ENTREVISTA

‘Projetos sociais e feiras democratizam o acesso aos livros’, diz Cristina Figueiredo, da Fliti

Com a presença dos imortais Ruy Castro e Heloísa Teixeira, Feira Literária de Tiradentes chega à 4ª edição exaltando autores e incluindo a população local

Ana Paula Lima
apaula@hojeemdia.com.br
Publicado em 23/10/2023 às 06:00.
Cristina Figueiredo, idealizadora da Feira Literária de Tiradentes - Fliti (Divulgação)

Cristina Figueiredo, idealizadora da Feira Literária de Tiradentes - Fliti (Divulgação)

Com a expectativa de receber 20 mil visitantes-leitores em cinco dias e a missão de popularizar o acesso aos livros, a Fliti, Feira Literária de Tiradentes, acontece esta semana na cidade histórica. De 25 a 29 de outubro, turistas e moradores – que, sim, são parte fundamental do projeto – serão os convidados de uma programação gratuita que promete levar 80 escritores ao município de apenas 7.744 habitantes, distante 190 quilômetros de Belo Horizonte. Por trás do evento está Cristina Figueiredo, administradora de 55 anos que há 23 é empresária nos ramos cultural e literário. Nesta conversa com o Hoje em Dia, Cristina fala do alcance da Fliti, que chega à quarta edição, da importância da literatura e da homenagem a Fernando Sabino, que completaria 100 anos em 2023.

Como e com que objetivo surgiu a Fliti? Como é, hoje, o formato da feira?

Não havia nenhum evento literário na cidade de Tiradentes e, então, idealizei a Fliti, que se consolidou como um evento de relevância cultural para a cidade e de grandes transformações socioculturais. Uma cidade que está diretamente ligada à cultura e a história não pode deixar de realizar uma feira literária, uma vez que literatura e história andam juntas. A Feira Literária de Tiradentes - Fliti veio para abrilhantar ainda mais a história dessa linda cidade, aproximando os tiradentinos dos escritores locais, valorizando assim a literatura produzida em Tiradentes e nos arredores e, ainda, possibilitando a venda de livros a preços promocionais.

A 4ª Fliti conta com duas arenas literárias, pelas quais passarão mais de cem personalidades do mundo literário, que vão de escritores, jornalistas e roteiristas a ilustradores e músicos. Teremos também o espaço ônibus-biblioteca, onde os visitantes terão um contato direto com os livros e onde os tiradentinos poderão fazer empréstimos de livros gratuitamente. E, em homenagem ao centenário do escritor Fernando Sabino, mesas que tratarão sobre suas obras, além da exposição “Fernando Sabino – 100 anos” e da exibição de filmes e documentários sobre esse grande ícone da nossa literatura. Haverá, ainda, espaços instagramáveis onde todos os visitantes poderão fazer suas fotos e vídeos e, assim, terem lembranças inesquecíveis da Fliti. Será uma edição imperdível!

Quem é o público atual da Fliti?

A Fliti conta com um público amplo e diversificado, que abrange as cidades circunvizinhas e até mesmo outros estados, mas nosso principal objetivo é possibilitar que os tiradentinos estejam na Fliti. Há muitos eventos em Tiradentes, e a grande maioria é inacessível aos moradores da cidade, que ficam restritos apenas às colaborações. Contudo, a Fliti deseja que os tiradentinos participem como visitantes, como ouvintes, que tenham contato com os escritores e com as livrarias. Tanto os moradores quanto os estudantes das escolas tiradentinas, inclusive as rurais. É por isso que temos um evento totalmente gratuito e com vendas de livros a preços promocionais.

A última edição da pesquisa Retratos da Leitura, divulgada no ano passado, mostrou que 45% dos entrevistados gostavam um pouco e 31% gostavam muito de ler. Isso dá 76%, ou seja, pela proporção, a cada dez pessoas pelo menos sete têm algum prazer na leitura. Como você vê, na prática, a relação do brasileiro com os livros?

Na era tecnológica, o contato com o livro digital facilitou muito a questão da leitura no dia a dia do brasileiro, que pode lançar mão dessa ferramenta no traslado de casa para o trabalho e vice-versa. Contudo, adquirir um livro não é algo barato. Comprar livros no Brasil é caro e isso contribui para que poucas pessoas tenham o hábito de ler, principalmente as pessoas que moram em áreas carentes que não têm a presença de uma biblioteca pública. E, por isso, os projetos sociais de leitura e as feiras literárias são importantes para a facilitação e a democratização do acesso aos livros.

Leitura é um hábito? Dá para melhorar? Como?

Acredito que sim! Ler é um hábito que deve ser sempre estimulado, principalmente em relação às crianças, que devem ter o contato com os livros ainda na tenra idade. Ler um estilo literário que dê prazer, uma temática que cative, é uma ótima forma de incentivar um leitor. Falando dos adolescentes, os mangás e animes são um porta de entrada importantíssima na formação desses leitores e deve ser explorada pelos pais, pelos professores, por projetos sociais, pelas feiras literárias que podem alcançar e formar leitores em potencial. 

A feira está na quarta edição e este ano faz uma homenagem a Fernando Sabino. De onde veio a ideia?

A ideia surgiu de uma conversa, um “Encontro Marcado”, parafraseando o livro de sucesso de Fernando Sabino, com Bernardo Sabino, filho de Fernando, e que falou sobre o centenário de seu pai que seria comemorado agora no dia 12 de outubro. Sabendo da importância de Fernando Sabino no cenário literário nacional e, principalmente, em Minas Gerais, homenagear o seu centenário foi uma oportunidade ímpar que a Fliti teve de celebrar a escrita desse grande autor, valorizando suas raízes e a qualidade de sua obra. O espaço urbano e as conversas bem-humoradas sempre fizeram parte da escrita de Sabino, com grande presença em suas crônicas, e toda essa leveza pode e será encontrada nos espaços da 4ª Fliti.

Praticamente um mês após a Fliti acontece a Festa Literária Internacional em Paraty, evento que reúne vários escritores e leitores, também numa cidade histórica. As propostas não são concorrentes? Como disputar público com um evento já consagrado no calendário nacional? 

Acredito que não podemos falar em concorrência quando estamos tratando de um evento literário. Vivemos em um país de dimensões continentais, as cidades são de estados distintos e também grandes em quantidade populacional. Tem espaço para todo mundo! As propostas da Fliti e da Flip são diferentes, mas ambas cumprem o seu papel de promover e celebrar a literatura. Todos trabalhamos, cada um com suas especificidades, para que a literatura seja cada vez mais difundida, para que o hábito de ler seja incentivado e para que a cultura seja valorizada em nosso país.

Nas três edições anteriores da Fliti, o que mais te surpreendeu? Tem alguma história curiosa para contar?

O crescimento exponencial da Fliti, tanto em número de visitantes quanto em participação de personalidades e editoras, é algo muito surpreendente. As duas primeiras edições foram feitas ainda durante a pandemia, em uma forma ainda muito reduzida. Vê-la quatro anos depois ocupando um novo espaço e fazendo parte do cronograma de eventos da cidade, sendo aguardada por todos é, sem dúvidas, surpreendente!

O que a edição 2023 da Fliti tem de novidade em relação às anteriores?

A grande novidade é a realização da Fliti em um novo espaço, que é a Praça da Rodoviária. Um lugar que, aos olhos da população tiradentina, tornou o evento mais visível e mais acessível a todos. Temos também a presença confirmada de dois imortais da Academia Brasileira de Letras, os escritores Ruy Castro e Heloísa Teixeira, o que eleva ainda mais o nível cultural e literário da feira, tornando-a ainda mais robusta, sem contar os grandes nomes da literatura nacional que também confirmaram presença e estarão na 4ª edição da Fliti falando sobre suas obras e sobre temáticas caras a todos os que veem na literatura uma fonte de conhecimento, de resistência e de transformação.

Serviço

4ª Fliti - Feira Literária de Tiradentes

De 25 a 29 de outubro

10h às 20h

Praça da Rodoviária - Rua Custódio Gomes, 11 - Centro Histórico -Tiradentes 

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