'Não queremos vender commodities. Queremos inteligência e inovação’, diz CEO da Orguel
Ancorada no segmento de locação de equipamentos de acesso para a construção civil, empresa tem 25 projetos de inovação ativos e mais de cem entregues nos últimos anos, calcula Sérgio Guerra

A Orguel segue em ritmo de crescimento. Em 2024, a empresa registrou expansão de 15% no faturamento e, para 2025, projeta mais 10%. O que tem impulsionado esse desempenho, segundo o CEO Sérgio Guerra, é a prioridade dada à inovação, afinal, o jeito de construir tem se transformado em busca de mais sustentabilidade e eficiência.
Atualmente, a empresa tem 25 projetos de inovação em andamento, voltados principalmente à modernização das operações e à ampliação da presença nos mercados de petróleo, gás e agronegócio. O investimento neles soma mais de R$ 20 milhões. Desde 2018, são mais de cem projetos concluídos, conta Sérgio Guerra.
Nesta entrevista, o empresário revela um pouco mais sobre os planos da empresa, que está completando 63 anos em 2025 e segue movida pelo desejo de inovar e transformar o modo como as grandes obras do país são concebidas.
Como o senhor avalia o desempenho da Orguel em 2024 e o que projeta para 2025?
Tivemos um ciclo positivo. Em 2024, nossa receita cresceu 15% e o desempenho da economia no primeiro trimestre deste ano superou nossas expectativas. Isso nos permite olhar para 2025 com otimismo. Apesar de não esperarmos um crescimento excepcional, acreditamos em uma leve aceleração da economia, impulsionada por um grande volume de obras e projetos em andamento. Nossa previsão é de um crescimento em torno de 10% em 2025, sustentado por investimentos em equipamentos para locação, modernização do parque fabril e melhorias em nossas unidades.
Qual é exatamente o principal tipo de negócio da Orguel?
Hoje, 25% do nosso negócio vem da fabricação e venda de equipamentos de acesso, como andaimes convencionais e multidirecionais, fôrmas e escoramento metálico, além de plataformas aéreas. E 75% vem da locação de equipamentos. E, mais do que isso, somos uma empresa mineira fundada em 1963 com o propósito principal de fornecer soluções de acesso para diversos setores, como construção civil, petróleo, gás, mineração, indústria e agronegócio. Nosso diferencial está em entregar soluções completas e customizadas, de maneira mais eficiente, econômica e segura possível.
Como a guerra comercial iniciada pelo novo governo dos EUA, especialmente com a taxação do aço, pode impactar os negócios da Orguel?
No curto prazo, não prevemos impactos diretos, já que o aumento do custo de importação do aço afeta principalmente as empresas americanas. No entanto, as siderúrgicas brasileiras, essas sim, podem enfrentar grandes desafios. É uma situação sensível que precisa ser acompanhada com cuidado, pois o governo americano e os demais players globais continuam se movimentando. É um cenário muito dinâmico e precisamos de mais tempo para entender os reais desdobramentos e consequências para o mercado.
Como o senhor avalia o cenário atual da construção civil no Brasil? Quais são os principais desafios do setor?
O setor de construção enfrenta desafios importantes, especialmente a escassez de mão de obra qualificada e o aumento dos custos de produção. Para se ter uma ideia, até mesmo em países super populosos como a Índia há dificuldades para contratar profissionais. É uma questão global que as empresas enfrentam. Além disso, a política econômica brasileira, com juros elevados, também trava o crescimento do setor.
Como superar esses desafios? A inovação pode ser uma solução?
Sem dúvida, a inovação é um caminho necessário. Vai ser imperativo evoluir os métodos construtivos. Novas tecnologias, a exemplo da Inteligência Artificial, estão revolucionando todos os setores da indústria e precisamos acompanhar essa transformação. O setor de construção inovou pouco nos últimos anos e, talvez, seja um dos mais atrasados. Então, precisamos estar atentos às tendências globais, especialmente nos mercados da Europa e dos Estados Unidos.
Como a Orguel tem ajudado a impulsionar a inovação no setor?
Não queremos vender commodities. Queremos agregar inteligência e inovação aos nossos produtos e serviços. De 2018 para cá, já entregamos mais de cem projetos de inovação. E, atualmente, temos 25 projetos de inovação ativos. A inovação está no DNA da Orguel.
Quanto a empresa investirá em inovação este ano?
Para 2025, planejamos investir cerca de R$ 20 milhões em inovação. Isso inclui o incentivo ao uso de inteligência artificial em diversas áreas, a implementação de impressoras 3D para criar protótipos tridimensionais e a automação de processos. Além disso, estamos estruturando um laboratório de inovação para impulsionar ainda mais nossas pesquisas e desenvolvimento. O parque fabril, localizado em Vespasiano, possui processo produtivo robotizado, de alto nível tecnológico e com processos totalmente automatizados.
Poderia citar uma grande obra em que a Orguel esteve envolvida?
Participamos de diversas obras pelo país, incluindo a construção da Ponte da Integração Brasil-Paraguai e a manutenção da Terceira Ponte, no Espírito Santo, sem contar uma das maiores obras brasileiras dos últimos tempos, a Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Outro exemplo marcante foi a obra da ponte Hercílio Luz, em Florianópolis (SC), que ficou parada por muitos anos e, com nossa tecnologia, conseguimos viabilizar a retomada dos trabalhos.
Que técnica específica foi utilizada para a manutenção desta ponte?
O Sistema de Acesso Suspenso QuikDeck. A manutenção de pontes e viadutos evoluiu significativamente nos últimos anos. Métodos tradicionais que exigiam bloqueios prolongados no trânsito estão sendo substituídos por tecnologias avançadas, como o QuikDeck, de uso exclusivo da Orguel, que possibilita reparos mais rápidos e seguros, reduzindo transtornos para motoristas e a população. O QuikDeck permite o trabalho em uma plataforma robusta, com piso totalmente plano, estável e rígido, sustentado por correntes e sem a necessidade de apoio no solo. Sua estrutura modular e suspensa suporta grandes cargas e se adapta a diferentes necessidades, sendo facilmente configurada em novos formatos e tamanhos.
A Orguel sempre teve uma relação forte com o setor de construção. Mas como está o desempenho da empresa em outros segmentos?
Historicamente, o setor de construção sempre foi nosso principal mercado. Contudo, devido ao nosso reposicionamento estratégico e investimentos em inovações e soluções de engenharia, conseguimos crescer 9,1% nos segmentos estratégicos de petróleo, gás e agronegócio, que hoje já representam 39,5% do nosso faturamento. Nossa meta é alcançar 55% até 2030.