Brasilidade em cada dose: democrática, cachaça vai bem pura, gelada ou drinks

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
08/06/2017 às 17:38.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:59
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Ela está quase sempre envolvida por mitos, como “é forte demais”, “queima a garganta”, “é bebida de homem”. Mas, verdade seja dita, quem nunca experimentou a “branquinha” não sabe o que está perdendo! Único destilado genuinamente brasileiro, a cachaça é uma bebida injustiçada. Afinal, confirmam especialistas (ou cachacier): é versátil, combina com tudo e pode ser apreciada por todos.

Ela é o único destilado do mundo conservado em diferentes tipos de madeiras e não só no carvalho, como acontece com uísque, rum, vinho e até com a cerveja

O jeito certo de degustar é bebericando, aos pouquinhos – assim como se faz com o vinho –, e não entornando tudo de uma vez, costume de muita gente. O motivo, ensina a cachacier e consultora Ana Marta Guimarães Sátyro, é que todas as sensações devem ser exploradas. 

“Leve ao nariz e tire para não arder tanto. Experimente em pequenos goles e deixe a bebida passear pela boca, percebendo todas as características, curtindo o adocicado, a adstringência”, detalha, lembrando que o ideal é servi-la em copo de vidro, tipo taça, de preferência, para que o líquido não seja aquecido pelo calor da mão. 

Maior e mais importante feira de cachaça do mundo, a Expocachaça termina neste domingo (11), em BH; o evento comemora 20 anos e organizadores esperam receber 2 milhões de visitantes

Liberdade

Longe de querer ser limitada quando o assunto é o único destilado 100% tupiniquim e protegido por lei – conforme decreto de 2009, só pode ser chamado de cachaça o aguardente feito de cana, produzido no Brasil –, Ana Marta é enfática ao dizer que cachaça boa é a que agrada o paladar. “O ganho de qualidade de um tempo para cá é algo muito importante, assim como a riqueza do envelhecimento, das possibilidades de madeira. Isso tudo permite harmonizá-la com todos os pratos, da entrada ao cafezinho”. 

Ainda segundo a especialista, não há heresia quando se fala em cachaça. “Quem não tem costume pode experimentá-la gelada, mais licorosa. A bebida fica mais leve na boca e a sensação do teor alcoólico diminui. Também não é proibido usar uma pedra de gelo ou umas gotinhas de água”, avisa. 

A capacidade máxima que os barris devem ter para que a cachaça, armazenada lá por pelo menos um ano, seja considerada envelhecida é 700 litros

Uma para chamar de sua

Autor do blog O Cachacier e um dos maiores degustadores da bebida do país, Mauricio Maia diz que só há três motivos para quem considera impossível gostar do destilado de cana. “Por puro preconceito, por desconhecimento ou por experiência anterior ruim com um rótulo de baixa qualidade”.

Ele ressalta a infinidade de tipos que derivam das madeiras brasileiras. “Há uma gama de aromas e sabores capazes de atender a qualquer paladar. Cada um se traduz em uma característica. Isso sem falar nas variações de tamanho e no tempo de envelhecimento, criando milhares de possibilidades individuais. Não há duas cachaças exatamente iguais”, afirma. 

Mito ou verdade?

Cachaça boa é a amarelinha.
Mito. 
O fato de ser amarelada ou não indica apenas se foi ou não envelhecida na madeira. Quanto ao sabor ser agradável ao paladar, depende muito mais do gosto pessoal do que de outros fatores.

Cachaça artesanal é melhor do que a industrial.
Em termos.
 Qualquer cachaça disponível no mercado com registro e controle do Ministério da Agricultura tem qualidade química controlada e adequada às normas. Qualidade esta que não significa que a bebida possui sabor e aroma agradáveis e complexos. A cachaça industrial é mais neutra e apresenta forte sensação alcoólica. Já as de alambique têm aromas e sabores mais complexos, tendo o álcool como coadjuvante.

Se é cara é boa. 
Mito. 
Preço não é sinônimo de qualidade. Existem várias cachaças acessíveis e de ótima qualidade. O valor no mercado deve ser resultado da oferta, do trabalho e do tempo empenhado na fabricação do produto. 

A cachaça foi criada pelos escravos.
Mito.
O destilado já era conhecido na Europa, nos Açores e Ilha da Maneira, onde se plantava cana-de-açúcar. Já o processo de destilação data da Idade Média e a cultura da cana, de mais de 3 mil anos antes de Cristo. A questão é que a cachaça está presente no Brasil desde o descobrimento da nação.

(Informações do cachacier Mauricio Maia)

 Editoria de Arte

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