Baseado em livro de escritora mineira, 'Cinderela Pop' será lançado no dia 28

Paulo Henrique Silva
11/02/2019 às 09:19.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:29
 (Riva Moreira)

(Riva Moreira)

Depois de assistir aos filmes da série estrelada pelo bruxinho Harry Potter, a escritora mineira Paula Pimenta não conseguia ver mais o personagem sem o rosto do ator Daniel Radcliffe. O mesmo não acontece quando ela é a autora das histórias originais. Com o filme “Cinderela Pop” prestes a estrear, no próximo dia 28, Paula ainda consegue enxergar a Cintia Dorella da época em que foi criada, no livro homônimo lançado em 2015. “Não perdi aquela imagem. Ela continua marcante em minha cabeça, apesar de a personagem do filme estar muito próximo dela”, registra a escritora, um dos nomes mais fortes da literatura infantojuvenil brasileira atual.

Protagonizado por Maisa Silva, “Cinderela Pop” é a primeira das muitas adaptações para a telona da lavra de Paula Pimenta. Em entrevista ao Hoje em Dia, ela adianta a produção de dois longas-metragens, baseados em “Princesa Adormecida” e “Fazendo Meu Filme”. Dizendo carregar uma “alma adolescente”, a escritora explica o acompanhamento passo a passo destas transposições, fala deste novo momento do cinema e da literatura infantojuvenil, com maior abertura às protagonistas femininas, e adianta a vontade de fazer livros de suspense.

Você já viu o filme? Como é acompanhar a adaptação de uma história criada por você num trabalho para cinema?
Já vi várias vezes! Foi desafiador, porque sou muito apegada às minhas histórias. Quando se passa para um filme, a gente sabe que irão cortar e adaptar muitas coisas. Inicialmente é algo meio sofrido e é preciso se desapegar, entendendo que não é um livro. Na medida do possível, o resultado ficou muito próximo. Até porque, no livro, a gente lê os pensamentos da personagem. Como fazer isso no cinema? Às vezes, cinco páginas são resumidas em uma imagem (risos). Realmente, tem que ter mudança mesmo. Mas é mágico ver os personagens, que só existiam na minha cabeça, tomando forma, ganhando a interpretação de atores, alguns deles muito próximos do que eu pensava.

Você teve a palavra final sobre o roteiro?
Sim, fiz questão de pôr no contrato, porque, como leitora, eu sofro muito quando o livro que gosto é adaptado para o cinema e estragam a história. Não queria que isso acontecesse com os meus livros. Fiz questão de tomar conta de tudo. A primeira versão do roteiro que me enviaram, não gostei. Retornei com centenas de considerações. Depois voltou para mim um pouco melhor, e falei mais coisas. O processo foi demorado, até eu ficar satisfeita com o roteiro. O elenco também passou por minha aprovação. A Maisa, que foi a primeira que pensaram para o papel, aceitei de imediato, pois ela é superanimada e alto astral, no estilo da personagem, além de gostar de música, como ela. Outros já não aprovei, mas respeitaram a minha opinião. Foi assim também com a trilha sonora. Nas filmagens, eu fui nas duas primeiras semanas (foram quatro, ao todo). A Maisa já tinha lido o livro e estava muito empolgada. Já os atores mais velhos, como a Fernanda Paes Leme e o Marcelo Valle, me procuraram para saber um pouquinho mais, sobre o que estava por trás dos personagens. Como algumas coisas não entraram no livro, eles queriam ir mais a fundo.

“Cinderela Pop” faz parte de uma série de livros sobre princesas publicada pela Galera/Record. “Princesa Adormecida” e “Princesa das Águas” também serão levados para o cinema?
 Sim. “Princesa Adormecida” está em pré-produção e deverá ser filmado em setembro. Já aprovei o roteiro e o elenco. Será feito pela mesma produtora de “Cinderela Pop”. Por eu não ter gostado das primeiras versões deste, a produtora quis adiantar o quanto antes estas questões, para não ter que mudar muita coisa em cima da hora. O “Princesas das Águas” teve os direitos adquiridos pela produtora também. “Fazendo Meu Filme”, que faz parte de outra série, também está em fase de roteiro. E a curiosidade é que eu sou co-roteirista. É meu primeiro livro, o meu livro preferido, e pedi para escrever o roteiro também.RIVA MOREIRA / N/A

Com a boa recepção a “Fala Sério, Mãe!”, baseado no livro da Thalita Rebouças, que foi visto por mais de 3 milhões de espectadores em 2018, estamos vivendo um momento interessante na produção de filmes para o público infantojuvenil, feitos a partir de livros e não em personagens saídos da TV.
É uma fórmula que dá muito certo, pois você tem livros que foram sucesso de vendas, que já agradaram um punhado de gente. Já é meio caminho andado. E todo mundo pede para transformar em filme o seu livro. Todo mundo tem essa curiosidade de ver o que imaginou na tela de cinema.

Outro aspecto que chama a atenção é o fato de mostrarem meninas como protagonistas, o que não acontecia com frequência no cinema brasileiro. Na literatura, esse protagonismo feminino também é um fenômeno recente – seus livros, quase todos eles, têm garotas à frente das narrativas.
Verdade. Eu lia muito na adolescência e, naquela época, não tinha livros com garotas como protagonistas... Talvez só a “Pollyanna”. Na coleção “Vaga Lume” da editora Ática, muito vendida nas décadas de 80 e 90, os meninos também dominavam. Nos meus livros, há alguns protagonistas masculinos também. No quarto livro da série “Minha Vida Fora de Série”, a história passa a ser narrada por Rodrigo. Em “Fazendo Meu Filme”, tem o Leo. Hoje em dia, não digo que está na moda, mas a literatura está mais centrada no feminismo. No meu caso, a razão está no fato de me identificar com as personagens. Gosto de colocar um tracinho meu em cada uma delas. E é mais fácil falar daquilo que você conhece, escrevendo pelo ponto de vista da adolescente que eu fui um dia. Tento me basear na minha adolescência, mas sem deixar de me atualizar com o que acontece hoje.

“Os autores acham que basta entregar o livro para a editora. Em todos os meus livros, eu divulgo, vou a escolas e dou palestras. Não paro a divulgação. É um trabalho constante. O que fiz no filme da ‘Cinderela Pop’, faço nos livros. Acompanho tudo, dou palpites para que saiam bem feitos”

Em 2017, você fez questão de se casar na Disney. Acredito que tenha sido a concretização de um sonho relacionado à adolescência. E deu tão certo que, depois da cerimônia, virou uma “especialista” no assunto, procurada por muita gente que também queria se casar na terra de Mickey.

Nunca deixei de ser adolescente. Tenho alma de adolescente. Sempre gostei de princesa, meus aniversários eram sempre com temática de princesa. Não sei mais quantas vezes fui à Disney. Se pudesse, iria agora de novo. É o meu lugar preferido. A Ana, da editora Galera, sabia disso quando me chamou para escrever o livro das princesas. Quando ainda namorávamos, meu marido já sabia do meu desejo. Aí fomos pesquisando com familiares e amigos quem poderia ir e vimos que muita gente toparia. E foi mágico. Não me arrependi. Acabei fazendo um vídeo sobre isso, pois estava com os sentimentos muito vivos.

Não basta dizer que será escritora para se tornar uma. E você é um bom exemplo disso. Fez curso na Inglaterra, trabalhou em marketing e publicidade até conseguir ser uma escritora em tempo integral.

Desde criança sempre gostei de escrever. Achava que seria jornalista, mas logo vi que meu prazer não era narrar o fato, mas, sim, realmente contar histórias. Percebi isso quando o meu professor na faculdade me falou que eu tinha feito uma crônica. No meu texto não tinha lead, não tinha o formato jornalístico. Saí e me formei em publicidade. Na época, já tinha lançado um livro de poemas. Aí resolvi fazer um curso de escrita criativa na Inglaterra, onde terminei de escrever “Fazendo Meu Filme”. Compreendi, então, que não queria fazer mais nada na minha vida a não ser escrever. Quando voltei ao Brasil, comecei a procurar editoras. A primeira em que levei queria que eu pagasse R$ 15 mil para publicar... Era 2006, imagina quanto estão cobrando agora?! Na segunda, disseram que o livro era muito grosso para um público adolescente. Falaram que não agradaria a ninguém. Estavam enganados, pois, na época, os livros de Harry Potter já estavam no quinto ou sexto volume, e todos eles mais grossos que meu livro. Na terceira editora, acabou dando certo. A Autêntica não queria inicialmente, mas fui falando que seria uma série e que, no segundo livro, haveria uma intercambista. Sabiam que muitos jovens tinham essa vontade de estudar fora e ficaram interessados. Mas levaram dois anos para publicar. A primeira edição teve mil exemplares e foi totalmente vendida no boca a boca em menos de um ano. Hoje em dia, parece que foi mágica, que nasci escritora, mas não foi assim.

Você pensa em escrever também para o público adulto?
Bom, as minhas leitoras estão crescendo. As que leram o primeiro livro com 15 anos estão hoje com 25. Elas pedem para acompanhar, para eu escrever para outras faixas etárias. Tenho planos, sim. Tenho alguns esboços, mas falta tempo. Há vários livros na frente. Gosto muito de suspense, como as histórias da Agatha Christie. É um campo em que gostaria de me aventurar. 

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