A saga da torcida cruzeirense no entorno do lendário La Bombonera

Alexandre Simões e Guilherme Guimarães
ENVIADOS ESPECIAIS
20/09/2018 às 00:05.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:33
 (Fotos/Alexandre Simões)

(Fotos/Alexandre Simões)

BUENOS AIRES - Com uma camisa amarela do Boca Juniors e correndo para servir tanta gente, o garçom Sergio Arian Herrera é um símbolo perfeito do que aconteceu no território cruzeirense no entorno de La Bombonera na noite desta quarta-feira, quando Cruzeiro e Boca Juniors se enfrentaram no lendário estádio na partida de ida das quartas de final da Copa Libertadores.

“Isso faz parte da minha rotina nos jogos das competições internacionais. Quando são jogos nacionais, temos apenas a torcida do Boca. Mas contra equipes internacionais, a entrada deles é justamente por aqui. E nosso bar os recebe bem, mas sem nunca perder sua alma xeneize”, revela Sergio.

Servidos pelo simpático garçom, o casal Bruna Porto e Arthur Siqueira eram personagens da ocupação de um reduto xeneize pelos cruzeirenses.
“Está tudo muito tranquilo até agora. Não viemos nos ônibus escoltados pela polícia, mas não tivemos dificuldades. E o bar é bem característico do local”, revela Bruna, com certeza contagiada por um estabelecimento que respira futebol.

Mais adiante, a paraguaia Cinthia Gonzalez dá um jeitinho brasileiro para atender a um grupo de cruzeirenses. Quase na varanda da sua casa, uma churrasqueira lotada de linguiça garante o tira-gosto de quem bebe uma cerveja numa área onde já é proibido o consumo de álcool.

Cinthya faz da varanda da acanhada casa, próxima de La Bombonera, um bar em que os visitantes têm a chance de beber a "proibida" cerveja e comer um churrasco argentino

“Tenho prazer em servir as pessoas. E preciso muito do dinheiro que toda essa gente me fornece. Tenho dez anos de Argentina, sempre morei aqui e faço da varanda da minha casa um local onde as pessoas, podemos dizer, se aquecem para os jogos”, afirma Cinthia.

No cruzamento das ruas Suarez e Palos, uma esquina pouco badalada do famoso bairro de La Boca, na Zona Portuária de Buenos Aires, foi colocado a maior parte do efetivo policial que fez a segurança da torcida cruzeirense e que promoveu a revista antes que eles ganhassem os dois quarteirões finais que davam acesso ao portão de entrada de La Bombonera.

Por das 19h, o cruzamento onde ficou o efetivo policial que revistou a torcida cruzeirense ainda era marcado pela tranquilidade

Neste local, Henrique Gomes precisa explicar aos policiais o que significa o cartaz que carrega: “Minha esposa está no Brasil. E disse que só me deixaria vir a Buenos Aires se trouxesse um cartaz para ela me achar na torcida. Preciso entrar com ele”.

Como testemunha, tem os amigos Tadeu Ferreira e Rodrigo Ferreira. “A Michele (esposa de Henrique) só liberou ele com a condição de fazer o cartaz”, revela a dupla que se diverte com a história do amigo.

Henrique, de boné, segura o cartaz que prometeu à esposa com os amigos Tadeu e Rodrigo 

O tempo vai passando e eram pouco mais de 21h quando a tranquilidade do local é quebrada. Os 19 ônibus que levavam a torcida cruzeirense, sendo que dois deles vieram de Belo Horizonte e outros 17 partiram de Puerto Madero escoltados pela polícia argentina, chegaram às proximidades de La Bombonera.

A ansiedade era grande para ganhar o lendário estádio, mas neste momento o cruzamento entre as ruas Suarez e Palos perde a tranquilidade que reinava até então. Nada demais, tirando a prisão de um argentino que havia se infiltrado na torcida cruzeirense. Ali é a barreira da revista policial e os torcedores são liberados aos poucos.

Bloqueio da torcida argentina impede que torcedores cruzeirenses avançem pela rua Suarez, que dava acesso ao portão de entrada dos visitantes em La Bombonera

Nos três quarteirões da rua Palos percorridos do local onde ficaram os ônibus cruzeirenses até o ponto da revista, o entorno de La Bombonera percorrido pela China Azul conheceu as músicas cantadas no Mineirão.

A empolgação era grande. E justificada. Afinal, não é toda dia que se tem a chance de acompanhar seu time num dos palcos mais tradicionais e encantadores do mundo, mesmo que para isso tenha-se que vencer alguns dos perigosos quarteirões que contornam o estádio do Boca Juniors.

Mas o programa não terminou com festa. Muito pelo contrário. Os 2 a 0 do Boca Juniors, com gols de Zarate e Pablo Perez, deixam o Cruzeiro muito distante da vaga nas semifinais da Copa Libertadores que será decidida dia 4 de outubro, no Mineirão. E transformam em pesadelo o sonho que os cruzeirenses esperavam viver no lendário La Bombonera.

O final da experiência da torcida cruzeirense em La Bombonera foi com o estádio vazio e em silêncio. O sonho de uma vitória no histórico estádio do Boca Juniors não se concretizou 

  

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