Entrevista

Mulheres na mineração: ‘Precisamos de oportunidades e equiparidade de salário’, afirma especialista

Relatório do movimento que objetiva ampliação e fortalecimento da participação feminina aponta para aumento de vagas e, também, de demissões

Valeska Amorim
vamorim@hojeemdia.com.br
Publicado em 15/01/2024 às 07:33.

Patrícia Procópio, presidente do WIM Brasil (Maurício Vieira)

Patrícia Procópio, presidente do WIM Brasil (Maurício Vieira)

A participação das mulheres na mineração, setor amplamente dominado pelos homens, vem crescendo. De acordo com o Women in Mining Brasil (WIM Brasil), movimento que objetiva ampliação e fortalecimento feminino no setor, houve avanço em 2023.

O levantamento, desenvolvido em parceria com a Ernst&Young (EY), se refere ao contexto das 33 empresas signatárias do Plano de Ação do WIM Brasil. O número de contratações do sexo feminino subiu de 32% em 2022 para 43% no ano passado.

No exercício de cargos de gestão, houve um discreto progresso – apesar de o índice de representatividade de mulheres ser inferior em comparação ao de homens (apenas 27% do total). Neste ano, registrou-se 24% da presença feminina à frente da alta gestão corporativa – em 2022, este quadro era de 22%.

No geral, um a cada 5 funcionários é do sexo feminino, conforme os dados do 5º relatório anual de indicadores.

Porém, o levantamento traz, também, um número preocupante: na contramão desta maior participação das mulheres, houve, também, crescimento no número de demissões: 32%.

“O que a gente busca agora é entender e trabalhar estes números. Pensar que diversidade, equidade e inclusão precisam fazer parte das estratégias, dos orçamentos, das políticas das empresas do setor, do governo, dos órgãos reguladores”, salientou Patrícia Procópio, presidente do WIM Brasil, durante a apresentação do relatório.

Aos 59 anos, sendo 35 deles de atuação na mineração, Patrícia Procópio é PhD em Geologia e, atualmente, ocupa o cargo de diretora Latam de Planejamento, Inovação & ESG na Hexagon, grupo multinacional de tecnologia, que desenvolve sensores, software e soluções autônomas com sede em Belo Horizonte.

Como a senhora iniciou a trajetória na área?
Apesar da escolha de estudar geologia, a mineração não era uma intenção, que acabou acontecendo para trabalhar na Vale em Itabira. 

Quais as principais demandas do público feminino na mineração?
Precisamos de equidade de oportunidades e também equiparidade de salário, o que ainda é uma realidade distante.

Ainda existe muito preconceito? Em todos os cargos/funções?
Sim, ainda há um grande preconceito, principalmente em relação as mulheres trabalharem em áreas operacionais, remotas e em minas subterrâneas.

O Relatório de Indicadores do WIMBrasil apresenta números importantes, dando visibilidade à situação atual do setor, como a baixa participação de mulheres nas áreas operacionais, na liderança e nos boards das empresas. Como enfrentar isso?
Principalmente trabalhar o letramento das pessoas, mantendo a pauta ativa, o diálogo constante. As metas propostas pelas empresas e pelo Instituto Brasileiro de Mineração também são uma das formas de se mudar este cenário. As empresas em que se observa um crescimento mais significativo, a meta está atrelada a performance dos executivos.

Desde o primeiro relatório até este, as dificuldades continuam as mesmas, aumentaram ou diminuíram?
Uma questão que foi relevante ano passado e neste nos chamou ainda mais atenção é: a gente vem tendo aumento na participação das mulheres, mas também um maior número de desligamentos de mulheres. Não adianta atrair, tem que reter. E o que a gente está fazendo para reter. Precisamos de ações para tornar o ambiente mais seguro, que ele seja receptivo, que atenda essas mulheres. Ou seja, a gente precisa trabalhar na conscientização, as micro agressões, o entendimento. Enquanto movimento, enquanto participantes da diretoria e membros, a gente vem crescendo, amadurecendo, aprendendo… aprendendo juntas. Nascemos (WIM) por vontade - às vezes nem tanto por entendimento e conhecimento. Hoje estudamos, buscamos parcerias com especialistas, com pessoas mais comprometidas, e percebemos que o setor precisa amadurecer junto.

Não adianta algumas pessoas estarem conscientes das ações que devem ser feitas. Estamos falando de algo estrutural, do patriarcado que vem de séculos e que a gente está tentando, de alguma forma, fazer uma transformação que seja acolhedora por todas as partes.

É possível estimar qual a participação feminina na mineração em Minas?
Não temos o número de Minas. Em relação ao país e ao restante do mundo, os números são muito variados. Na América Latina, o Brasil lidera na participação de mulheres, resultado do nosso trabalho intenso. No Peru por exemplo, a participação ainda está na casa de um dígito somente , ficando em menos de 10%. No mundo varia pouco dentro dos novos números apresentados pelo WIM, cerca de 21%. Ainda temos muito trabalho a fazer. 

Minas Gerais foi palco dos maiores tragédias da história da mineração. Os desastres em Mariana e Brumadinho deixaram lições?
Muitas lições, que não tiram o papel essencial da mineração para o bem viver da humanidade, mas que exige que se torne cada vez mais segura, responsável e sustentável. E o WIM Brasil acredita que times cada vez mais diversos e inclusivos nos guiarão a este objetivo, trazendo novos olhares para a mineração.

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