A mais emocionante final da Copa do Brasil: relembre a conquista do Cruzeiro em 2000

Alexandre Simões
@oalexsimoes
05/06/2020 às 14:27.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:41
 (Fotos Arquivo/Hoje em Dia)

(Fotos Arquivo/Hoje em Dia)

Neste domingo (7), às 16h, a Rede Globo reprisa a vitória por 2 a 1 do Cruzeiro sobre o São Paulo, em 9 de julho de 2000, que garantiu à Raposa o tricampeonato da Copa do Brasil. Competição disputada desde 1989, ela já teve 31 decisões. Nenhuma com tamanha emoção como a disputada há duas décadas e conquistada pelos cruzeirenses com um gol de Geovanni, de falta, em cima da hora.

Para relembrar aquela conquista, o Hoje em Dia publica o capítulo do livro Rei de Copas, que trata das copas vencidas que mudaram a história do Cruzeiro. E quem fala da conquista da Copa do Brasil de 2000 é Fábio Júnior, justamente quem abriu o caminho para a virada empatando aquele jogo contra o São Paulo.

COPA DO BRASIL 2000

Por Fábio Júnior

O Cruzeiro vivia uma nova realidade em 2000. Era a primeira temporada de parceria com a Hicks, Muse, Tate & Furst Incorporated (HMTF) e dinheiro não faltava na Toca da Raposa. E desembarcaram em Belo Horizonte nomes como o lateral Zé Maria, o zagueiro Cléber e o atacante Oséas, todos vindos do Palmeiras, que estava perdendo o apoio da Parmalat, sem contar o argentino Sorín, comprado ao River Plate, da Argentina, por quase US$ 5 milhões e o colombiano Viveros, que tinha sido um dos destaques da Copa Libertadores do ano anterior pelo Deportivo Cali.Fotos Arquivo/Hoje em DiaEm pé: Sorín, Flávio Tenius (treinador de goleiros), André, Cléber, Donizete Oliveira, Cris e Marcos Paulo. Agachados: Geovanni, Jackson, Rodrigo, Ricardinho, Oséas e Teotônio (massagista)

De início, o cruzeirense imaginou que seria vítima da popular frase: “Dinheiro não traz felicidade”. O time chegou à decisão da primeira edição da Copa Sul-Minas, mas perdeu a final para o América. Foi finalista do Campeonato Mineiro, já com Marco Aurélio substituindo Paulo Autuori no comando da equipe, mas viu o Atlético levantar a taça.

“Não é que você pensasse que ia dar errado aquele time montado pelo Cruzeiro. Mas quando você perde um título, principalmente para um rival, a coisa fica complicada. As cobranças são muito maiores. Além disso, aquele grupo tinha muitos bons jogadores para cada posição. E isso criou uma certa insatisfação em quem ficava no banco. Com a chegada do Marco Aurélio que as coisas começaram a se acertar”, revela Fábio Júnior, que em 2000 voltou ao Cruzeiro depois de uma passagem frustrada pela Roma, da Itália, que um ano antes tinha investido US$ 15 milhões na sua contratação.

Apesar das dificuldades iniciais, Fábio Júnior revela que ninguém jogou a toalha na Copa do Brasil: “O time tinha perdido a Sul-Minas, o Campeonato Mineiro, mas a gente acreditava que podia dar a volta por cima. E a Copa do Brasil ainda estava na sua metade”.
 
Força

A força que o grupo precisava, segundo o atacante, veio da classificação em cima do Botafogo, nas quartas de final, logo após a perda do título estadual: “A gente sentia que a torcida tinha perdido a confiança, pois no primeiro jogo o Mineirão ficou vazio. E demos uma bobeira, pois abrimos 3 a 0, mas permitimos que eles marcassem dois gols. O jogo de volta, no Maracanã, foi muito difícil, sofrido, mas seguramos o 0 a 0 e fomos à semifinal. Aí já era outra história e nessas horas sabemos que o Cruzeiro cresce”.

O Santos, apesar de contar com jogadores como Carlos Germano, Rinón, Valdo e Dodô, entre outras estrelas, foi superado até com facilidade. Desafio mesmo estava por vir na decisão, como relata Fábio Júnior: “O São Paulo tinha uma grande equipe. Eram vários jogadores de Seleção Brasileira e ainda com o comando do Raí. Quando seguramos o 0 a 0 lá no Morumbi, ficamos com a certeza de que o título estava mais próximo. Mas sabíamos que o jogo do Mineirão seria difícil, pela qualidade da equipe deles”.

E o jogo do Mineirão foi mais que difícil, foi sofrido. Empate com gols dava o título ao São Paulo, que abriu o placar aos 29 minutos do segundo tempo, numa cobrança de falta de Marcelinho Paraíba. A reação de Fábio Júnior foi uma profecia: “Estava no banco de reservas. Naquele momento do gol, por incrível que pareça, falei com o Marco Aurélio que a gente ia virar o jogo. Logo em seguida ele me colocou em campo. A primeira impressão poderia ser de que não dava mais, mas estava tão motivado, concentrado naquele jogo, que o primeiro pensamento meu foi de virada. Quando fui entrar ele disse: "– Vai lá, faz o que tem de fazer, e vira esse jogo para a gente".

E com cinco minutos em campo, Fábio Júnior começou a ajudar na concretização da sua profecia, numa jogada que ele mesmo descreve: “A jogada começou com o Ricardinho, que tocou para o Müller. Eu estava entrando pela direita e recebi o passe. Chutei cruzado, rasteiro, no único lugar onde a bola poderia passar. Quando entrei naquele jogo, só pensava em atacar e fazer o gol. Corri na rede, peguei a bola, corri para o meio-campo. Gritava com o pessoal em campo que a gente ia virar. Eu sentia aquilo”.

E Fábio Júnior imaginou que a virada aconteceria quando Geovanni aproveitou uma saída de bola errada da defesa do São Paulo e arrancou em direção à área: “Na hora em que o Geovanni arrancou e passou pelo Rogério Pinheiro, vi que ele ia sair na cara do gol. Na hora da falta, me deu um desânimo, pois falta você nunca sabe o que pode acontecer. Se a jogada tivesse seguido, a chance de o Geovanni marcar era enorme, pois ele estava em velocidade e o Rogério Ceni não ia ter muito o que fazer”.

Mas a falta tornou apenas mais dramática a profecia de Fábio Júnior. Um sofrimento que começou ainda na formação da barreira, uma das mais bagunçadas da historiado futebol brasileiro: “Estava no meio daquela confusão. O Müller foi conversar com o Geovanni e, sinceramente, não sei até hoje o que eles conversaram. Dizem que o Müller mandou elem chutar por baixo. Nós ficamos encarregados de ficar no meio do tumulto. Na verdade, quem empurrou todo mundo ali mesmo foi o Donizete Oliveira. Desequilibrou todo mundo. Aquele empurrão, sem dúvida, ajudou a bola a passar”.Cruzeiro e São Paulo fizeram em 2000 a final mais emocionante da história da Copa do Brasil, com o gol do título cruzeirense sendo marcado na reta final da partida

 
Virada

A virada estava concretizada, aos 46 minutos do segundo tempo. “Quando vi a bola entrando só queria correr, comemorar. Foi emoção, alegria. A gente sabia que tinha alguns minutos ainda, com o time cheio de atacantes, tinha de fechar lá atrás”, recorda Fábio Júnior, que revela ter ainda passado um grande aperto antes do apito final de Carlos Eugênio Simon.

“Estava no meio de campo, não deu para entender bem o que aconteceu, mas levei um susto que quase me matou do coração, pois parecia que a bola ia entrar. Depois só vi o Clebão dando um chutão na bola e vi que a taça era nossa”, revela atacante.

A alegria que tomou conta do Mineirão é inesquecível, segundo Fábio Júnior, que ainda tem a imagem da festa bem viva na memória: “Eu e o Cris demos umas dez voltas no Mineirão, correndo, sem camisa. O pessoal todo já tinha parado e nós dois estávamos lá, ainda dando volta olímpica”.CLIQUE PARA AMPLIAR

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