Do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, no interior paulista, o candidato à Presidência da República Aécio Neves (PSDB) agradeceu ontem o apoio da candidata derrotada Marina Silva (PSB) e disse que a adesão dela leva a candidatura tucana a um “novo momento”.

“Hoje vou iniciar as minhas palavras agradecendo, de forma muito sincera, a manifestação que acaba de ocorrer em São Paulo, de Marina Silva, em apoio à nossa candidatura. Marina representa o sentimento de uma parcela muito expressiva da população brasileira que quer voltar a acreditar na política como instrumento de transformação”, disse ele.

Aécio foi informado anteontem à noite por Marina, via telefone, de sua decisão. “A chegada de Marina constrói aquilo que é essencial, um novo momento da nossa candidatura. De forma definitiva, com a chegada de Marina, dos seus valores, amor ao Brasil e história de vida, a minha candidatura não é mais a candidatura de um partido ou de uma aliança partidária. É uma candidatura que representa o profundo sentimento de mudança que hoje se alastra pela sociedade. Saberei conduzir essa bandeira com dignidade, retidão e coragem porque o que está em jogo não é a eleição de um candidato e a derrota de outra. É algo muito mais valioso, a possibilidade de o Brasil se reencontrar com seu próprio futuro”, afirmou o tucano.

O presidenciável não descartou um encontro nos próximos dias para retribuir o gesto de Marina. Mas disse que, por enquanto, não há nada marcado. Aécio evitou comentar se a ex-senadora terá alguma participação na campanha do segundo turno. “Não cabe a mim solicitar absolutamente mais nada (a ela)”, disse.

Aécio não chegou a temp o para acompanhar a missa de comemoração do dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, em Aparecida. A celebração começou às 9 horas, mas, por conta de más condições do tempo, o avião do candidato não pôde decolar do Rio de Janeiro na hora marcada.
Segundo o bispo auxiliar de Aparecida, dom Darcy José, a presidente Dilma Rousseff foi convidada para a missa, mas ela alegou incompatibilidade de agenda para justificar a ausência.

No programa eleitoral que foi ao ar ontem à noite, Aécio voltou a agradecer o apoio de Marina e enfatizou que a ex-ministra não exigiu cargos ou ministérios para aderir a sua candidatura.

Lideranças discordam sobre apoio de Marina

Lideranças políticas mineiras têm diferentes avaliações sobre o apoio da ex-senadora Marina Silva ao candidato à Presidência da República, Aécio Neves (PSDB).

O presidente do diretório municipal do PT, Miguel Corrêa, tentou minimizar o impacto do apoio de Marina ao adversário tucano. “Nossa expectativa é com relação aos eleitores da Marina, as pessoas que votaram nela e que agora podem votar na Dilma Rousseff (PT) porque é a presidente quem tem as melhores propostas e condições de presidir o Brasil”, disse. Segundo ele, “foi-se o tempo em que voto tinha dono”.

O deputado federal, Marcus Pestana (PSDB), afirma que Aécio tem características de grandes políticos mineiros, como Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves. “Assim como eles, Aécio está sendo um grande construtor de pontes. Essa é uma característica da política mineira, transformar a confluência em clima de convergência” disse. Pestana afirma que Dilma propõe uma caricatura de uma nova luta de classes dividindo com objetivos “mesquinhos e eleitoreiros”, pobres e ricos, sudeste e nordeste. “Aécio procura a união de todas as pessoas de bem e a favor das mudanças necessárias do Brasil”, declarou.

Para o deputado do PSDB, o apoio da acreana reforça a necessidade de mudança em direção a uma nova cultura política e uma nova concepção de Estado e sociedade. “Junto com Eduardo Jorge (PV), Pastor Everaldo (PSC) e com o PSB, Aécio visa dar um basta na corrupção, na ineficiência, no aparelhamento do governo e na velha cultura política das mentiras e calúnias com objetivos eleitoreiros”, concluiu.

O presidente do PSB em Minas, Júlio Delgado disse que a decisão de Marina vai de encontro com a decisão do partido.
“As propostas de Eduardo Campos e as exigências de Marina se encaixam perfeitamente com o programa de Aécio”, justificou Delgado.

Para o cientista político Paulo Roberto Figueira, é inegável que a declaração de Marina soa como uma boa notícia para a campanha tucana. No entanto, ele não acredita em migração de mais votos para Aécio. “A declaração da Marina significa mais um reforço de uma posição do que criar novos fatos”, analisa.

Na sua avaliação de Figueira, se o apoio é bom para Aécio, não se pode dizer o mesmo em relação à própria Marina. “O discurso dela era de que representava a terceira via, diferente da polarização entre PT e PSDB. E uma parcela progressista de seus eleitores pode não receber bem esse apoio a Aécio. Certamente, Marina será cobrada no futuro”, acredita.
 

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