com a pandemia dá mais segurança para quem quer visitar a cidade e consumir o que a ela oferece.

A capital tem a vocação para o turismo de negócios. As reuniões migraram para as plataformas virtuais. Isso vai impactar esse segmento, principalmente a realização de convenções e eventos?
Acho que não. O que veio para ficar é o híbrido. Todo e qualquer evento daqui para frente, pelo menos nos próximos anos, tende a ser híbrido. Uma pequena parcela desse turismo de negócios tende a diminuir um pouco, mas Belo Horizonte não tem só a força do turismo de negócios. Não é à toa que Belo Horizonte é uma cidade surpreendente! O cenário da pandemia impôs vários novos desafios. Demandou não só uma revisão de posicionamento de todos os destinos, como as formas de se promover, de se prospectar, mas também para descobrir outras oportunidades. Tivemos há pouco a Feira de Artesanato, no Expominas, que foi uma experiência muito legal, seguindo todos os protocolos, e foi um sucesso. A gente continua fazendo um trabalho em relação às outras feiras que já estavam marcadas e não aconteceram, para que elas permaneçam em Belo Horizonte, já que não foram levadas para outras capitais. A gente vem conversando com outros atores e parceiros, como o Convention Bureau, para fazer uma captação adequada ao momento que a gente está vivendo. Não adianta captar um evento da forma como era, é preciso tentar entender, junto a todos os produtores de eventos, uma forma de trazer esses eventos para nossa cidade. A Europa já está fazendo eventos onde as pessoas comprovam que estão vacinadas na entrada, devemos seguir essa metodologia. Acho que a sociedade tem, neste momento, um preconceito com o setor de eventos, mas, na minha opinião, é um dos mais capazes de seguir protocolos porque já faz parte do dia a dia, assim como os hotéis. A expectativa é voltar logo com os eventos corporativos para não ter mais perdas.

O setor hoteleiro teve grandes problemas com a pandemia, inclusive com o fechamento de várias unidades, e mais de 6 mil demissões. Como vocês reorganizar a rede hoteleira na capital e aquecer esse segmento?
É importante ressaltar que isso não aconteceu só em Belo Horizonte, mas em todo país e mundo afora, principalmente, com as grandes redes que, apesar de terem mais capital, têm um custo muito alto, e a demanda diminuiu consideravelmente. Nó estamos com um projeto junto com o Sebrae, que é o Dialoga Turismo, que tem o objetivo de entender esse momento. Estamos já na segunda edição. Na primeira edição já foi possível tirar algumas diretrizes, colocar os problemas, e levantar onde precisamos atuar. O poder público tem o seu papel, mas cada parte do trade também tem o seu papel, e, por isso, estamos tentando juntar essas forças, que já deram certo nas ações para o título da Cidade Criativa da Unesco pela Gastronomia, em 2019. Com o Dialoga Turismo, estamos propondo um plano tático.

Como é esse plano tático? 
Diante das diretrizes que foram criadas em relação ao que precisa ser feito, seja referente a como promover Belo Horizonte agora, de uma forma mais inteligente dentro desse novo contexto, como ter os protocolos pré-estabelecidos para os setores consigam funcionar, a ideia é estabelecer propostas. Quando não acontece o Carnaval ou qualquer outro grande evento, o impacto é muito grande. O plano tático vai definir o que pode ser feito e qual o papel de cada um neste momento. Para isso, estamos fazendo lives, seminários, com grandes nomes do turismo nacional, com experiências que já deram certo e possam dividir conosco, acrescentar e somar. A ideia é pegar essas diretrizes propostas no primeiro Dialoga, priorizar e montar esse plano tático, levando em consideração quais são os riscos, os prazos, os recursos, potencialidades para a retomada de uma forma inteligente. Todo esse diálogo é muito importante, mas o desafio é muito grande.

Falando em Carnaval, é verdade que Belo Horizonte está tentando trabalhar essa grande festa popular em conjunto com outras capitais, como Rio, São Paulo e Salvador? 
Acho que o Carnaval é o maior produto turístico da cidade, onde conseguimos não só oferecer a festa, mas uma série de eventos atrativos. Segundo as pesquisas, é alto o número de turistas que veio pelo Carnaval e depois voltou para consumir outras coisas. Nós estamos discutindo o Carnaval com os gestores de todos esses grandes Carnavais, como Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia, desde logo que começou a pandemia - lembrando que ela se deu logo após o Carnaval do ano passado, um mês depois – para tentar entender o planejamento de cada um, mas não existe uma junção formal. O que existe hoje é um diálogo permanente com troca de informações, de possibilidades. Foram construídos alguns cenários no ano passado, como a possibilidade de um Carnaval fora de época que acabou não se concretizando, mas esse trabalho é muito rico.

Você acredita que haverá carnaval em 2022? 
Eu sou mais comedido, falar de um possível Carnaval agora é prematuro. É uma cadeia muito grande, muito rica, e todas as nossas falas geram uma expectativa. Se a gente prometer um Carnaval em 2022 para todos esses atores que fazem parte dessa grande festa, sem ter uma certa garantia de que isso vai acontecer, podemos gerar mais prejuízo. 

Mas você acredita que pode acontecer no próximo ano, mesmo se for fora de época, como julho de 2022? 
Pode, é uma hipótese. Nós sabemos como é importante manter essa tradição viva na capital, por isso estamos, desde o ano passado, conversando com a iniciativa privada para tentar recursos e nos ajudar a fomentar o Carnaval, já que o gasto hoje da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e dos demais governos municipais está voltado para as ações de enfrentamento à Covid-19. O Rio de Janeiro já informou que vai fazer o Carnaval em 2022. Eu espero que eles estejam certos e que eu seja apenas uma pessoa comedida. O andamento da vacinação no país ainda não consegue nos dar essa perspectiva; a cada dia surge uma nova cepa, por isso, eu acho que muito cedo determinar se haverá ou não carnaval em 2022. Mas não estamos parados, porque não é cedo para pensarmos nas ações de fomento ao Carnaval, caso ele aconteça no ano que vem.

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