Adeus a um capitão digno do apelido

Rodrigo Gini
Hoje em Dia - Belo Horizonte
25/10/2016 às 20:59.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:23
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

A seleção do andar de cima ganhou um reforço e tanto, e o mundo do futebol perdeu um símbolo, figurinha carimbada no álbum das lendas do esporte. Alguém que encarnou tão bem o espírito de liderança que se espera de um capitão que foi capaz de se impor num grupo de craques – a Seleção Brasileira tricampeã mundial no México'1970 – merecendo o privilégio de um apelido que não mais o abandonaria (e que outros monstros sagrados como Mauro e Bellini não tiveram direito). O capita Carlos Alberto Torres poderia ser "apenas" o melhor lateral-direito do mundo em sua geração, para muitos o maior da posição em todos os tempos, um dos primeiros a não se limitar às funções defensivas e se aventurar no ataque. Mas foi bem mais do que isso.

Sorriso no rosto na maior parte do tempo, opiniões firmes e diretas de quem tinha personalidade forte, coragem para seguir o companheiro Pelé rumo ao futebol norte-americano; passagens vitoriosas como jogador pelo Fluminense, que o revelou (mais tarde integraria a máquina tricolor, ao lado de Rivellino e Edinho); o Santos, onde marcou 40 gols; o Botafogo, clube do coração e o Flamengo. No New York Cosmos, integrou o time dos sonhos de qualquer amante do futebol do fim da década de 1970, com o Rei, o alemão Beckenbauer, o holandês Neeskens e o italiano Chinaglia.

A combinação entre o talento único e a visão privilegiada, de líder, fizeram da carreira de treinador um caminho obrigatório. Já em 1983, seu primeiro ano, o título brasileiro com o Flamengo, comandando um grupo com vários ex-companheiros de time, como Zico e Júnior. No ano seguinte, levou o Fluminense, de Assis e Washington, ao bicampeonato carioca e, em 1993, levou o Botafogo à conquista da Copa Conmebol. Passou ainda por Corinthians, Náutico e Paysandu, no Brasil; Miami Freedom (EUA), Monterrey,Tijuana e Querétaro (México), Unión Magdalena (Venezuela), Once Caldas (Colômbia) e as seleções de Omã e Azerbaijão.

NO GALO

O currículo ficou marcado ainda pela passagem no comando do Atlético em 1998 – foram apenas três meses e 26 jogos pelo Campeonato Brasileiro, com 12 vitórias e oito empates. Sem estrelismo, sempre disposto à resenha com os jornalistas e preocupado em tirar o melhor de cada jogador – a trajetória acabou interrompida devido a um desentendimento com o então gerente de futebol Toninho Cerezo. Desiludido com os rumos do futebol e sem muitas oportunidades, acabou deixando a função em 2005 – ultimamente era comentarista do Sportv, onde fez sua última aparição pública domingo, falando sobre a 32ª rodada do Brasileirão no programa Troca de Passes.

Entre os vários casos envolvendo Carlos Alberto, um emblemático é do começo da carreira, contado por um colega de Fluminense que à época já era um zagueiro consagrado. Procópio atuou três anos ao lado do lateral, promovido do juvenil para substituir o campeão mundial Jair Marinho, contundido. "Lateral na época não subia, mas eu dizia a ele que podia avançar que nós segurávamos lá atrás. Fizemos uma excursão à Rússia e depois de quatro jogos invictos, nos colocaram para enfrentar a seleção deles, com Yashin e tudo, representando o Brasil, diante de um estádio lotado. Pois o Carlos Alberto marcou o melhor atacante russo, empatamos sem gols – tínhamos também o Castilho no gol – e ainda ganhamos uma semana de folga em Roma como prêmio."

 "Ele não era capitão porque alguém disse que seria, mas porque nós, jogadores, o elegemos. E era o capitão da Seleção tricampeã do mundo, que para muitos é a mais forte da história das copas"
Gérson, companheiro de Carlos Alberto na Seleção do tri

"Fico triste com a morte do meu amigo irmão Carlos Alberto, nosso querido Capita, lembrando dos tempos que estivemos juntos no Santos, na Seleção e no Cosmos, formando uma parceria vencedora. Infelizmente a gente tem que entender isso e que a vida continua"
Pelé

"O grande privilégio de um homem é reverenciar quem se destaca na sua atividade, e eu posso dizer com certeza que joguei ao lado do maior lateral-direito da história"
Procópio, que atuou ao lado do Capita entre 1963 e 66 no Fluminense

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