Acirramento político no Cruzeiro vira problema no Conselho Gestor, que pode perder mais membros

Guilherme Piu
@guilhermepiu
08/01/2020 às 22:09.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:13
 (Bruno Haddad/Cruzeiro)

(Bruno Haddad/Cruzeiro)

Bruno Haddad/Cruzeiro

Trabalho não falta nos bastidores do Cruzeiro, inflamandos pelos inúmeros problemas financeiros e jurídicos, tanto na área administrativa quanto no departamento de futebol. Além disso, a situação política coloca ainda mais fogo no clube, e se torna um grande entrave para a sequência de trabalho do Núcleo Dirigente Transitório.

A mais recente polêmica coloca no centro da discussão a permanência do supervisor administrativo Benecy Queiroz em seu cargo. Uma das figuras mais conhecidas nos corredores do Cruzeiro por ter mais de 45 anos de serviços prestados, "Bené", como ele é chamado por muitos, virou alvo de protesto dos torcedores. 

O pedido orquestrado pelo grupo intitulado "Nascidos Palestra Forjados Cruzeiro 1921" ganhou as redes sociais na última terça-feira, principalmente com a divulgação da notícia de que Benecy Queiroz havia participado da importante reunião com os empresários do zagueiro Dedé. E essa onda de protestos incomodou alguns integrantes do Conselho Gestor.

De acordo com informações recebidas pelo HD, há dentro do Conselho de Notáveis quem apoie a permanência de Benecy Queiroz e o coloque como "intocável" mesmo com a pressão que vem de fora. Tudo isso pela longa relação de amizade que existe entre o próprio Benecy e quem tem agido como um "escudo" para o dirigente. 

A permanência de Benecy Queiroz foi, ainda segundo informações recebidas pela reportagem, um dos motivos que acelerou o desligamento do CEO Vittorio Medioli, que desejava retirar todos os dirigentes ligados à diretoria anterior, mas não teve apoio em massa para tal. Além das questões legais por conta das atribuições do empresário, atual prefeito de Betim, os "conchavos políticos" escancararam uma certa divisão no "coração" do Conselho Gestor.  

Em carta divulgada recentemente em sua coluna dominical no jornal O Tempo, intitulada "recomeçar do zero", Medioli criticou o estatuto do Cruzeiro e disse que as regras que ditam o funcionamento do clube atendem interesses. 

"O estatuto do clube é um conjunto Frankenstein de regras que atendem interesses miúdos, mesquinhos e de dominação de grupos. Não atendem a grandeza e solidez de suas finalidades. Privilegia mais o incompetente que se preste a atender interesses inconfessáveis de um estreito grupo. A reconstrução do Cruzeiro passa inevitavelmente pela elaboração de um estatuto coerente e alinhado com a realidade", diz parte da coluna.

Fontes afirmam que a continuidade dessa "vulcânica política" e as várias manobras que acontecem nos bastidores do clube poderão promover mais saídas do núcleo que tem gerido essa reconstrução do Cruzeiro.

Inclusive, até a chegada de Alexandre Mattos gerou desconforto entre membros do Núcleo Dirigente Transitório e foi também estopim para a saída de Medioli. 

Mandato tampão

No meio de tanto turbilhão será preciso que o presidente interino José Dalai Rocha, junto da mesa diretora do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, organize o próximo pleito para eleger o presidente que dirigirá o clube entre junho e dezembro de 2020.

Há uma corrente que trabalha para que haja apenas um candidato para assumir esse "mandato tampão". Tudo para evitar mais uma briga política, cenário desde a última eleição, responsável por criar à "Família União" (correligionários de Wagner Pires de Sá) e uma oposição liderada por Gustavo Gatti, Gilvan de Pinho Tavares e o candidato derrotado no último pleito eleitoral, Sérgio Santos Rodrigues. 

O nome de Saulo Fróes, atual presidente do Núcleo Dirigente Transitório, tem sido o preferido por uma ala dos cruzeirenses. Mas o próprio Saulo ainda não deu garantias de que aceitaria o desafio, segundo informações que foram repassadas ao HD.

Do lado oposto aos apoiadores do conselho gestor há um grupo que já articula uma oposição e que trabalha para encontrar um candidato. Áudios recentes do conselheiro João José Moreira Neto, o "João Doido", mostram que o próprio membro do Conselho postula essa condição de presindenciável.

João José Moreira Neto ficou conhecido no ano passado por ser um apoiador do ex-presiddente Wagner Pires de Sá e do ex-vice presidente de futebol Itair Machado. 
Membro da "Família União", grupo que alavancou Wagner Pires de Sá ao cargo de presidente, "João Doido" é um crítico de José Dalai Rocha e afirma que o atual presidente interino não poderia estar no cargo. 

"Hoje eu sou candidato à presidência do Cruzeiro. Tem um documento assinado por uma pessoa (Dalai Rocha) que não tem legalidade para estar no cargo, entendeu? Ele me chamou de maluco, mas eu me orgulho pelo apelido de João Doido. Todo mundo sabe, na história do Cruzeiro, todos os presidentes vivos do Cruzeiro, sabem que minha loucura sempre foi pelo Cruzeiro", disse.

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